O fato deu-se minutos antecedentes à estréia brasileira na Copa do Mundo... (se bem que acho que este tema deveria ser chamado de “Copa da Terra” e não “Copa do Mundo”, pois não creio que se existir alguma espécie de vida inteligente, em alguma parte do Cosmos, esta se permita fazer uso desta medíocre forma de manipulação e embriagues emocional popular)... Sentado na sala de estar da casa de meu pai, pergunto a um recém chegado amigo sobre como estava indo a sua vida...
De forma mecânica, padronizada, respondeu-me que estava tudo bem, logo disparando a falar sobre seu assunto predileto: negócios....
É incrível como a resposta a pergunta “como vai você”, quase sempre está interligada com a questão negócios, com a situação financeira. Eu não estava nem aí para a situação financeira deste meu amigo... Eu queria saber a respeito dele! Mas vi o quanto que é difícil conseguir por uma verdadeira intimidade com outro ser humano.
Dei um sorriso para ele e permaneci quieto, a espera da continuidade do seu assunto preferido: businesses.
Colocou suas mãos nos bolsos dianteiros de sua calça jeans, encostou seu corpo obeso no batente do armário da cozinha e começou a discorrer orgulhosamente dos feitos comerciais da empresa.
Eu e meu pai, permanecíamos quietos ouvindo o discurso orgulhoso do nosso amigo.
Com grande satisfação, relatou que pela primeira vez na história da empresa, haviam conseguido entregar 95% da produção de inverno, antes da data do “dia dos namorados”. Os funcionários da empresa, trabalharam de forma acelerada talvez por dois meses, para conseguirem o feito prodigioso. Disse-nos que a direção da empresa, satisfeita com os resultados numéricos, reuniu a todos os chefes de setores oferecendo-lhes uma “pequena bonificação”. Ele então nos alegou que, como não seria possível para a empresa, bonificar a todos os seus funcionários, resolveram “gratificar” a todos com um "belo café da manhã", repleto com 600 mini-salgadinhos, entre eles, kibes, coxinhas e empadinhas. Com um sorriso orgulhoso por este feito, disse-nos que todos os funcionários ficaram satisfeitos com tal café da manhã.
Então, “emputecido” da vida, deixei o recinto para não deixar transparecer o meu real sentimento diante do fato exposto. Fiquei me questionando se não haveria pelo menos um “iluminado” dentro daquela aglomeração de “escravos”, que tenha se apercebido de que todo o trabalho acelerado de dois meses, valeu tão somente, por sabe-se lá uns 10 salgadinhos... O que corresponderia a 5 salgados por mês (cerca de R$2,50).
Então, voltamos para a sala de estar, para assistir o “tão esperado” jogo de estréia da seleção brasileira, algo que para a grande parte da população, talvez tenha o mesmo significado que o “café escravagista”, oferecido por tal empresa. Ambos, o futebol e o café servido, tem a mesma função: iludir a população quanto a sua real situação de escravidão. O funcionário nunca será o dono da empresa, muito menos o melhor jogador do mundo. Tudo pelo fato de que ele se contenta em ser um mero funcionário, ou apenas um torcedor... Torce pela empresa, torce pela seleção... Ele é somente um torcedor... Um expectador... Ele nunca será o vencedor, o campeão, ou o dono da empresa... mas ele se contenta com os kibes, as coxinhas, ou mesmo com a pipoca de microondas servida no intervalo do segundo tempo... Ele vai continuar sofrendo por mais 2 etapas de 45 minutos, ou mesmo por 2 meses para se contentar com salgadinhos e a ilusão de que é Hexa.
E assim, de café em café, de copa em copa, de governo em governo, vamos nos enganando da total falta de “excelência em nosso viver”. Vamos pintando nosso rosto cansado e sonhando com a sexta estrela, trazida pela seleção de estrelados, para uma vida de meros expectadores sem brilho em seu próprio olhar e incapazes de fazerem sua própria estrela brilhar.
E de café em café, de copa em copa... caminha a seleção de explorados!
Mas tudo bem: mais vale um gosto do que o dinheiro no bolso!