Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.
14 novembro 2010
Minha Filosofia Crucificada
Meu Deus! Como é difícil viver aquilo que se pensa!...
Outrora, toda a minha filosofia estava na cabeça,
Em forma de grandes idéias,
Mais tarde, a minha filosofia desceu ao coração,
Em forma de belos ideais.
E eu, na minha erudita ignorância,
Me tinha em conta de um filósofo...
E, em frases grandíloquas de altissonante eloqüência,
Proclamava aos quatro ventos a minha sapiência filosófica...
Quando, porém, tentei passar a minha filosofia
Da cabeça e do coração para as mãos,
Para a crueza da vida prática,
Para o rude prosaísmo da vivência cotidiana -
Quase que desanimei...
Verifiquei que subia ao Gólgota
E ia ser crucificado...
Da cabeça e do coração para as mãos -
Não é isto uma cruz?
Minha pobre filosofia,
Ontem tão segura e autocomplacente,
Hoje, sangrando entre os braços da cruz!...
* * *
Desde então, nunca mais falei em filosofia
Grandiloquamente,
Como se a possuísse, com segura abundância,
Como se fosse milionário do saber.
Desde então, tentei realizar,
Em humildade e silêncio,
Uma pequenina parcela
Das minhas grandes teorias,
E por feliz me dava quando conseguia viver um por cento
Das minhas idéias e dos meus ideais.
Enveredei pelo "caminho estreito"
Passei pela "porta apertada",
Deixei para cá da fronteira
Toda a minha orgulhosa bagagem filosófica
De ontem e anteontem...
Bem pouco da minha filosofia de antanho
Passou pelo "fundo da agulha" da vida real.
Abandonei aquém da fronteira fatídica
Toda aquela luxúria mental e verbal,
Como ilegal contrabando.
Mas, o pouco que passou para além
É sólido, seguro e legítimo,
É puro como ouro acrisolado
Em fornalha carinhosamente cruel.
E é este cerne da minha filosofia
Que me sustenta nas lutas da vida
E lança misteriosa ponte
Para a vida eterna...
Minha filosofia crucificada,
Morta e sepultada -
Ressuscitou -
Em plena Páscoa!
Aleluia!...
Huberto Rohden
Do livro: A Voz do Silêncio - Ed. Martin Clare
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Escolho meus amigos pela pupila
Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
Oscar Wilde