Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

12 novembro 2010

Cultores da Mediocridade

Meu ignoto amigo. Se quiseres ser impenitente cultor da rotina e mediocridade, guia-te pelas normas seguintes:

Antes de pensar, informa-te sempre o que deve ser pensado, a fim de não introduzir no mundo o contra bando de idéias novas.

Não penses nunca com o próprio cérebro — mas sempre com a cabeça dos outros.

Dize sempre sim quando os outros dizem sim — e não quando os outros dizem não.

Lê cada manhã, ao café, o teu jornal, para saberes o que deve ser pensado naquelas 24 horas.

Quando vier alguém com idéias novas, evita-o como um perigo social e tem-no em conta de herege e demolidor.

Não te exponhas ao perigo de fazer o que o vizinho não faz — mas lembra-te da comprovada sapiência burguesa: o seguro morreu de velho.

Sê amigo dedicado da tua tépida poltrona — e não te exponhas a vertigens de vastos horizontes.

Prefere sempre as paredes maciças dum cárcere e as grades duma gaiola às incertezas dum vôo estratosférico.

Não abras nunca portas fechadas — abre tão somente portas abertas.

Não explores caminhos novos, como os bandeirantes — anda sempre por estradas batidas e sobre trilhos previamente alinhados.

Vai sempre com o grosso do rebanho, como os bons carneiros — e não procures caminho à margem da rotina geral.

Em suma, meu insigne cultor da mediocridade: Deixa tudo como está para ver como fica.

Destarte, conservarás a saúde e a tranqüilidade dos nervos e poderás tomar, cada dia, com sossego, teu chope ou coquetel — e passar por homem de bem.

* * *

Se, porém, resolveres, um dia, sair da rotina tradicional e expor-te ao perigo mortífero dum ideal superior, então lê com atenção o que te diz um homem que conhece a vida:

Vai às margens do Ganges e pede ao mais robusto dos elefantes que te ceda a sua pele paquidérmica, para com ela revestires a tua alma.

Vai as praias do Nilo e arranca ao mais velho dos crocodilos a sua impenetrável couraça e faze dela o invólucro do teu coração.

Senta-te aos pés de mestre Zenon, rei dos Estóicos, e pede que te ensine à filosofia de ser pedra in bloco de gelo, cadáver ambulante, indiferença absoluta.

E, depois de assim encouraçares a tua alma, sai por este mundo afora e dize aos homens da honesta mediocridade que vives por um ideal que não está no estômago, nem nos nervos nem no sangue — e verás que eles te declararão guerra de morte.

Pois, deves saber, meu amigo, que o mundo não sacrifica um só ídolo por um ideal.

Desde que o mais arrojado idealista da história foi crucificado, morto e sepultado — são todos os idealistas crucificados pelos culto da mediocridade.

Nada de grande acontece no mundo sem que o mundo se revolte.

Tudo que é belo e grande — acaba fatalmente entre os braços da cruz.

É esta a gloriosa tragédia dos homens superiores.

Huberto Rohden - Do livro: De Alma paraAlma

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!