Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

13 novembro 2010

Imaturidade emocional



Durante muito tempo, fiz dos grupos anônimos de auto-ajuda uma espécie de "antidepressivo". Vamos ver se eu consigo passar por intermédio das palavras, o que eu estou querendo dizer, uma vez que eu não tenho sido muito bem compreendido ao falar sobre isso, sofrendo até, uma série de retaliações por parte de certas pessoas, que ao me ouvirem, alegam que eu estou querendo afastar as pessoas das salas de reuniões.

Numa certa literatura de um destes grupos de anônimos, chamado livro marrom, que durante muito tempo ficou sem ter a sua tradução na íntegra, contendo os capítulos que ao meu ver, são os mais importantes de toda a literatura desta Irmandade, há uma citação que afirma, que o doente emocional não pode se recuperar e ter uma vida serena, equilibrada e feliz, enquanto estiver fazendo uso de antidepressivos. É preciso levar em consideração que nossa mente é uma mente preconceituosa e por isso, não podemos nos ater ao conceito formado em relação à palavra anti-depressivo. Por exemplo, quando eu digo a palavra anti-depressivo, o que vem a sua mente? Uma caixinha com uma cartela de bolinhas brancas ou coloridas?... Mas, para mim, anti-depressivo é tudo aquilo pelo qual faço uso para não entrar em contato com meus conflitos interiores, minhas dores e minhas emoções. Creio que um dos meus primeiros anti-depressivos, ainda na fase infantil, foram os seios de minha mãe, a chupeta com o melzinho, a mamadeira, a promessa de engolir o choro e ganhar uma bicicletinha... Então, tudo que eu estiver fazendo uso para não sentar com a minha dor, que é uma reação inteligentíssima da minha alma, que me diz:

 "olha, você se afastou do seu caminho, você está deixando de ser você para se conformar com o que os outros querem que você seja, a dizer não a sua palavra, mas as palavras que o outro quer que você diga, a fazer o que os outros querem que você faça, a manter relacionamentos afetivos e ou profissionais que já estão com seus prazos de validade vencidos!"

Eu venho de uma família disfuncional onde nunca pude dizer o que eu pensava, o que eu sentia com relação ao meu descontentamento, minhas vontades, onde eu nunca tive explicações para a série de "nãos" que eu recebia... Então, fica fácil de compreender o porque de um doente emocional tem extrema dificuldade com pessoas que representam qualquer tipo de autoridade... Eu nunca pude expressar abertamente os meus sentimentos, nunca tive a validação dos mesmos! O primeiro lugar onde me senti aceito incondicionalmente foi nos grupos anônimos de auto-ajuda e por isso, os mesmos se tornaram extremamente importantes para a manutenção do meu equilíbrio emocional de outrora. E no decorrer da minha busca pela compreensão do porque dos meus conflitos interiores, vim a descobrir que os meus desequilíbrios emocionais começaram muito cedo, por intermédio de uma doença que não consta na classe médica, a qual eu denomino de "conformose", que é a doença do conformismo - a doença de se conformar com a linguagem dos mais antigos -, que quebrou a minha autenticidade, a minha originalidade, minha espontaneidade, fazendo com que a mesma se agravasse para uma outra forma de doença hoje chamada "normose" - a doença de querer ser "normal" conforme os ditos da sociedade. Não estou querendo dizer com isso, que meus pais ou as pessoas significativas da minha vida são responsáveis pelo meu antigo modo de viver e seus conseqüentes conflitos. Não! Em absoluto! Tenho a consciência de que os mesmos deram o melhor do que tinha para dar... éramos prisioneiros entre prisioneiros!... Se é que alguém deva ser responsabilizado, nesse caso, esse alguém sou eu mesmo - por ter aceitado romper com a minha divina rebeldia em nome de uma aceitação condicionado por parte de terceiros. Observe uma criança: veja como ela é rebelde e veja como ela vai se deixando lentamente ser "moldada" pelas palavras dos mais antigos... Em nome de uma aceitação condicionado a qual era chamada de "amor", eu neguei meus sentimentos mais profundos, eu neguei minhas vontades, meus pensamentos, eu neguei aquilo que eu queria fazer, aquilo que eu gostaria de ser! E aí eu fui me conformando, me conformando, me conformando...E fui me conformando com as palavras dos familiares, dos professores, dos amigos de escola e por ai a fora... E fui perdendo meu centro, fui me fragmentando... me transformando numa marionete parental e social. E passei a acreditar que eu só era alguém se estivesse vestindo a calça da marca tal, o tênis de borracha da marca tal, de que eu só era homem se estivesse "comendo" um monte de mulheres, se fosse "o fódão", "o cara", se tivesse o carro da marca tal, e o diploma de "tal" faculdade com especialização na Universidade de "tal" país... ou seja, um modo de vida insano embasado no que os outros queriam que eu vivesse, que eu acreditasse sem a menor chance para questionamentos (acreditar no deus do outro). Eu não tive o menor incentivo para pensar por mim mesmo, a correr o risco de ficar comigo, de ficar com os meus sentimentos, com meus pensamentos, a sentar com meus medos e conflitos e compreender a razão dos mesmos e a mensagem de expansão de consciência embutida em si mesmos. É lógico que essa excessiva exposição à normose - na tentativa insana de acompanhar o que a sociedade dita como normal - acaba levando o ser humano que ainda tem um pouco de sensibilidade, que não vendeu toda a sua essência, à uma série de outras "oses": neurose, esclerose e artrose dos sentimentos e conseqüentemente do corpo físico...

