Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

12 janeiro 2011

Pequeno Tratado sobre Simplicidade Voluntária

Recicle suas ideias, upload feito originalmente por NJRO.

Todo parasita é um servo; todo mendigo é um doméstico. O faminto pode ser rebelde; mas nunca um homem livre. Uma inimiga poderosa da dignidade é a miséria; ela acaba com os indivíduos vacilantes e incuba as piores servidões. Aquele que atravessou dignamente a pobreza é um exemplo heróico de caráter. 

O pobre não pode viver sua vida, tantos são os compromissos da indigência. Redimir-se dela é começar a viver. Todos os homens altivos vivem sonhando com uma modesta independência material; a miséria é mordaça que trava a língua e paralisa o coração. Deve-se escapar de suas garras para escolher o ideal mais alto, o trabalho mais agradável, a mulher mais santa, os amigos mais leais, os horizontes mais risonhos, o isolamento mais tranquilo. A pobreza impõe o compromisso social: o indivíduo se registra numa corporação, tornando-o mais ou menos trabalhador, mais ou menos funcionário, contraindo deveres e sofrendo pressões humilhantes que o empurram para a domesticação. 

Os estóicos ensinavam os segredos da dignidade: contentar-se com o que tem, restringindo as próprias necessidades. Um homem livre não espera nada dos outros, não necessita pedir. A felicidade que o dinheiro dá está em não ter que se preocupar com ele. Como o avaro ignora esse preceito, não é livre, nem é feliz. Os bens que temos são a base de nossa independência; os bens que desejamos são a corrente reforçada da nossa escravidão. A fortuna aumenta a liberdade dos espíritos refinados e torna ridículo o simplório. São indignos os que adulam tendo fortuna, que os redimiria da domesticação, se não fossem escravos da vaidade. 

Os únicos bens intangíveis são os que acumulamos no cérebro e no coração. Quando faltam, nenhum tesouro os substitui. 

A dignidade, anseio de autonomia, leva a reduzir a dependência de outros à medida indispensável, sempre enorme.

José Ingenieros

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!