Neste final de semana, passei em duas das maiores livrarias de São Paulo. Buscava pelo livro "Conduta para a Vida" de Ralph Waldo Emerson. Para minha surpresa, em nenhuma delas havia sequer um exemplar de tal autor. Perguntei a atendente (que nem sabia escrever o nome do autor), quantos livros haviam disponíveis no estoque da rede. Depois de fazer a pesquisa num lento computador, disse-me que constavam apenas 3 exemplares em outras lojas e que os mesmos poderiam estar disponíveis naquele endereço em apenas dois dias. Detalhe: me refiro a uma rede com 33 lojas em São Paulo... Somente 3 exemplares...
Inconformado, para certificar minha desconfiança, perguntei sobre os livros de Krishnamurti. A atendente me perguntou sobre o que "ela" escrevia e como se escrevia o nome dela. Depois de explicado que "ela" é "ele" e soletrado seu nome, recebo a explicação que só havia na loja 1 exemplar do livro "Liberte-se do passado". Perguntei também pelo livro de Albert Camus, "O Homem Revoltado".
- Sr., esse nós temos. Aguarde um momento que já o pego para o Sr.
Enquanto aguardava, fiquei folheando o livro "Capitalismo Parasitário", de Jorge Zahar e Zygmunt Bauman. Quase dez minutos depois, com o olhar bastante sem graça disse:
- Sr., consta no sistema 1 exemplar, mas não consegui encontrá-lo na loja. Se o Sr. desejar, posso fazer seu pedido, assim o Sr. poderia vir pegá-lo amanhã ou depois de amanhã.
Como ela não tem nada a ver com o parasitário sistema capitalista administrativo não só daquela rede, mas do atual sistema editorial, sorri e lhe agradeci pela boa vontade. Depois disso, do parapeito da sobreloja, fiquei olhando o enorme número de pessoas em seu interior. Desci as escadas rolantes e comecei a ver os títulos em colunas sobrepostas sobre as principais gôndolas de exposição. Pilhas e mais pilhas de impuro lixo literário, autores medíocres, títulos ridículos, assuntos bossais, um modismo literário para tornar pessoas culturalmente burras, ignorantes, alienadas, distante de si mesmas e pra lá de medíocres.
O que mais me chamou a atenção: na entrada da loja, uma gôndola somente com livros cujos títulos se referem a romances com vampiros, todos com capas de um colorido maravilhoso, com seus títulos com películas de verniz, que sem esforço seduziam uma enorme quantidade de leitores à sua volta.
Dizem que não se pode julgar um livro pela capa; no entanto, não foi difícil constatar a enorme quantidade de zumbis sedentos pelo catecismo aplicado pelos vampirescos editores que sem o menor esforço, em nome do lucro imediato, "libertam-se do Passado" de livros e autores de puro sangue que, em qualquer tempo, realmente fazem a diferença.
Depois disto, não há mais por que desconfiar: o fundamental está fora de contexto; o que voga é o elemental e quanto mais rudimentar, melhor.
Nelson Jonas
Nelson Jonas