Mas, graças a um bom Deus - não ao deus do outro - encontrei ajuda nestes grupos anônimos, os quais me apresentaram uma programação espiritual sem cunho religioso, capaz de "desprogramar" toda informação que pela qual fui programado, pois continuar vivendo através da programação social que me foi passada, continuar querendo ser normal, seria a maior manifestação de imaturidade emocional... Negar aquilo que eu realmente sinto em nome de ser aceito por quem quer que seja, para mim, é imaturidade emocional. Esse "programa espiritual" me ajudou a fazer um minucioso e destemido inventário da minha moral, do pacote de tudo que eu fui por intermédio dos relacionamentos parentais e sociais.

Durante muito tempo fugi da minha dor de forma inconsciente, através dos relacionamentos afetivos e sexuais, que são "drogas" fortíssimas, socialmente incentivadas, mas que as pessoas ainda não conseguem ver como uma espécie de droga, apesar do fato de que, muitas vezes, ao nos encontramos com algum conhecido, acabamos por perguntar:

- E ai? Como vai a sua vida, como vai o seu relacionamento?

E não é raro ouvirmos a seguinte resposta:

- Está uma droga, mas sabe como é, a gente vai levando, vai empurrando com a barriga!

Empurrar a vida com a barriga... 

Creio que esse é o maior sacrilégio que um ser humano pode cometer contra si mesmo.

Eu sou um dos que não quer levar a vida, que não quer empurrar a vida com a barriga, que não quer se conformar com o modo de vida do outro, com o deus do outro, com a filosofia do outro. Eu sou um dos que ainda não está satisfeito! Do lar e da sociedade que eu vim, nunca me foi permitido externar a minha insatisfação de maneira franca e direta. Nunca pude dizer de peito aberto: "Eu sou um insatisfeito!" Pelo contrário, eu tinha que omitir isso e vestir a máscara da felicidade o tempo todo. E hoje, eu percebo que eu tenho mais é que afirmar isso quantas vezes sentir a necessidade, pois eu ainda não estou pronto; Deus ainda não me terminou e eu não vou me conformar a ficar somente fora do chamado "fundo de poço" - bebendo água na lata do outro - porque isso vai fazer com que eu sinta sede o tempo todo. Eu comprei o desafio de novamente descer nesse poço, cavar bem fundo, tirar o monte de terra do condicionamento parental/religioso/social, tirar o condicionamento da idéia de Deus que não me serve mais por não saciar a minha sede e chegar ao mais fundo deste poço e encontrar pela "nascente" da água que mata a sede..

Hoje, vejo que tudo é evolutivo na natureza e da mesma forma, para mim, a concepção de Deus também é evolutiva. As por mim chamadas "amostras grátis de Deus" - foram somente amostras grátis e eu não quero me conformar a ficar vivendo de amostras grátis. Isso para mim seria o maior sinal de imaturidade emocional. Hoje percebo que para muitas pessoas, o sair do fundo de poço e voltar a ser "normal" é o suficiente, mas para mim, não tem como. E eu costumo brincar que na terra de doentes emocionais, a pessoa que tem um olho vira palestrante ou escritor de auto-ajuda, uma vez que ninguém quer se dar o trabalho de pesquisar por si mesmo - e isso é uma pena! Por que é justamente a preguiça e o conformismo as idéias dos outros é que nos mantém dentro da normose. Durante muito tempo eu me conformei com o pensamento do outro, com a idéia do outro, com a religião do outro, com a experiência do outro. Mas, a idéia e a experiência do outro é do outro. Ela não sacia! Quando você deita a sua cabeça no travesseiro é você que está lá e não o outro. Estou conseguindo passar para você? Estou conseguindo passar que a experiência do outro pode servir tão somente como uma espécie de "seta orientadora"? Pois bem!

