Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

14 novembro 2010

Levando a Mensagem

Pergunta: Possuis uma técnica que eu possa aprender de vós, de modo que eu também possa levar a vossa mensagem aos sofredores e aflitos?

Krishnamurti: Senhor, que entendeis por “levar uma mensagem?” Entendeis repetição de palavras – propaganda? A propaganda, por sua própria natureza, é um meio de condicionar a mente. Qualquer espécie de propaganda – a propaganda comunista, a propaganda religiosa, etc. — visa condicionar a mente, não é verdade?

Se aprenderdes uma “técnica” (como o chamais), um método, se o decorais e repetis, sereis um bom propagandista; se sois arguto, hábil, eloqüente, condicionareis os vossos ouvintes de uma maneira nova, em substituição da antiga; mas isso será ainda condicionamento, ainda limitado. E tal é o nosso problema, não é verdade?

Os problemas surgem porque estamos condicionados. Nossa educação nos condiciona. É possível ser a mente livre de condicionamento? Esse estado tem de ser descoberto. Não se pode dizer que ele é possível ou impossível. Quando perguntais “possuis uma técnica?” Que entendeis? Talvez entendais um método, um sistema para aprenderdes como um colegial e para repetirdes. Ora, Senhor, o problema é algo muito mais fundamental, e radicalmente diferente, não achais? Não há técnica que aprender. Não necessitais levar a minha mensagem; o que deveis levar é a vossa mensagem, Senhores, e não a minha.

Esta existência de sofrimento e confusão é o vosso problema. Se o compreenderdes, se puderdes compreender a experiência de uma mente condicionada, e passar além, sereis vós então quem ensina; não haverá então mestre, e não haverá discípulo. Mas, tendes de compreender a vós mesmos, e não de aprender a minha técnica ou levar a minha mensagem. Senhor, o que importa é que se compreenda que este é o nosso mundo; que juntos podemos construir este mundo: juntos e felizes; que nós, vós e eu, estamos em relação um com o outro; que o que fazeis e o que eu faço, interiormente, é de grande significação; que a maneira como pensamos é importante; e que o pensamento, que é sempre condicionado, não resolverá o nosso problema. O que resolverá o nosso problema é a compreensão das tendências do nosso pensar. No momento em que compreendermos a maneira como pensamos, dar-se-á uma radical transformação, interiormente não seremos mais hinduístas, cristãos, comunistas, socialistas ou capitalistas; seremos entes humanos, entes humanos dotados de sentimentos, de amor, de consideração. Isso não resulta meramente de se aprender uma técnica ou de se levar a mensagem de outro homem.

Não se pode adquirir amor mediante o emprego de uma técnica. Pode-se adquirir sensação, por meio de uma técnica; essa coisa, porém não é amor. O amor é algo que se não pode ensinar, que se não pode difundir por meio dos jornais, de técnicas, de propaganda. Ele tem de ser sentido e tem de ser compreendido. Mas se repetis “amor, amor, amor”, isso não tem sentido nenhum. Tereis conhecimento desse amor, quando vossa mente for tranqüila, quando estiver livre do seu condicionamento, das suas ansiedades, dos seus temores. E esse amor é que é a verdadeira revolução, a qual alterará todo o processo do nosso ser.

Krishnamurti - 8 de fevereiro de 1953 – Palestra em Bombaim
Do livro: Autoconhecimento – base da Sabedoria

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!