Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

10 janeiro 2011

Os indivíduos dignos permanecem solitários

O artesão
O artesão, foto por NJRO
Aquele que aspira a ser águia deve olhar longe e voar alto; aquele que se resigna a se arrastar como uma lagartixa renuncia ao direito de protestar se o esmagarem.

A lástima e a ignorância favorecem a domesticação dos indivíduos medíocres adaptando-os à vida mansa; a coragem e a cultura exaltam a personalidade dos excelentes, cobrindo-os de dignidade. O lacaio pede; o digno merece. Ser digno significa não pedir o que merece, nem aceitar o imerecido. Enquanto os servis sobem pelas mazelas do favoritismo, os austeros ascendem pelas escadarias de suas virtudes. Ou não ascendem de nenhuma forma. 

A dignidade estimula toda perfeição do homem; a vaidade incentiva qualquer êxito da sombra. O pão sovado da adulação, que engorda o servil, envenena o digno. Este prefere perder um direito a obter um favor; mil anos parecerão mais leves do que medrar indignamente. Qualquer ferida é transitória e pode doer uma hora; a domesticidade mais leve o atormentaria toda a vida. 

Quando o êxito não depende dos próprios méritos, basta conservar-se erguido, incólume, irrevogável na própria dignidade. Nas disputas domésticas, a obstinada irracionalidade costuma triunfar sobre o mérito sorridente; a pertinácia do indigno é proporcional a seu entorpecimento. Preferem viver crucificados sobre seu orgulho do que prosperar arrastando-se; ao morrer, gostariam que seu ideal os acompanhasse imaculadamente vestido de branco, como se fossem desposá-lo além da morte.

Os indivíduos dignos permanecem solitários, sem exibir nas ancas nenhuma marca de ferro; são como o gado inquieto que afocinha os tenros trevos da campina virgem, sem aceitar a ração dos currais. Se é árido seu prado, não importa; ao ar livre aproveitam mais do que em abundantes cevadas, com a vantagem de que aquele se toma e estas são dadas por alguém. Preferem estar sós, enquanto não puderem reunir-se com seus semelhantes. Cada flor incluída num buquê perde seu próprio perfume. Obrigados a viver entre seres alheios, o digno se mantém alheio a tudo que considerar inferior. 

O homem digno ignora a covardia que dormita no fundo dos indivíduos servis; não sabe desarticular seu cerviz. Seu respeito pelo mérito obriga-o a descartar toda sombra que dele carece, a agredi-la se ameaça, a castigá-la se fere. Quando a multidão que obstrui seus anseios é inofensiva e não tem adversários para bater de frente, o digno se refugia em si mesmo, entrincheira-se em seus ideais e cala, temendo atrapalhar com suas palavras as sombras que o escutam. E enquanto o clima muda, como é fatal na alternância das estações, espera ancorado em seu orgulho, como se este fosse o porto natural e mais seguro para sua dignidade. 

Vive com obsessão de não depender de ninguém; sabe que sem independência material a honra está exposta a muitas manchas, e para adquiri-la suportará os trabalhos mais rudes, cujo fruto será sua liberdade no futuro. Todo parasita é um servo; todo mendigo é um doméstico. O faminto pode ser rebelde; mas nunca um homem livre. Uma inimiga poderosa da dignidade é a miséria; ela acaba com os indivíduos vacilantes e incuba as piores servidões. Aquele que atravessou dignamente a pobreza é um exemplo heróico de caráter. 

José Ingenieros

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!