Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

26 janeiro 2011

Sobre amizade

Amizade
Tolamente pensamos, em nossos dias de pecado, que devemos cortejar amigos para estar de acordo com costumes sociais, vestimentas e educação, seus julgamentos. Mas apenas poderá ser minha amiga aquela alma que eu encontrar na linha de minha própria marcha, a alma que eu não desaprove e que não me desaprove e, nativa das mesmas latitudes celestiais, repita toda a minha experiência na sua própria. 

(...)

Nada é punido com maior rigor que a negligência para com as afinidades que, sozinhas, deveriam ser responsáveis pela formação da sociedade, e a insana levianidade de escolher companhia pelos olhos dos outros. 

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Reprovo a sociedade, abraço a solidão e, no entanto, não sou tão ingrato a ponto de não ver o sábio, o amável e o de mente nobre quando tempos em tempos eles passam diante de meu portão. Quem me ouve, quem me entende, torna-se meu - uma possessão para todos os instantes. E não será a natureza tão pobre a ponto de não me ofertar esta alegria diversas vezes, de modo que tecemos nossos próprios fios sociais, uma nova teia de relações; e, como diversos pensamentos em sucessão se auto-substanciam, de um momento para o outro nos encontraremos em um novo mundo de nossa própria criação, não mais forasteiros e peregrinos em um globo que nos foi entregue. Meus amigos a mim vieram sem que eu os buscasse. O grande Deus a mim os deu. Pelo mais antigo direito, pela divina afinidade da virtude consigo mesma, eu os encontro, ou melhor, não eu, mas a Divindade que em mim e neles habita suprime e faz ridículas as muralhas espessas do caráter individual - e das relações, da idade, do sexo, das circunstâncias, com as quais ele normalmente conspira - tornando assim um o que era múltiplo. Muitos agradecimentos vos devo, amantes excelsos que levam para mim o mundo a novas e nobres profundezas, e alargam o significado de todos os meus pensamentos.

(...)

A alma cerca-se de amigos para que possa alcançar maior autoconhecimento ou solidão; e ela permanece sozinha por uma temporada, para que possa melhorar sua conversação ou companhia. Este método se mostra ao longo de toda a história de nossas relações pessoais. O instinto para a afeição revive a esperança de união com nossos iguais, e a sensação de isolamento que revém nos faz suspender a busca.

(...)

Procuramos por nosso amigo não de modo sagrado, mas com paixão adulterada, que dele quer fazer nossa posse. Em vão. Somos totalmente armados de sutis antagonismos que, tão logo nos encontramos, entram em jogo e traduzem toda poesia em decomposta prosa. Quase todas as pessoas se rebaixam para se encontrar. Toda associação deve ser um compromisso e, o que é pior, a própria flor e o aroma da flor em cada uma das belas naturezas desaparecem quando se aproximam das outras. Que perpétuo desapontamento é a sociedade real, mesmo a dos virtuosos e dotados! Depois de encontros terem sido arranjados com grande antecipação, vemo-nos atormentados por explosões abafadas, por súbitas e intempestivas apatias, por convulsões do engenho e dos impulsos vitais, no auge da amizade e do pensamento. Nossas faculdades não nos correspondem, e ambas as partes se sentem aliviadas com a solidão.

(...)

Não desejo tratar amizades com suavidade, mas com a mais áspera coragem. Quando elas são reais, não são lâminas de vidro ou esculturas de gelo, mas a coisa mais sólida que conhecemos. 

Ralph Waldo Emerson

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!