Aquele que aspira a ser águia deve olhar longe e voar alto; aquele que se resigna a se arrastar como uma lagartixa renuncia ao direito de protestar se o esmagarem.
A lástima e a ignorância favorecem a domesticação dos indivíduos medíocres adaptando-os à vida mansa; a coragem e a cultura exaltam a personalidade dos excelentes, cobrindo-os de dignidade. O lacaio pede; o digno merece. Ser digno significa não pedir o que merece, nem aceitar o imerecido. Enquanto os servis sobem pelas mazelas do favoritismo, os austeros ascendem pelas escadarias de suas virtudes. Ou não ascendem de nenhuma forma.
A dignidade estimula toda perfeição do homem; a vaidade incentiva qualquer êxito da sombra. O pão sovado da adulação, que engorda o servil, envenena o digno. Este prefere perder um direito a obter um favor; mil anos parecerão mais leves do que medrar indignamente. Qualquer ferida é transitória e pode doer uma hora; a domesticidade mais leve o atormentaria toda a vida.
Quando o êxito não depende dos próprios méritos, basta conservar-se erguido, incólume, irrevogável na própria dignidade. Nas disputas domésticas, a obstinada irracionalidade costuma triunfar sobre o mérito sorridente; a pertinácia do indigno é proporcional a seu entorpecimento. Preferem viver crucificados sobre seu orgulho do que prosperar arrastando-se; ao morrer, gostariam que seu ideal os acompanhasse imaculadamente vestido de branco, como se fossem desposá-lo além da morte.
Os indivíduos dignos permanecem solitários, sem exibir nas ancas nenhuma marca de ferro; são como o gado inquieto que afocinha os tenros trevos da campina virgem, sem aceitar a ração dos currais. Se é árido seu prado, não importa; ao ar livre aproveitam mais do que em abundantes cevadas, com a vantagem de que aquele se toma e estas são dadas por alguém. Preferem estar sós, enquanto não puderem reunir-se com seus semelhantes. Cada flor incluída num buquê perde seu próprio perfume. Obrigados a viver entre seres alheios, o digno se mantém alheio a tudo que considerar inferior.
O homem digno ignora a covardia que dormita no fundo dos indivíduos servis; não sabe desarticular seu cerviz. Seu respeito pelo mérito obriga-o a descartar toda sombra que dele carece, a agredi-la se ameaça, a castigá-la se fere. Quando a multidão que obstrui seus anseios é inofensiva e não tem adversários para bater de frente, o digno se refugia em si mesmo, entrincheira-se em seus ideais e cala, temendo atrapalhar com suas palavras as sombras que o escutam. E enquanto o clima muda, como é fatal na alternância das estações, espera ancorado em seu orgulho, como se este fosse o porto natural e mais seguro para sua dignidade.
Vive com obsessão de não depender de ninguém; sabe que sem independência material a honra está exposta a muitas manchas, e para adquiri-la suportará os trabalhos mais rudes, cujo fruto será sua liberdade no futuro. Todo parasita é um servo; todo mendigo é um doméstico. O faminto pode ser rebelde; mas nunca um homem livre. Uma inimiga poderosa da dignidade é a miséria; ela acaba com os indivíduos vacilantes e incuba as piores servidões. Aquele que atravessou dignamente a pobreza é um exemplo heróico de caráter.
José Ingenieros