- olá
- Fala meu querido! Hoje dei "cano" no trampo! Estou de boa!
- Tudo bem com você?
- Sim! Caminhando!
- César, já tem o que fazer a noite?
- Nada! Vou dormir na casa da minha pequena. Por que?
- Tem "Replicantes" no Sesc Vila Mariana, às 20h30m.
- Já assisti esse show! Valeu o toque, mas hoje, não vai dar. Dias atrás, lembrei de você.
- Diga.
- Você tinha me mostrado algumas placas de trânsito próximas à igreja da Sé, lembra-se?
- Sim, o que tem?
- Não vai rir de mim, ok?
- Anda!
- À noite, quando volto do trabalho, passo pelo largo do São Francisco em direção à Sé. Ali temos o belo prédio da "Faculdade de Direito".
- Conheço bem aquela região.
- Pois é! Chapado de mendigos se ajeitando para dormir! Então, lhe pergunto: que Direito eles têm?
- Cara, penso que boa parte está lá por que quer.
- Entendo! Mas, digo num cotexto geral.
- Boa parte é dependente químico.
- Certo. Mas falta para a população o mínimo: saúde, educação, saneamento básico...
- César, não me iludo mais com isso. Essas pessoas não querem nada disso. Eles querem barraco mesmo; se você oferecer cultura, não querem. Já trabalhei com dependentes, já fiz trabalho social com menores, com jovens de risco em delinquência... Não querem saber de estudar, não querem saber de nada... Só de malandragem. Há raríssimas exceções. A grande maioria cai na malandragem e dela, um passo para caírem no vício. Depois somem no mundo e dançam feio. É capaz de encontrar gente letrada no meio daqueles mendigos... Catedráticos... Pessoas que surtaram!
- Certo!
- O Direito, o governo não podem ser responsabilizados por isso. O governo passa lá e oferece abrigo, mas eles não querem, sabia?
- Já me falaram isso.
- A assistência social auxilia para reencontros familiares... Não querem. É caso de doença mental mesmo. Então, creio que de certa forma, está sendo exercido "O direito" diante deles. Não quero dizer que não possa existir falha governamental. Mas acho que é um fator cultural, social muito profundo. Existe um vício coletivo de culpar o governo por tudo; é que nem o lance das chuvas... Está todo mundo metendo a boca no governo, mas, qual a culpa deles no fato da população se assentar em locais inadequados? Qual a culpa do cidadão não se importar com o seu próprio lixo?
- Concordo.
- Se as prefeituras forem ficar correndo atrás das pessoas que estão se fixando em locais inadequados, não faz mais nada. É um caso de consciência, cultura, educação. É muito profundo.
- Esta semana tive uma palestra no Senac referente a apresentação do curso que vou iniciar em fevereiro. Fiquei bem animado. Cara, estou apostando nesta nova empreitada profissional. Ontem eu estava trabalhando e compareceu na empresa o presidente... As pessoas só faltavam, desculpe a expressão, lamber o saco do cara... Meu, nada disso me interessa! Vou virar o jogo, não aguento mais. O coordenador do curso disse que se gostarmos mesmo da área da saúde, estaremos sempre estudando algo a respeito. Devo ficar mais algum tempo por lá e começar a divulgar o meu trabalho; o próprio coordenador do curso disse que a gente não precisa esperar se formar para começar a trabalhar. A cada técnica nova que a gente aprende, já podemos aplicar.
- Olha, César, acho que uma coisa é preciso ter em mente... Você tinha um serviço, agora está passando para a faze mediana que é achar um "trabalho" capaz de lhe propiciar tempo para o encontro da sua "Vocação". Se não tiver isso em mente, você corre o risco de passar a ser um "especialista"; alguém que se tranca dentro de uma pequena cela, só que colorida por si mesmo, ao invés de colorida por um patrão. Um especialista é sempre dependente do estudo e da descoberta de outros... É sempre uma pessoa de 2ª mão... Está acompanhando meu raciocínio?
- Sim! Mas, pelo menos já é meio caminho andado!
- Lógico, lógico!... E importantíssimo! Mas você não pode perder o foco!... O foco não pode ser a especialidade; o foco tem que ser o encontro com a "excelência" e esta, só vem quando ouvimos a vocação, a "voz do coração". Percebe? Creio que cada um de nós tem uma mensagem única e intransferível que por anos foi silenciada pelo tempo de exposição excessiva a toxicidade da família, sociedade e tradição. Precisamos trazê-la à tona, caso contrário, levaremos uma existência sem VIDA. Poderá ser mais suave, mais confortável, mas, ainda assim, sem VIDA.
- Na última vez em que estive em sua casa, estávamos falando de amor. Esse assunto para mim é muito complexo. Hoje tenho uma companheira e pasme, quero e tenho vontade de morar com ela. Então, a cada dia, busco pelo meu caminho.
- César, para mim, o amor não é algo "exclusivo", o amor é; ele não pode ser por "uma determinada pessoa". Isso é paixão, romantismo. Temos o ranço do mito romântico; para mim isso é lixo que impede a verdadeira intimidade. Creio que amor é um estado de ser e não um sentimento, uma emoção.
