Recicle suas ideias, upload feito originalmente por NJRO.
Todo parasita é um servo; todo mendigo é um doméstico. O faminto pode ser rebelde; mas nunca um homem livre. Uma inimiga poderosa da dignidade é a miséria; ela acaba com os indivíduos vacilantes e incuba as piores servidões. Aquele que atravessou dignamente a pobreza é um exemplo heróico de caráter.
O pobre não pode viver sua vida, tantos são os compromissos da indigência. Redimir-se dela é começar a viver. Todos os homens altivos vivem sonhando com uma modesta independência material; a miséria é mordaça que trava a língua e paralisa o coração. Deve-se escapar de suas garras para escolher o ideal mais alto, o trabalho mais agradável, a mulher mais santa, os amigos mais leais, os horizontes mais risonhos, o isolamento mais tranquilo. A pobreza impõe o compromisso social: o indivíduo se registra numa corporação, tornando-o mais ou menos trabalhador, mais ou menos funcionário, contraindo deveres e sofrendo pressões humilhantes que o empurram para a domesticação.
Os estóicos ensinavam os segredos da dignidade: contentar-se com o que tem, restringindo as próprias necessidades. Um homem livre não espera nada dos outros, não necessita pedir. A felicidade que o dinheiro dá está em não ter que se preocupar com ele. Como o avaro ignora esse preceito, não é livre, nem é feliz. Os bens que temos são a base de nossa independência; os bens que desejamos são a corrente reforçada da nossa escravidão. A fortuna aumenta a liberdade dos espíritos refinados e torna ridículo o simplório. São indignos os que adulam tendo fortuna, que os redimiria da domesticação, se não fossem escravos da vaidade.
Os únicos bens intangíveis são os que acumulamos no cérebro e no coração. Quando faltam, nenhum tesouro os substitui.
A dignidade, anseio de autonomia, leva a reduzir a dependência de outros à medida indispensável, sempre enorme.
José Ingenieros