O que vejo, é que infelizmente, boa parte da humanidade prefere ficar agarrado aos pés dessas "setas orientadoras", idolatrando-as, fazendo propaganda de seus pensamentos e ensinamentos - repetindo sua história, seus dizeres, mas nunca, experimentando por si mesmo. Preferem o comodismo de ficarem agarrados a essas setas ao invés de olhar com seriedade para onde apontam essas setas e seguir viagem solitária. Eu sou um dos que não se conformaram em ficar na idolatria e propaganda de terceiros e que fez o movimento de se debruçar numa pesquisa interna e externa, de querer saber dos vários por quês da vida. Eu não me conformei, eu quis mais.

Na minha experiência, na minha compreensão, a proposta destes grupos anônimos de auto-ajuda, é a de que eu seja inclusive livre da dependência delas mesmas. Eu estou me fazendo entender? Você não irá deturpar meus pensamentos e sentimentos e sair por ai dizendo que eu estou querendo afastar todas as pessoas desses grupos? Você tem maturidade emocional para entender isto?

Eu fiz destas salas de anônimos o meu "anti-depressivo". Eu me escondi da vida e suas relações dentro destas salas. Eu fiz do telefone e dos ouvidos das pessoas o meu anti-depressivo. E pude perceber nisso tudo que existe uma espécie de codependência emocional. Ambos precisam disso para dar sentido a própria existência e anestesiar os próprios medos. Um depende do outro... Mas, se você fizer um movimento para parar de falar de paz de espírito, para parar de falar de recuperação, para parar de falar de Deus, para parar de falar de problemas e sintomas... Isso assusta as pessoas e elas não querem saber disso! E nós podemos passar uma vida inteira falando de paz de espírito, falando de Deus, falando do sentido de viver... Falando, falando, falando e falando! Mas, papagaio também fala e bafo de boca não cozinha ovo!

É preciso ter em mente que a doença emocional é uma doença progressiva e de determinação fatal, que pode levar a pessoa a loucura ou a morte prematura. E quando eu digo morte prematura, não estou querendo dizer a morte física... Eu estou falando de viver sem brilho no olhar, sem o tesão de viver, com medo de sair da cama na segunda-feira pela manhã! Você me compreende?

Nestes últimos anos, eu tive a felicidade de viajar por vários cantos do país, transmitindo um pouco da minha experiência pessoal de recuperação da doença emocional e tendo três gravações em fitas K7 destas minhas experiências. E, em vários lugares tenho encontrado pessoas me dizendo o quanto que estas fitas lhes tem ajudado. Algumas dizendo até que passam o dia ouvindo essas fitas assim como as fitas de outras pessoas. E eu lhe digo que eu no mais fundo do meu intimo, peço a Deus para que essas pessoas tenham o mais depressa possível, condições de jogarem essas fitas bem longe, para que não se conformem em passar o resto de suas vidas ouvindo a fita do outro, mas que ao contrário disso, se dêem ao trabalho de se sentarem consigo mesmas, com suas próprias dores e conflitos, ouvindo a própria fita que é. A fita do outro é do outro e não tem o potencial de saciar nossa sede por unicidade. Ela pode servir tão somente como um antidepressivo e só! Por favor, compreenda que eu não estou tirando os méritos das mesmas! Tente ver isso que eu digo, sem preconceituar, sem as lentes do medo e da insegurança. Será que essas fitas são realmente necessárias, será que realmente possam ser benéficas?

Respondo que SIM! - desde que não nos conformemos em parar por ai, desde que a gente não fique preso nas mesmas e que sem perceber façamos das pessoas que falam, das pessoas que fazem as palestras, autoridades anônimas, mas que as usemos como setas em nosso caminho solitário. Por favor, não vamos nos relacionar com imagens! Gente, eu sou um cara que solta "pum", que acorda com mal hálito pela manhã (e por vezes de mau humor!) e é triste você olhar para as pessoas e ver que muitas delas te vêem como se você fosse alguém superior.

Isso é outra coisa que eu compreendi nesta minha caminhada; que durante muito tempo da minha vida, eu me relacionei não com pessoas, mas com as imagens que eu fazia de mim mesmo e destas pessoas. E eu creio que imaturidade emocional é permanecer insistindo em se relacionar com imagens e não com aquilo que realmente é.