- Mas, para mim, no final das contas é tudo meio caminho andado. Estou em busca da paz e da serenidade e procuro sempre ter o discernimento das coisas... Percebo pelo meu serviço.
- Sim, "meio" caminho...
- Estou a cada dia me sentindo um "estranho no ninho" naquele lugar.
- Que bom!
- Vou abraçar a ideia da massoterapia e vamos ver no que vai dar...
- César, se me permite, não interessa no que vai dar!
- Modo de dizer, poxa!
- O que interessa é se permitir a escuta atenta ao chamado. Não mais se contrariar... Se hoje esse é seu chamado, vá fundo, e diga um foda-se para os resultados. Isso não tem nada a ver com ser inconsequente. Inconsequente é continuar, por medo, fechando os ouvidos para a voz suave do coração. Isso sim é ser inconsequente.
- Certo.
- Vai saber o que a vida vai lhe trazer através desse chamado? O fato é que seu coração já não quer mais saber do seu atual serviço, pois percebe que nele, não há mais possibilidades de "ser viço". Esse é o fato. Olhe isto...
- Cara, já trabalhei em doze empresas, chega!....
- Veja só o que Osho fala sobre isso: ..."Um rebelde é uma pessoa que não vive como um robô, condicionado pelo passado. A religião, a sociedade, a cultura... nada que pertença ao passado interfere de forma alguma em seu modo de vida, em seu estilo de vida. Ele vive individualmente — não como uma engrenagem no sistema, mas sim como uma unidade orgânica. Sua vida não é decidida por mais ninguém, somente por sua própria inteligência. A fragrância da sua vida é a da liberdade — não só por viver em liberdade, mas por permitir que todas as pessoas sejam livres. Não permite que ninguém interfira em sua vida; assim como não interfere na vida de ninguém. Para ele, a vida é tão sagrada — e a liberdade é o valor máximo — que ele é capaz de sacrificar tudo em nome dela: a respeitabilidade, o status, até mesmo a vida em si. Liberdade, para ele, é o que Deus costumava ser para as pessoas religiosas no passado. A liberdade é o Deus dele".
- Muito bom
- Recebi essa mensagem hoje pela manhã. Isso é a minha meta. O importante é a meta, o Ideal. Seu ideal não pode ser a massagem, mas sim, fazer da massagem uma ponte para o seu ideal que pode lhe proporcionar liberdade, ampla e irrestrita. Senão, mais cedo ou mais tarde você se verá vítima da rotina.
- Compreendo. Mas há muitos anos tenho me questionado a respeito da minha vida profissional e hoje tenho procurado caminhos que trazem a espiritualidade para mim e, dentro deste contexto, também o meu ganha pão. Então, estou cansado desta vidinha medíocre de empresa.
- Quem nasceu para ser águia, não aceita viver como galinha...
- Eu consigo visualizar as coisas tão claramente no meu dia a dia de um modo que as pessoas parecem não enxergar. Digo, meio que de brincadeira, que a minha depressão foi um alivio para enxergar tanta coisa que enxergo. Só quem já lambeu o chão, sabe do que estamos falando.
- Penso que sempre estivemos doentes do olhar que vê por detrás desses olhos que pensavam ver. Precisamos recuperar a visão. César, a espiritualidade sempre esteve ai, nossos forçados compromissos e identificações no passado nos afastavam do contato com ela. Sua espiritualidade está pedindo pela autonomia de ser e isso é só para homem de saco roxo. A grande maioria prefere o comodismo servil.
- Isso está ficando cada vez mais claro para mim.
- César, tempos atrás escrevi um pequeno texto sobre isso:
Certo dia de sua vida, disse Voltaire:
"O trabalho espanta três males: o vício, a pobreza e o tédio"
(...)
Certo, digo neste meu dia:
Se Voltaire,
Aqui volta-se,
Espantado ficaria,
Com os males que
Hoje o trabalho propicia:
O vício, a pobreza e o tédio.
- Já tinha lido em seu Blog. Muito bom!
- As pessoas estão viciadas em seus trabalhos, mantendo-se espiritualmente pobres e profundamente entediadas porque não fazem o que manda seu coração.
- Concordo!
- Pode ter certeza que varias delas até pensam e sentem o mesmo que você, mas, o medo faz com que elas façam vistas grossas para o chamado. Muitas estão tão comprometidas com as despesas geradas pelas necessidades desnecessárias criadas pelo sistema, que não podem pensar em abrir mão da escravidão branca. Seus antepassados ganharam carta de alforria para que eles se entregassem a escravidão do crédito fácil e da CLT. Por isso, se você quer autonomia, é bom pensar também num modo de vida pautado na Simplicidade Voluntária.
- Sem dúvida! Você sabe muito bem que já não me iludo com as ratoeiras do consumo.
- Pois bem! Gostaria de poder continuar nossa prosa, mas tenho que sair para buscar a Deca no Metrô. A gente se fala.
- Valeu! Manda um abraço para ela!
- Vou nessa! Um abraço!
- Outro.
Nelson Jonas
Nelson Jonas