Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

03 novembro 2010

Uma idéia anarquista


Pensar é um direito intransferível e inalienável do ser humano, e é baseado nessa premissa que certo filósofo preconizava viver numa sociedade de homens capazes de se autodirigirem, de se autogovernarem pela união das forças intelectuais, trabalhadores e criadores de uma nova ordem social com liberdade.

A sua doutrina, catecismo do "imaginário paraíso", segundo a sua concepção, não aceitava o princípio do assalariado e da mais-valia. Tão pouco permitia a existência de trabalhadores e patrões, dirigentes e dirigidos, mandantes e mandados, senhores e escravos. Todos seriam auto-suficientes, produtores e consumidores, livres, iguais!

Os princípios fundamentais, as idéias mestras do filósofo, sobre as quais construiria a nova sociedade, baseavam-se numa ordem generosa e positiva, com sentimentos e ações, de equilíbrio nos movimentos e atitudes, na harmonia que funde o homem e a natureza, que humaniza e forma personalidades retas, caracteres e cidadãos justos, capazes de produzir e participar, dar e receber.

Era uma filosofia sem vínculos religiosos nem político, partia das premissas de renovação, libertárias e antidogmáticas. Para esse "sonhador", as idéias tinham que ser provadas, e a vida era o exemplo de uma lição no seu mais amplo e puro sentido. Não aceitava conceitos aprioristicos, e descria da infalibilidade. Para ele tudo era relativo. Sua fundamental razão doutrinária apoiava-se na liberdade com responsabilidade, conceito humanista de vida, feito pacto consciente à margem da tutela de qualquer espécie, partindo do indivíduo, da associação voluntária, para atingir a sociedade de autogestão, livre de falsos intermediários. O filósofo aceitava a transformação bem acabada como fonte de sabedoria, manancial da bondade; a história pela importância de recolher e analisar as experiências vividas, e como guia admirável, a razão na busca da verdade.

O individuo era a base fundamental da sua sociedade! A convivência social e fraterna processava-se pelo livre-acordo, e a proteção recíproca, pelo apoio e ajuda mútuos, veículo conservador e propulsor da espécie. A união das energias e o entendimento dos homens da comunidade, residiam no esforço que garantia a sobrevivência, e que defendia os direitos de cada individuo em participar, e da sociedade em geral. A idéia mestra da "Nova Sociedade", partia da natureza, princípio e fim de todas as coisas, consubstanciadas pela liberdade, pelo livre-acordo, verdadeira razão da vida. Segundo sua filosofia, o homem é um atleta sempre em luta por melhores dias no sentido evolutivo, e jamais deixará de ser, daí o não admitir a regressão por desejar sempre mais além da liberdade, a liberdade!

Entendia que o ser humano é um ser sociável e como tal propende a unir-se, a associar-se, porque só unido e associado, se sente seguro. O homem jamais desejou viver isolado, nem fora do seu mundo porque faz parte dele. E por ser um componente da sociedade, o individuo tende, fatalmente a ser um associado da comunidade humana.

Sem deixar de ser um mundo de idéias "novas" humanitaristas, uma corrente científica, intelectual e ética, perfeitamente definidas doutrinariamente, a sociedade ou organização, isto é, a "Nova Sociedade" do filósofo, prevê uma nova concepção econômico-social que estabelece a livre associação dos organismos naturais do trabalho. Suas tarefas quotidianas processar-se-iam por meio da cooperação voluntária, da responsabilidade individual e coletiva, isso é, por meio de uma coordenação e administração do esforço manual e intelectual objetivando produzir com o máximo da perfeição e da beleza.

Propõe-se o nosso filósofo restabelecer a felicidade dos povos, instaurando uma Federação de Comunidades Livres, unidas por interesses sociais, econômicos, artísticos e culturais, sempre resolvidos mediante acordos mútuos, sem imposições nem intenções dominantes. O livre contrato, a tolerância recíproca e o desejo de auto-gestão, seriam princípios e finalidades convertidas em táticas de luta pela conquista das riquezas naturais e da produção que o trabalho livre proporcionaria. E as riquezas resultantes desse esforço conjunto, coletivo, de produtores, seriam postas a disposição da nova sociedade, isso é, dos seus mutuários que distribuiriam a cada um dos seus membros e segundo as suas necessidades.

Em cada fase da nova comunidade, para o futuro progressivo resultante dos periódicos acordos mútuos, o filósofo apunha que "tudo dependia da capacidade e da visão dos seus componentes unidos num ideal universalista!"

Sem riquezas nem patrimônios individuais, a comunidade não permitiria que em nome do maior saber ou da esperteza, nem mesmo de organismos de trabalho livre e federado, pudesse um dos membros explorar outro. A sociedade cuidaria desses problemas como da saúde dos mutualistas, para garantir o princípio racional da igualdade de direitos e de idênticos propósitos de deveres de todos e de cada um.

Em síntese: não cria um sistema perfeito, já que por princípio rechaçava todos os esquemas e conceitos de caráter absoluto, mas seria a doutrina constante do aperfeiçoamento. Não teria uma meta definitiva, porque percebia a variedade da natureza, a necessidade do progresso, do aprimoramento de todos os campos do conhecimento humano e da busca de novas formas de vida. Mas era uma permanente perspectiva aberta de dia-a-dia, ao viver humano, sem formas dogmáticas, sujeita à liberdade não tinha o sabor do abstrato, mas do zarcão (?) social só podem ser transitórias, porque tudo é mutável, menos a vida, que se transmite de gerações para gerações. Evoluir até alcançar um estágio amplo, dentro da liberdade, da igualdade e do amor fraterno, era a sua obsessão. Para o filósofo, a liberdade não tinha o sabor do abstrato mas do concreto, que permitia o desenvolvimento da capacidade na criatura humana, que fomenta e desperta a grandeza dos sentimentos de solidariedade entre os povos, que modela o caráter e cultiva o amor ao próximo como a si mesmo! Só a liberdade, segundo a sua concepção ideológica, movimenta os homens no sentido de buscar belos e harmoniosos estágios de justiça social, porque liberdade era a alma, era a luz da sua idéia.

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!