Como eu já esperava, com base na experiência passada decorrente do texto que escrevi em 2007, referente a minha experiência com os grupos anônimos, gerou controvérsia por parte de algum dos seus membros. Na época, recebi vários e-mails com insultos, quase todos mascarados em pseudo-espiritualidade. Na verdade, o que ali despertou foi raiva. Desta vez, parece que a experiência não está sendo diferente. Naquele período, decidi tirar o texto do ar, só que desta vez, não. Se a carapuça servir, que façam com ela o que quiserem.
Recebi um e-mail em que um dos membros "discordantes", afirma que nas salas de anônimos existe "botox de graça", visto a melhoria em suas qualidades de vida. O fato é que não existe naturalidade e autenticidade no botox, é mera cosmética para esconder a real. Ele pode melhorar, mas não transforma. É justamente isso que afirmo em meu texto. A maioria de seus membros se contenta com uma leve melhora e não com uma total transformação. Eles parecem não levar em conta um dos grandes chavões dos anônimos, criado por um dos fundadores da Irmandade Mãe: "O bom é o inimigo do melhor".
Nesse e-mail, a pessoa discursa sobre a falta de brilho em meus olhos, bem como uma amargura em minhas fotos que aparecem em meu site de fotografia. Pois bem, isso aponta para dois fatos importantes: o perigo de se relacionar e tirar conclusões com imagens de ensaios fotográficos bem como com os resultados que devem ser esperados por aqueles, realmente sérios, que não mais se contentam com uma vida de "botox de graça". Eu deixo o botox para quem quiser, eu quero a Graça capaz de trazer graça para tudo aquilo que não tem mais graça. Eu sou um dos raros que conseguem se expor publicamente, dando nome por completo, não me escondendo atrás de nicknames, ou em salas anônimos para dizer que não sou feliz e que não mais me contento em coleções de "está tudo bem". Ouso pela excelência e não com pequenas reparações. Não dá mais para ficar ouvindo aquela mecanicidade repleta de dualidade, sempre iniciada com o mesmo chavão:
"Boa noite à todos, meu nome é fulano, sou um adicto em recuperação e só por hoje estou limpo, não usei minha droga de escolha"...
Dito isto, se este for um membro relativamente novo, começa a falar sobre a "droga de comportamento", agora, se for dos antigos, só discursos dotados de uma espiritualidade que só pode enganar os mais novos. Eles contam uma historinha de felicidade que não cola. Não estou nessa. Não dá para viver de aparências, pois quem vive de aparência, só aparentemente vive.
Eu descobri que não preciso ficar trancado numa sala de anônimos para deter meus padrões de comportamento da minha "ativa". Na minha experiência, para quem é sério, a observação do pensamento, se mostra como um "Poder Superior" a identificação com os comportamentos da ativa. As recaídas e deslizes ocorrem quando da falta de seriedade na observação. Isso é fato tanto para quem está dentro ou fora de uma sala de anônimos. Não estou querendo passar receitas para ninguém, estou tão somente compartilhando a minha experiência. Se ela servir de remédio para você, fico feliz, se se mostrar como veneno, para seu bem, por favor, suma daqui.
Eu continuo falando que os anônimos é um local de fazer homens e mulheres pela metade. E não vejo mentira nisso. Usando uma metáfora, é o mesmo que dizer que o ginasial é um local de fazer engenheiros pela metade. Se quiser ser engenheiro de verdade, vai ter que abandonar o local em que fez tal opção, experimentar outras portas e salas, novas pessoas e professores, novas provas bem mais difíceis até se sentir formado. O que vi nas salas é um monte de gente se contentando com o discurso irresponsável: quando eu crescer, se for "a vontade do poder superior", vou ser engenheiro. Não creio que afirmar que somente o ginasial não seja capaz de outorgar a alguém a faculdade de engenharia, seja cuspir no prato ginasial. Para mim, o mesmo se aplica aos anônimos.
Eu afirmo que grande parte dos membros de anônimos, acabam somente trocando de padrões comportamentais compulsivos. Trocam a antiga dependência pela dependência das salas. Eles acreditam que a natureza exata de sua doença esteja na dependência que gerou seu fundo de poço e esquecem-se que a doença é, antes de tudo, mental. E o que é que existe na mente? Um saquinho de drogas? Um punhado de comida? Sexo? Um baralho? Ou pensamentos, que se não forem observados se tornam físico e emocional?
Também é comum eu ser taxado (entre outras coisas) como uma pessoa ingrata por não mais estar na sala "transmitindo a mensagem da irmandade". Eu não estou afim de deixar de falar aquilo que vejo, penso e sinto tendo que adequá-lo às Tradições do grupo. Passei boa parte da minha existência sem vida me amoldando às Tradições Sociais e sei bem no que deu: um doente mental e emocional à beira do suicídio. Não estou afim de ser alguém dependente de "botox emocional". Quanto a transmissão da mensagem, pois bem, estou aqui nesta grande sala chamada internet, transmitindo a minha experiência de recuperação da capacidade de discernir entre o falso e o verdadeiro. Escolhi esta "sala sem fronteiras, sem limites, sem paredes, sem tradição" e o faço com muita gratidão e seriedade. Quem está numa sala de anônimos, se for sério, já tem o material primário. Quem sabe, na internet, dê para pescar alguns mais abertos.
Agora, para você que se encontra sendo um dos beneficiados pelos grupos anônimos e que "não concorda" com a minha experiência, sugiro que seja sério e aplique a tradição da sua irmandade que diz para "não entrar em controvérsias públicas", não opine em questões alheias, como as minhas. Sugiro que ao invés de ficar promovendo - por mim não solicitada - a sua discórdia ou concordância em minha caixa de e-mails, ao contrário, use seu tempo, energia e coragem, para criar um blog para transmitir a sua mensagem de forma aberta, quem sabe, dessa forma, possa atrair alguns que se identifiquem com sua experiência. Se você "realmente" se encontra feliz nos anônimos e eles suprem suas necessidades, ótimo! Seja feliz. Caso isso seja verdade, por favor, não perca tempo com meus textos, ao contrário, sugiro que se dedique ainda mais na leitura dos textos dos anônimos. Para mim, foi bom enquanto durou.
Eu lhe afirmo de coração: apesar de não mais "roubar cavalos", não sou feliz e nem estou afim de "fingir ser feliz, equilibrado e sereno". Sou autêntico em minha insatisfação e na contínua busca.
Termino este texto-resposta deixando uma pérola de Schopenhauer:
Toda verdade passa por três fases. Primeiro, é ridicularizada. Segundo, é violentamente atacada. Terceiro, é aceita como evidente.
Lembre-se, Galileu, quase foi parar na fogueira por dizer que a Terra era redonda (Giordano Bruno já não teve tanta sorte). Darwin até hoje é maldito pelos religiosos de plantão, defensores das "Tradições" dos tempos de Adão e Eva. Que posso esperar então, numa terra de anônimos em recuperação da capacidade de discernir entre o falso e o verdadeiro?
Com todo respeito: com relação a esse assunto, dispenso seu retorno! Quem sabe depois que você tiver uns quinze anos de sala!...
Seja feliz, de preferência, sem o conformismo do botox!