Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

22 novembro 2010

O Vício de Evitar

Os Companheiros Escolhidos Pelos Viciados em Amar. 
Características do Viciado em Evitar

Os Viciados em Amar são atraídos para pessoas com certas características identificáveis e previsíveis, e por outro lado pessoas com essas características sentem-se atraídas pelos Viciados em Amar. O primeiro atributo de um parceiro “Ideal” para um Viciado em Amar é a capacidade de evitar.

CARACTERÍSTICAS DO VICIADO EM EVITAR

Os Viciados em Evitar possuem pelo menos três características que se combinam para evitar a intimidade.

  1. Viciados em Evitar criam oportunidades de fuga do relacionamento ao assumir intensamente outras atividades (geralmente vícios), fora do relacionamento.
  2. Viciados em Evitar não se dão a conhecer, para se protegerem do controle e envolvimento por parte da outra pessoa.
  3. Os Viciados em Evitar rejeitam o contato íntimo com seu parceiro usando uma variedade de métodos que chamo de técnicas de afastamento.

Tenho encontrado as características do Viciado em Evitar mais freqüentemente no parceiro masculino de um relacionamento romântico entre um homem e uma mulher, embora existam relacionamentos em que o oposto é verdadeiro. É possível que num relacionamento homossexual um dos parceiros possa comportar-se como Viciado em Evitar. Além desses, essas características surgem também em muitos tipos de relacionamento - com crianças, pais, padrastos e madrastas, cliente-terapeuta ou amigos íntimos, para citar apenas algumas possibilidades.

O abandono é um aspecto fundamental nos relacionamentos que os Viciados em Evitar mantêm com os outros. Não se mostram como são para os filhos e conduzem sua vida por trás de muros emocionais protetores; como controladores invisíveis de marionetes, tentam continuamente controlar as escolhas das pessoas com quem se relacionam.

DOIS TEMORES: UM CONSCIENTE, OUTRO INCONSCIENTE

Os Viciados em Evitar temem conscientemente a intimidade porque acreditam que seriam drenados, engolfados e controlados por ela. Como veremos, na infância eles foram controlados pelas necessidades, pela realidade e pela existência de outra pessoa, e não pretendem repetir a experiência. Os Viciados em Evitar ficam com a ilusão de que maior intimidade implica em mais sofrimento, baseados na experiência infantil e nos Viciados em Amar que encontraram.

Ao mesmo tempo, o Viciado em Evitar sente o abandono no mesmo nível. Esse temor é inconsciente, embora em alguns casos possa aflorar à consciência. O temor na idade adulta deriva do abandono em criança, pois quando uma criança passa a sustentar um pai ou mãe, este deixa de considerar as necessidades emocionais da criança. Embora o abandono seja uma experiência menos óbvia para o Viciado em Evitar do que o envolvimento, é também real. Como o Viciado em Evitar em geral não faz contato na infância com outro ser humano que alivie a dor, o medo e o vazio do abandono, não aprende que um relacionamento pode contribuir para esse alívio. E no entanto é o medo inconsciente de ser abandonado que impele o Viciado em Evitar para os relacionamentos, embora tenha grande dificuldade em assumir compromissos e fazer contato com o parceiro.

Num nível inconsciente, o Viciado em Evitar reconhece o medo enorme do companheiro de ficar sozinho, e sabe que tudo o que precisa fazer para obter o que quiser é ameaçar abandonar o outro. Percebem que controlando o outro dessa forma evitarão ser drenados, envolvidos, controlados e, num nível mais profundo, evitarão o abandono.

Portanto, o Viciado em Evitar possui os mesmos temores que os Viciados em Amar intimidade e abandono. A diferença está na consciência. Os Viciados em Amar temem mais o abandono, e têm medo inconsciente de intimidade, o que provoca a escolha de alguém que não queira partilhar intimidade. Os Viciados em Evitar têm muito medo da intimidade, e medo inconsciente do abandono. Isso os mantém em vantagem nos relacionamentos, onde podem sentir-se poderosos, satisfazendo as necessidades do outro sem se deixar envolver.

EVITANDO A INTENSIDADE NOS RELACIONAMENTOS

Um dos principais objetivos do Viciado em Evitar é manter a intensidade do relacionamento restrita a um mínimo, pois sente-se cansado, assustado e ameaçado quando a intensidade aumenta. Evitam a intimidade concentrando-se de forma dependente em algo fora do relacionamento. Qualquer vício serve, e o efeito é o mesmo: não estão disponíveis para o relacionamento. Os parceiros ficam com a impressão de que eles não estão se entregando ao relacionamento, pois na verdade não estão mesmo.

Além disso, a intensidade da concentração fora do relacionamento dá aos Viciados em Evitar um sentimento de energia, de estar envolvendo-se com a vida; eles não sentem essa energia no relacionamento porque a mantêm em baixa intensidade. A consciência dessa ausência de energia provoca um sentimento de abandono.

