Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

10 janeiro 2011

O homem é. A sombra parece

Memorial da América latina/SP
Sombras, foto por NJRO
O homem é. A sombra parece. O homem põe sua honra no mérito próprio e é juiz supremo de si mesmo; ascende à dignidade. A sombra expõe o seu ao julgamento alheio e renuncia a se julgar; descende à vaidade. Há uma moral da honra e outra da caricatura: ser ou parecer. Quando o ideal de perfeição impulsiona a ser melhores, esse culto dos próprios méritos consolida a dignidade nos homens; quando o desejo de parecer arrasta a qualquer rebaixamento, o culto da sombra acende a vaidade.

Nos indivíduos adaptados à rotina e aos preconceitos comuns, o desejo de brilhar em seu meio e o aplauso que esperam do pequeno grupo que os rodeia, são estímulos para a ação. A simples circunstância de viver em rebanhos predispõe a perseguir a aquiescência alheia; a estima própria é favorecida pelo contraste ou pela comparação com os outros. 

Certas preocupações, reinantes nas sociedades medíocres, exaltam os domésticos. O elogio do mérito é um estímulo para a sua simulação. Obcecados pelo êxito, e incapazes de sonhar a glória, muitos impotentes orgulham-se de méritos ilusórios e virtudes secretas que os outros não reconhecem: acham-se atores da comédia humana; entram na vida construindo um cenário, grande ou pequeno, baixo ou alto, sombrio ou luminoso; vivem com a perpétua preocupação da opinião alheia sobre sua sombra. Consomem a existência sedentos de destaque em sua órbita, de causar impressão ao seu mundo, de cultivar a atenção alheia de qualquer maneira. 

O vaidoso vive se comparando com os que o rodeiam, invejando toda excelência alheia e corroendo toda reputação que não pode igualar.

O digno deve zombrar das mil rotinas que o servil adora sob o nome de princípios; seu conflito é perpétuo. A dignidade é um quebra-mar colocado pelo indivíduo contra a maré que o acossa. É o isolamento dos domésticos e desprezo de seus pastores, quase sempre escravos do próprio rebanho.

José Ingenieros

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!