Antes do Embarque, foto por NJRO.
As verdades gerais não são desrespeitosas; deixam entreaberta a porta onde escapam as exceções particulares. Por que não revelar a realidade desconsoladora? Ser velho é ser medíocre, com raras exceções. A máxima infelicidade de um homem superior é sobreviver a si mesmo, nivelando-se com os outros. Quantos se suicidariam se pudessem perceber essa passagem terrível do homem que pensa para o homem que vegeta, daquele que empurra para o que é arrastado, daquele que abre sulcos novos para o que se escraviza nas marcas da rotina! Velhice e mediocridade costumam igualar-se na infelicidade!
A decadência do homem que envelhece está representada por uma regressão sistemática da intelectualidade. Ao princípio, a velhice torna medíocre todo homem superior; mais tarde, a decrepitude inferioriza o velho medíocre.
A rotina é o estigma mental da velhice; a economia é seu estigma social. O homem envelhece quando o cálculo utilitário substitui a alegria juvenil. Quem começa a olhar se o que tem bastará para todo seu futuro possível, já não é jovem; quando opina que é preferível ter a mais do que a menos, está velho; quando seu anseio de possuir excede sua possibilidade de viver, já está moralmente decrépito. A avareza é uma exaltação dos sentimentos egoístas próprios da velhice.
Essa paixão de colecionar bens que não usufrui aumenta com os anos, ao contrário das outras. Aquele que é avarento na juventude chega até a assassinar por dinheiro na velhice. A avareza seca o coração, fecha-o para a fé, para o amor, para a esperança, para o ideal. Se um avaro possuísse o sol, deixaria o universo na escuridão para evitar que o seu tesouro se desgastasse. Além de se aferrar ao que tem, o avaro se desespera por ter mais, sem limites. É mais miserável quanto mais tem: para enterrar o dinheiro que não usufrui, renuncia à dignidade ou ao bem-estar. Esse anseio de perseguir o que nunca usará constitui a mais sinistra das misérias.
A avareza como paixão vil iguala-se à inveja. É a chaga moral dos corações envelhecidos.
Há quem envelheça antes por seus órgãos digestivos, circulatórios ou psíquicos; e há quem conserve íntegras algumas de suas funções além dos limites comuns. A longevidade mental é um acidente; não é regra.
O processo de involução intelectual segue o mesmo curso que o de sua organização, mas invertido. Primeiro desaparece a "mentalidade individual", mais tarde a "mentalidade social", e, por último, a "mentalidade da espécie".
Além da lentidão natural do fenômeno, existem as diferenças inerentes a cada indivíduo. Os que só tinham conseguido adquirir um reflexo da mentalidade social pouco têm que perder nesta inevitável decadência: é o empobrecimento de um pobre. E quando, em plena velhice, sua mentalidade social se reduz à mentalidade da espécie, inferiorizando-se, a passagem da pobreza para a miséria não surpreende ninguém.
O gênio - entenda-se bem - nunca é tardio, embora seu fruto possa se revelar tardiamente.
A idade "atenua ou anula o zelo, o ardor, a capacidade parar criar, descobrir ou simplesmente saborear a arte, para ter a curiosidade desperta".
Por isso as academias costumam ser cemitérios onde se glorificam os homens que já deixaram de existir para a sua ciência ou para a sua arte. É natural que elas recebam os mortos e os agonizantes; receber um jovem significa enterrar um vivo.
Há quem envelheça antes por seus órgãos digestivos, circulatórios ou psíquicos; e há quem conserve íntegras algumas de suas funções além dos limites comuns. A longevidade mental é um acidente; não é regra.
O processo de involução intelectual segue o mesmo curso que o de sua organização, mas invertido. Primeiro desaparece a "mentalidade individual", mais tarde a "mentalidade social", e, por último, a "mentalidade da espécie".
Além da lentidão natural do fenômeno, existem as diferenças inerentes a cada indivíduo. Os que só tinham conseguido adquirir um reflexo da mentalidade social pouco têm que perder nesta inevitável decadência: é o empobrecimento de um pobre. E quando, em plena velhice, sua mentalidade social se reduz à mentalidade da espécie, inferiorizando-se, a passagem da pobreza para a miséria não surpreende ninguém.
O gênio - entenda-se bem - nunca é tardio, embora seu fruto possa se revelar tardiamente.
A idade "atenua ou anula o zelo, o ardor, a capacidade parar criar, descobrir ou simplesmente saborear a arte, para ter a curiosidade desperta".
Por isso as academias costumam ser cemitérios onde se glorificam os homens que já deixaram de existir para a sua ciência ou para a sua arte. É natural que elas recebam os mortos e os agonizantes; receber um jovem significa enterrar um vivo.
José Ingenieros
O Homem Medíocre