Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

19 novembro 2010

Aceitando a própria natureza


Maquiagem é a invenção das pessoas feias. Não que a maquiagem seja feia, mas a própria maquiagem é a invenção do feio. O feio se sente inferior quando comparado com o zelo naturalmente belo, competitivo. O feio tenta compensar isso com métodos artificiais. O natural não tem nenhuma necessidade de compensar. Mas pessoas naturalmente bonitas são muito poucas; então a maquiagem se tornou quase uma coisa de rotina.

Por milhares de anos, o homem vem tentando esconder de toda maneira possível tudo que é feio nele; no corpo, na mente, na alma. Até mesmo pessoas que eram naturalmente belas começaram a imitar o feio e o artificial, pela simples razão que o artificial pode enganar. Por exemplo, os seios podem ter uma aparência melhor que o natural para chamar atenção. Mesmo se uma mulher possui belos seios naturais, ela irá começar a sentir que as mulheres que não têm uma beleza natural nos seios podem pelo menos fingir e mostrar que eles são muito mais bonitos. Assim o naturalmente bonito começa também a imitar.

Maquiagem, e toda a idéia da maquiagem, é basicamente hipocrisia. A pessoa deve amar e aceitar a própria natureza... E não somente no nível físico, porque aí é onde a jornada começa. Se você for falso aí, então porque não fingir a mesma falsidade no que diz respeito à mente? Então o que há de errado em fingir ser um santo, um sábio, quando você não é? A lógica será a mesma. E às vezes acontece que o fingidor pode derrotar o real, porque o fingidor pode praticar, pode ensaiar, pode administrar e manobrar de muitas maneiras.

Não estou dizendo que tudo que não é natural é ruim. A natureza pode ser aperfeiçoada. A inteligência foi feita pra isso, mas isso não deve ser contra a natureza. Por exemplo, os lábios podem ficar vermelhos através de uma melhor alimentação, através de melhores exercícios, através de uma medicina melhor. Isso também é melhorar a natureza, mas melhorar a natureza de uma maneira natural. Colocar batom nos lábios é uma coisa barata; isso não é realmente melhorar. Pode ser bom para o palco.

As mulheres podem raspar os cabelos das pernas e das axilas. Isso é bom, é higiênico; não há nada de errado nisso. A menos que você tome todo cuidado para manter seu corpo limpo... Se você tomar banho todos os dias e limpar seu corpo, assim os cabelos sob suas axilas não são ruins. Não há nada de errado com isso. Não há nenhuma necessidade de removê-los, eles têm o lugar deles. Mas se você não estiver tomando banho e se você não está sendo higiênica e limpa, então certamente eles irão acumular sujeira e irão transpirar e irão feder. Assim é melhor removê-los. Não sou contra removê-los. É bonito raspar os cabelos de suas pernas e dar a elas belas formas.

… Você pode enganar os outros, mas como é que você pode enganar as pessoas que estão próximas a você? E está certo enganá-las? E se elas a amam por causa de seus seios, na hora em que elas descobrirem que os seios são falsos; de plástico ou de borracha, o amor delas irá permanecer? Irá desaparecer. Toda a humanidade se tornou falsa. A ideia parece ser para enganar, para fingir.

A natureza deve ser ajudada a ir além de si mesma, ela não deve ser reprimida. Se a natureza for reprimida, você começa a ficar esquizofrênico. Você começa a ter dupla individualidade: uma o que você é; outra a que você mostra para os outros. E você pode ficar muito confuso dentro de você mesmo. Quem é você? Isso ou aquilo? Não é apenas uma questão de ter duas personalidades, você terá que ter muitas personalidades. A mãe terá uma personalidade com relação à criança; ela tem que fingir ser uma mãe; e para o marido, ela precisa fingir ser uma esposa. E para o amante, ela precisa fingir ser uma amante, e assim por diante. Portanto, ela terá muitas personalidades ao redor dela, e na selva de todas essas personalidades sua própria individualidade estará perdida. Ela achará muito difícil descobrir sua face original.
Você me diz. “Maquiagem pode ser usada para enriquecer espiritualmente a beleza natural da mulher...”

Isso é pura bobagem. Espiritualidade não pode ser enriquecida por nenhuma maquiagem. A beleza espiritual não tem nada a ver com alguma coisa que possa ser feita a partir do exterior. Espiritualidade é a sua face original; é a descoberta de sua natureza intrínseca. Ela não precisa ser alterada, ela não precisa ser pintada, ela não precisa ser arrumada. Ela não tem cabelos nas pernas porque não há pernas, nem axilas, nem lábios.

Seu ser interior é pura consciência. Não necessita de maquiagem.

Todo meu esforço aqui é ajudá-los a serem vocês mesmos, a serem totalmente livres de personalidades. Personalidade é uma coisa falsa que lhe cerca, e individualidade é o presente da existência. Já está dentro de você. Se você abandonar suas personalidades, você irá descobri-la. No momento em que as personalidades forem removidas, surge sua individualidade.

A vida real tem que ser natural, e a vida real tem que ir um dia além da natureza. Mas a natureza precisa ser sua fundação; não contra a natureza, não a escondendo, mas descobrindo o âmago dela. Assim é a transcendência e essa é a mais bela experiência. Isso lhe embeleza, seu corpo, sua mente, sua alma. Ela não somente lhe embeleza, ela embeleza até mesmo as pessoas que estão em contato com você. Essa beleza pertence ao além; isso é chamado de graça. Algo desce lá de cima e cai sobre você.

Osho, Extraído de: Come, Come, Yet Again Come

Gostou? Então compartilhe!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Postagens populares

Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!