Essas são coisas que eu não sou responsável por pensar e sentir e é por isso que eu as expresso porque é justamente isso que está me dando condições de não mais depender de uma sala de anônimos, de terapeutas, de pessoas e suas idéias de como viver a vida e de ter a coragem de ficar comigo mesmo que eu esteja errando! Hoje tenho a consciência de que se eu estiver aberto, se for um erro o que estou vivendo, a própria abertura para a vida vai me apresentar isso e não haverá espaço para a culpa. Quando há mente aberta, não há espaço para a culpa! Só há a responsabilidade de se trabalhar com o que se está vendo como sendo um erro. E eu continuo afirmando que maturidade emocional é a capacidade de ficar com aquilo que hoje eu vejo como verdade e ficar com isso e ser fiel a isso.

Hoje vejo que a proposta desses grupos anônimos de auto-ajuda é a de ajudar a pegar os pedacinhos resultantes da fragmentação de um modo de vida calcado em responder as expectativas insanas dos outros e é preciso ter em mente que o grande inimigo do doente emocional é a preguiça mental e o conformismo. Se eu quiser ser uma pessoa que vivencie um estado de bem-estar comum, com unidade interna, com integridade, com segurança, não fragmentado, não dependendo de doações psicológicas de fora - quando digo doações de fora não me refiro a bens materiais, me refiro a idéias, métodos, pensamentos, modos de vida - se eu quiser isso, eu preciso me aprofundar neste poço. E é justamente isso o que tem feito com que eu tenha condições de descobrir a minha mensagem e não a repetição da mensagem resultante da experiência de terceiros. Estes grupos anônimos possuem uma mensagem pela qual pude me descondicionar das mensagens que me preencheram de conflitos, mas depois eles me dizem o seguinte:

"Agora, trate-se de se descondicionar dos condicionamentos que você formou até aqui dentro destes grupos!".

Essa é uma experiência minha, pois no transcorrer do meu "processo", fui percebendo que até dentro dos grupos de ajuda, nos conformamos ao método, ao movimento, ao imitar da mesma forma como imitamos aqui fora, a manter ídolos, a endeusar pessoas, pois é uma necessidade básica do doente emocional buscar por ídolos, por pessoas que representem causas, pois isso lhe dá uma certa segurança psicológica...

É que a vida está tão monótona que eu preciso de alguém que teve brilho no olhar. E hoje, eu não quero mais viver do brilho do outro eu não quero mais viver da história do outro; eu quero a liderança do que se convencionou chamar de "Deus" se manifestando de forma amorosa na minha consciência e não na consciência de um grupo ou de uma pessoa, pois se eu me limitar à consciência de um grupo ou pessoa, nunca poderei chegar mais longe de que os mesmos chegaram e a proposta desses grupos de ajuda é o de um programa de recuperação de prática individual.

Eu posso dizer abertamente que devo o meu renascimento a estes grupos anônimos de auto-ajuda! Mas eles me disseram no mais profundo do meu ser:

- "Olha, Deus é tão maluco que confiou a sua vida a você mesmo, não venha jogar para nós o seu problema! Deus lhe deu um bumbum para se sentar e uma cabeça para pensar nos seus conflitos e buscar pela compreensão dos mesmos, por você mesmo!".

Hoje, eu não compro mais a carga de ser um codependente, um facilitador da preguiça mental do outro... Cabe aqui um novo lema: Viver e deixar morrer! E insisto em falar que morrer, não significa perder a existência, mas, perder o brilho de viver, a chama do olhar, o tesão pela vida, o espírito criativo. Morrer é ter que passar a vida fazendo uso de "drogas de aluguel" e um monte de festinhas e reuniões sociais para me distrair da minha insatisfação juntamente com outros insatisfeitos. Eu fiz isso durante muito tempo, mas chegou um momento em que isso não me deu mais prazer e nem a segurança psicológica de pertencer a um grupo. Caiu a ficha para mim que a distração me trai e ao me trair me destrói. Então eu posso ficar me distraindo com um monte de coisas, mas... Na segunda-feira a vida está lá! Está lá também aquela "voz baixinha" me dizendo ao pé do ouvido: "Essa sua distração e essa sua alegria é uma farsa!". E vestir essa máscara de que eu sou um cara realizado, de que eu estou sempre bem, de que eu já não tenho mais nenhum conflito... Não, eu não quero isso para mim. Eu quero poder ser espontâneo, autêntico, ser eu mesmo e não o que os outros querem que eu seja! É isso que eu entendo por maturidade emocional e é isso que hoje eu defendo, independente da sua aprovação!

Muitas pessoas me olham com aquele velho olhar de reprovação quanto aos meus pensamentos, com aquele olhar do tipo "você não pode pensar ou dizer isso!" Mas, eu não tenho culpa de pensar e sentir assim. Eu te pergunto: "Onde é que se desliga os pensamentos e os sentimentos?" Onde?

