Carta de um Confrade
A nossa consangüinidade está - não no sangue que corre em nossas veias, neste corpo débil e impermanente, formadora de uma família de elos encadeados (literalmente 'e n C A D E A D O S') - mas na seiva que penetra nossas entranhas, constituidora de uma família para além da mais vasta noção de espaço e tempo, de uma confraria, como você disse, onde a presença da morte é necessária para anunciar a vida...e denunciar a falta do viver...
A cada dia que passa tomo maior consciência da minha necessidade visceral de viver a maior quantidade de instantes que consigo conceber na iminência da morte...próximo a ela...próximo de quem está próximo dela....dos desesperançados, dos que estão passando por momentos extremos, no limite de suas forças psíquicas ou orgânicas...
...nesta condição extrema, somente nestas circunstâncias verdadeiramente radicais, onde a vida fica em suspensão (que faz qualquer prática esportiva dita 'radical' parecer como brincadeira de criança - tendo isto valor e significado também), é quando efetivamos um contato com o que há de humano, divino e, mesmo, infernal em nós. E este contato dá sentido e razão no viver, mesmo quando se vive na loucura de estar fora dos padrões.
Meu raro amigo Nelson, perdoe minha avalanche de absurdos...mas sei que você está apto a compreendê-los por ter vivenciado e vivenciar algo similar. Vivo querendo morrer...sou um Vivo, querendo morrer...pois me recuso a estar morto, querendo Viver...
Um abraço de um confrade...
Liban