Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

17 janeiro 2011

Vampirismo Literário

Consumo Consciente
Neste final de semana, passei em duas das maiores livrarias de São Paulo. Buscava pelo livro "Conduta para a Vida" de Ralph Waldo Emerson. Para minha surpresa, em nenhuma delas havia sequer um exemplar de tal autor. Perguntei a atendente (que nem sabia escrever o nome do autor), quantos livros haviam disponíveis no estoque da rede. Depois de fazer a pesquisa num lento computador, disse-me que constavam apenas 3 exemplares em outras lojas e que os mesmos poderiam estar disponíveis naquele endereço em apenas dois dias. Detalhe: me refiro a uma rede com 33 lojas em São Paulo... Somente 3 exemplares...

Inconformado, para certificar minha desconfiança, perguntei sobre os livros de Krishnamurti. A atendente me perguntou sobre o que "ela" escrevia e como se escrevia o nome dela. Depois de explicado que "ela" é "ele" e soletrado seu nome, recebo a explicação que só havia na loja 1 exemplar do livro "Liberte-se do passado". Perguntei também pelo livro de Albert Camus, "O Homem Revoltado".

- Sr., esse nós temos. Aguarde um momento que já o pego para o Sr.

Enquanto aguardava, fiquei folheando o livro "Capitalismo Parasitário", de Jorge Zahar e Zygmunt Bauman. Quase dez minutos depois, com o olhar bastante sem graça disse: 

- Sr., consta no sistema 1 exemplar, mas não consegui encontrá-lo na loja. Se o Sr. desejar, posso fazer seu pedido, assim o Sr. poderia vir pegá-lo amanhã ou depois de amanhã.

Como ela não tem nada a ver com o parasitário sistema capitalista administrativo não só daquela rede, mas do atual sistema editorial, sorri e lhe agradeci pela boa vontade. Depois disso, do parapeito da sobreloja, fiquei olhando o enorme número de pessoas em seu interior. Desci as escadas rolantes e comecei a ver os títulos em colunas sobrepostas sobre as principais gôndolas de exposição. Pilhas e mais pilhas de impuro lixo literário, autores medíocres, títulos ridículos, assuntos bossais, um modismo literário para tornar pessoas culturalmente burras, ignorantes, alienadas, distante de si mesmas e pra lá de medíocres. 

O que mais me chamou a atenção: na entrada da loja, uma gôndola somente com livros cujos títulos se referem a romances com vampiros, todos com capas de um colorido maravilhoso, com seus títulos com películas de verniz, que sem esforço seduziam uma enorme quantidade de leitores à sua volta.

Dizem que não se pode julgar um livro pela capa; no entanto, não foi difícil constatar a enorme quantidade de zumbis sedentos pelo catecismo aplicado pelos vampirescos editores que sem o menor esforço, em nome do lucro imediato, "libertam-se do Passado" de livros e autores de puro sangue que, em qualquer tempo,  realmente fazem a diferença.

Depois disto, não há mais por que desconfiar: o fundamental está fora de contexto; o que voga é o elemental e quanto mais rudimentar, melhor.

Nelson Jonas

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!