EVITANDO SER CONHECIDO PELO PARCEIRO

Como já vimos, intimidade envolve partilhar informações sobre si mesmo para um ouvinte desprovido de julgamento. Os Viciados em Evitar, quando confrontados com o contato íntimo, tentam evitar que o outro os conheça e controle. Esse aspecto se manifesta na relutância em contar aos parceiros o que desejam e necessitam, exigindo que eles adivinhem.

O medo de ser manipulado vem desde a infância, quando as informações partilhadas foram usadas “traiçoeiramente” para manipulá-los de acordo com a vontade da pessoa que cuidava deles. Além disso, como vimos, o Viciado em Amar gosta de envolver o parceiro e de ser amado incondicionalmente; para isso usarão os dados pessoais dos Viciados em Evitar, sem a menor hesitação. Se o Viciado em Amar não consegue realizar algo que lhe foi pedido diretamente, o Viciado em Evitar sente-se abandonado, como foi em criança.

EVITANDO OPORTUNIDADES DE CONTATO ÍNTIMO

NO INTERIOR DO RELACIONAMENTO


O Viciado em Evitar utiliza várias técnicas de afastamento para evitar a intimidade. Esses processos incluem utilizar barreiras ao invés de frontei ras sadias, manter alguma forma de atividade externa, utilizar recursos psicológicos e aderir a algum tipo de vício. 

USANDO BARREIRAS AO INVÉS DE FRONTEIRAS SADIAS

O contato íntimo e saudável entre duas pessoas ocorre quando uma delas partilha sua realidade com a outra, e esta a compreende sem julgá-la, ou tentar mudá-la. Isso pode acontecer em vários níveis de realidade: física, sexual, emocional e intelectual. Fronteiras sadias são um ingrediente vital para uma troca mútua. Oferecem proteção, de forma que podemos escutar confortavelmente a realidade de outra pessoa, mesmo quando não gostamos. As fronteiras servem para curvar nossa própria realidade de forma que possamos expressá-la sem ofender ou invadir o espaço dos outros.

Um dos sintomas primários que muitos codependentes manifestam é a impossibilidade de manter fronteiras sadias. Algumas pessoas usam muros ao invés de fronteiras; as barreiras nos protegem, mas são um obstáculo para a intimidade. É quase impossível ocorrer a intimidade quando uma das pessoas, ou ambas, utilizam muros.

Imagine que está em pé, no limite de seu jardim, na divisa com seu vizinho. Essa divisa de propriedade é uma fronteira sadia. Você sabe onde fica, pode enxergar o outro lado, falar com seu vizinho através dela e construir assim um relacionamento. Mas tanto você quanto ele sabem onde começam os direitos de cada um. Se você constrói um muro alto de tijolos, ou uma cerca de madeira ao longo da linha divisória, existe um obstáculo físico entre você e seu vizinho. Você não mais pode vê-lo, ou falar facilmente com ele. O muro dá proteção e privacidade, mas interfere em seu relacionamento com o vizinho. Embora muros altos de tijolos possam ser vantajosos no que diz respeito à nitidez da fronteira, barreiras no relacionamento impossibilitam a intimidade.

Vários tipos de obstáculos interferem em nossa habilidade de relacionamento com outras pessoas. Muros de raiva e medo, por exemplo, afastam os outros com emoções fortes. Viciados em Evitar podem utilizar a barreira do silêncio, muito eficaz para reduzir ao mínimo a conversa; uma barreira de maturidade artificial, mantendo a aparência de calma o tempo todo e nunca demonstrando emoções (para evitar o aumento da intimidade); e uma barreira de polidez, agindo com educação o tempo todo, a ponto de poupar notícias ruins sobre o relacionamento - notícias que poderiam levar à discussão dos assuntos (evitar intimidade intelectual e emocional).

USANDO SUBTERFÚGIOS

Outra técnica utilizada pelo Viciado em Evitar consiste em manter-se ocupado com alguma outra coisa na presença do outro. Dirigir com o rádio ligado é um exemplo comum, assim como a televisão sempre ligada quando se está em casa, ou o hábito de consertar coisas e dedicar-se a passatempos. Algumas vezes o Viciado em Evitar envolvese com um esporte, como tênis ou boliche, apenas para passar mais tempo fora de casa.

Não há nada de errado com essas atividades, a não ser quando são utilizadas apenas para evitar um contato mais íntimo. Mesmo quando duas pessoas participam juntas de um esporte, tal como um pai e um filho que joguem golfe, ou caçam juntos, o envolvimento pode ser um substituto para evitar confidências.