Hoje, para mim, não existe um certo ou um errado definitivo, pois tudo é mutável. O que é certo hoje, daqui a minutos pode ser visto como errado e vive-versa. O certo e errado é relativo ao grau de consciência, de maturidade, de costumes, crenças, da localidade e sociedade em que se vive... Quando comecei a me tornar consciente disso, comecei a experimentar uma maior leveza interior, menos cobranças e mais aceitação do que é. Eu comecei a me sentir mais livre para me sentar com meus pensamentos e sentimentos e ver que eu não sou os pensamentos e que tenho condições de observá-los e seguir o que for melhor para mim hoje. Hoje, os meus pensamentos, meus desejos e meus instintos são apenas servidores de confiança não tendo mais o poder de me governar. Para chegar nesta consciência de hoje, teve todo um trabalho de autoconhecimento e questionamento de crenças, padrões e conceitos. Este trabalho interno tem me dado um equilíbrio emocional, mas no fundo no fundo, ainda falta! E chego até achar que essa falta é algo providencial pois é ela que me empurra, que me anima, que me faz busca e que faz com que eu não caia na conformose.

Sabe aquela sensação de vazio que bate durante os intervalos da televisão? Aquele que te faz dar um pulinho da cozinha e abrir a geladeira? Pois é... Ele mesmo! Esse vazio sempre esteve lá, mesmo antes das "drogas de aluguel e as drogas anestesiantes!" E cada anestésico que fui tirando, esse vazio foi se tornando mais claro, só que ao mesmo tempo, eu fui adquirindo condições de me sentar com ele, sem fugir, sem tentar preenchê-lo com coisas externas. E isso não é um trabalho fácil porque a mente, essa comadre fofoqueira, está sempre procurando por coisas externas para preencher esse vazio. Você já se percebeu o quanto é difícil ficar sem fazer nada? Como a mente começa a dizer que estamos perdendo tempo, que temos que fazer algo, participar de algo! Tem que estar lendo, tem que estar fazendo alguma coisa... Os malditos "tem que" da nossa infância! Você tem que fazer alguma coisa! Eu cresci sendo bombardeado por essa frase! Faça alguma coisa, menos sentar e "ser"!

Não sente, não pense, não seja você, não diga o que você sente e muito menos o que você pensa! Não olhe para os seus pensamentos... Conforme-se! Seja um medíocre! Não!... Eu não quero isso para mim!

É isso que está fazendo com que eu não esteja mais me relacionando com imagens. Sim! A vida toda eu me relacionei com imagens e fui "formatado" por essa sociedade que vive de imagens e que vende seus produtos sempre agregado de imagens! Hoje, me relaciono com uma mulher, com um ser e não com sua imagem. Porque eu fui ensinado a me preocupar com a estética e não com seu conteúdo; não fui ensinado a olhar para o ser, ver se existe uma afinidade de almas, um encontro de buscas. Não! O que contava era só a horizontalidade e nada de verticalidade.

Hoje, eu já não tenho mais um "emprego", hoje eu tenho uma "vocação". Eu nunca fui ensinado a buscar pelo que eu amo, pelo que me maravilha, pelo que me encanta e que me faz perder noites de sono. Não! Eu tinha que trabalhar, eu tinha que fazer algo, eu tinha que ajudar! Quando eu comecei a tomar conhecimento de tudo isto, então as coisas começaram a fazer sentido e hoje, eu já não quero mais trabalhar naquilo que os outros acham que é melhor ou no que me dá mais fonte de renda. Você me compreende?

Creio que já escrevi demais! Se ao término destas linhas, apenas um dos leitores tenha me compreendido e comungado comigo, já valeu a pena!

Estes grupos anônimos de auto-ajuda são tão maravilhosos que eles me dizem:

"Vá e transmita a sua mensagem em todas as suas atividades. Não se prenda a nós! Não se limite as nossas salas, pois a irmandade não está nas salas, mas neste mundo a fora!"

Hoje eu não mais me considero um "doente", mas sim um instrumento afiado do-ENTE, desse ser que me faz ser. Hoje tenho a consciência de que podemos ser instrumentos desafiadores de uma busca de integração interior, ou se preferirmos, instrumentos mantenedores da normose coletiva, do conformismo e da estagnação.

Conformose, normose, neurose, psicose, esclerose e outras "oses" mais, ou... um ser humano pleno, integro, seguro de si, em paz em qualquer lugar que esteja, independente se possui uma conta bancária recheada ou uma cama dupla.

A decisão é sua!

Eu desejo a você, do mais fundo do meu coração, paz, serenidade e bons momentos,

Nelson Jonas

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!