Insatisfeito estava eu comigo mesmo,
Com essa rotina horizontal
De longos decênios...
Porque tinha eu de marcar passo,
Tediosamente,
No plano dos sentidos e da mente?
Por que não podia romper, finalmente,
A barreira do som e da luz,
E altear-me à ignota vertical
Do espírito?...
Viver novos mundos, de estupenda grandeza
E inefável formosura?...
Se eu era filho da luz,
Por que rastejar nestas trevas?
Se era espírito livre,
Por que gemer algemado?
Insatisfeito estava eu comigo mesmo.
E, por algum tempo, tentei
Imitar o exemplo de outros,
Meus companheiros de prisão,
Tentei dourar as grades escuras
Da minha velha cadeia,
E chamar "palácio" a minha masmorra,
Iludindo-me com aparências de liberdade,
No meio da escravidão.
Prevaleceu, todavia, a minha sinceridade
Sobre essa mentirosa camuflagem.
Não dourei as grades férreas da minha prisão.
Deixei escuras as ferrugentas barras.
Concentrei-me no meu íntimo ser,
Assiduamente,
Diuturnamente,
Intensamente -
E verifiquei que não era eu
Que estava preso,
Que era apenas algo meu
Que gemia no cárcere.
Descobri que o meu verdadeiro Eu era livre,
Libérrimo como as águias do espaço infindo,
Libérrimo como a luz e a vida,
Libérrimo como o próprio espírito de Deus...
Deixei na prisão o que era meu,
O meu ego físico-mental,
E proclamei a liberdade
Do meu Eu espiritual -
Até que, um dia, esse Eu divino
Consiga libertar também o meu ego humano,
Até que o meu ser total possa romper
As barreiras do som e da luz
E ingressar na gloriosa liberdade
Dos filhos de Deus...
Huberto Rohden
Do livro: A Voz do Silêncio - Ed. Martin Claret
Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.
13 novembro 2010
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Escolho meus amigos pela pupila
Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
Oscar Wilde