CONTROLANDO O RELACIONAMENTO

A relação entre valor, poder e dinheiro em nossa cultura é um assunto fascinante. Sempre que nosso sentido de valor aumenta, nosso poder e a habilidade de produzir dinheiro também aumentam. Usando o mesmo raciocínio, se nos tornamos poderosos de alguma maneira, nosso senso de valor e a habilidade de ganhar dinheiro aumentam. Uma mudança em qualquer das três variáveis, implica em mudança das outras duas na mesma direção - para cima, ou para baixo.

Os Viciados em Evitar tentam controlar o dinheiro, ter mais poder e mais valor como formas de controlar o parceiro. Essa necessidade de controle deriva de seu maior temor: que alguém lhes diga como devem ser.

À primeira vista parece contraditório que uma pessoa, esforçando-se tanto para evitar o relacionamento, também queira controlar o companheiro de forma a evitar que ele saia. O que evita que essa pessoa se desligue e tome-se um eremita? Acredito que seja o medo inconsciente de ficar abandonado, e a sensação de poder que emana de ser encarado como salvador pelo Viciado em Amar, aparentemente impotente. O Viciado em Evitar deseja e precisa de um relacionamento, mas quer esse relacionamento da forma mais protegida possível, por medo de ser controlado. Utiliza a dinâmica dos valores, do poder, do dinheiro, e a recusa de intimidades para poder controlar a relação.

Outro método de dominar consiste em trabalhar duro para vencer e estar certo em todas as situações, porque estar errado levaria a uma perda de controle. Uma técnica diferente é evitar discutir, para não ter de enfrentar a lógica dos argumentos do parceiro, e acabar admitindo um erro, o que equivale a perder o controle.

Alguns Viciados em Evitar também usam força física para controlar o Viciado em Amar. Esse é um fator importante no estudo de relacionamentos com violência física.


O VICIADO EM EVITAR É ATRAÍDO PELA CARÊNCIA E
VULNERABILIDADE DO VICIADO EM AMAR



Viciados em Evitar são atraídos pela carência, dor e vulnerabilidade do Viciado em Amar. Sentem-se seguros por que essas características os colocam em posição de controlar o outro, e confiantes em poder fazê-lo. Esse sentido de poder e confiança, além do fato de ser encarado como Poder Maior, são os fatores que atraem os Viciados em Evitar para os Viciados em Amar.


O Viciado em Evitar sente-se seguro e desejado, como quando tomava conta dos pais. Na realidade, não enxerga o que o Viciado em Amar realmente é, mas atribui a ele as mesmas qualidades da pessoa de quem cuidou emocionalmente na infância. Como se vestisse a máscara do personagem no parceiro. O resultado disso é que nenhum dos dois pode ver o outro como realmente é.

Não se trata apenas de uma atração unilateral, pois o Viciado em Evitar sente-se atraído por pessoas com características de um Viciado em Amar. Como nos contos de fada, podemos dizer que foram feitos um para o outro. Essa “compatibilidade” contribui para o fato de que um filho adulto e Viciado em Amar pode continuar participando de uma relação interviciada com a mãe Viciada em Evitar, mesmo que ele seja casado. Nesse caso ele abandona a esposa e a família (tomando-se assim um Viciado em Evitar em relação à mulher).

Um Viciado em Evitar que seja terapeuta, pode experimentar atração por uma cliente Viciada em Amar. Tal terapeuta teria a clientela formada principalmente por pessoas dependentes, carentes, e prontas para tornar o terapeuta seu Poder Maior.

(...)


QUEM É A VÍTIMA?

A imaturidade combinada de cada um intensifica o relacionamento interviciado e também o torna caótico e não confiável. Os dois são responsáveis por isso. Nenhum é mais sadio ou doentio do que o outro, pois cada um à sua maneira explora o outro. O Viciado em Amar pode parecer uma vítima indefesa, e o Viciado em Evitar pode parecer mau, ou insensível, porém os dois atingem o companheiro; nenhum é vítima isolada.

O que complica o assunto é que numa relação amorosa esperamos que nossos companheiros se comportem com maturidade, embora nós mesmos continuemos agindo como crianças mimadas, reclamando e esbravejando. Nunca esquecerei o dia em que saí do estado de negação, parei de me iludir sobre minha maturidade e comecei a enxergar a realidade da pessoa com a qual meu marido estava vivendo - eu. Sair da negação foi um grande choque, mas acredito que foi o início da minha recuperação.

Os ciclos que estivemos mostrando são imaturos, estéreis e cheios de dor.

Felizmente existe uma forma sadia e compensadora de conviver num relacionamento.


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Do Livro - O Vício de Amar - Pia Melody
Editora: Best Seller / Círculo do Livro
Ano: 1992
Número de páginas: 263
Acabamento: Capa Dura
Formato: 13,5 x 21

Leia também: O Vício de Amar

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!