Os cães ladram mediante o menor movimento. No terreno em declive, várias são as árvores frutíferas com seus rebentos caídos no solo. Existe a presença daquele silêncio fecundo que traz consigo a percepção aguçada de todos os sons do silêncio. Através dele, é possível escutar o som da energia que se manifesta como um zunido nos ouvidos. A pequena colina com seus diversos tons de verde começa a perder sua virgindade por meio das casas em construção. Sobre ela, há uma trilha de aviões que em noites de luar, faz com que se confundam as suas luzes com o reflexo ligeiro das estrelas cadentes. Neste instante em que o sol faz a pele arder, um casal de sabiás, lentamente, percorrem o terreno em busca de alimento. Um delicadíssimo beija-flor, de um verde reluzente, descansa sob a sombra da pequena goiabeira. São vários os tons de verde que dançam ao som do vento. O silêncio seria muito mais fecundo se não fossem as conversas superficiais e o ruído dos carros de corrida pela televisão. Sobre os galhos de um pequeno limoeiro, um casal de amarelas borboletas, entrelaçadas, fazem amor. No solo seco, pequeninas e negras formigas traçam sua trilha. Parece existir uma enorme distância, criada pelo vazio, que faz com que não se manifeste a já um dia vivida comunhão profunda; aquela comunhão onde não há espaços para ilusão de separatividade. E é essa lembrança que vivifica esta sagrada saudade dos momentos de transcendência. É no coração do homem que se encontra a energia necessária para seguir em frente e não se deixar enquadrar por nada, por mais reluzente que pareça ser. É no coração que se encontra a energia necessária para que o homem não sucumba ao sono do consumismo ou de outros estereótipos que prometem falsamente por transcendência. É no coração que se encontra a nascente dessa sacra e perene saudade e também é nele que começa e termina a eterna busca do homem; essa busca que não permite o estacionar e que geme as dores de parto num vazio fecundo. Sagrado vazio que não pode ser saciado por meio de nenhuma forma de satisfação ou distração externa transitória e que é, em última análise, a somatória de todos vazios finitos clamando pela manifestação dessa presença anônima, infinita e inefável. Neste instante, um imenso conjunto de nuvens brancas em flocos fazem sombra sobre o dorso da verde colina.Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.
15 abril 2007
Sagrado Vazio
Os cães ladram mediante o menor movimento. No terreno em declive, várias são as árvores frutíferas com seus rebentos caídos no solo. Existe a presença daquele silêncio fecundo que traz consigo a percepção aguçada de todos os sons do silêncio. Através dele, é possível escutar o som da energia que se manifesta como um zunido nos ouvidos. A pequena colina com seus diversos tons de verde começa a perder sua virgindade por meio das casas em construção. Sobre ela, há uma trilha de aviões que em noites de luar, faz com que se confundam as suas luzes com o reflexo ligeiro das estrelas cadentes. Neste instante em que o sol faz a pele arder, um casal de sabiás, lentamente, percorrem o terreno em busca de alimento. Um delicadíssimo beija-flor, de um verde reluzente, descansa sob a sombra da pequena goiabeira. São vários os tons de verde que dançam ao som do vento. O silêncio seria muito mais fecundo se não fossem as conversas superficiais e o ruído dos carros de corrida pela televisão. Sobre os galhos de um pequeno limoeiro, um casal de amarelas borboletas, entrelaçadas, fazem amor. No solo seco, pequeninas e negras formigas traçam sua trilha. Parece existir uma enorme distância, criada pelo vazio, que faz com que não se manifeste a já um dia vivida comunhão profunda; aquela comunhão onde não há espaços para ilusão de separatividade. E é essa lembrança que vivifica esta sagrada saudade dos momentos de transcendência. É no coração do homem que se encontra a energia necessária para seguir em frente e não se deixar enquadrar por nada, por mais reluzente que pareça ser. É no coração que se encontra a energia necessária para que o homem não sucumba ao sono do consumismo ou de outros estereótipos que prometem falsamente por transcendência. É no coração que se encontra a nascente dessa sacra e perene saudade e também é nele que começa e termina a eterna busca do homem; essa busca que não permite o estacionar e que geme as dores de parto num vazio fecundo. Sagrado vazio que não pode ser saciado por meio de nenhuma forma de satisfação ou distração externa transitória e que é, em última análise, a somatória de todos vazios finitos clamando pela manifestação dessa presença anônima, infinita e inefável. Neste instante, um imenso conjunto de nuvens brancas em flocos fazem sombra sobre o dorso da verde colina.Postagens populares
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Escolho meus amigos pela pupila
Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
Oscar Wilde