Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

04 janeiro 2011

Perguntas ao vento

Descanso, foto por NJRO.


Um dos maiores entraves para a descoberta de um novo modo se ser e estar no mundo é a limitante razão, seguida de uma mente reativa, formada em anos e mais anos de não questionadas certezas emprestadas de terceiros.

Aqueles que recusam o chamado para a descoberta de uma nova maneira de ser e estar no mundo, quase sempre o fazem com uma boa desculpa sobre estarem ocupadas por suas responsabilidades. Por não quererem saber sobre o seu falso eu e sua doentia identificação, prolongam a dolorosa escravidão diante do mesmo. Sua razão, com todas as formas de medos possíveis, as impedem de se preocuparem com a descoberta do ferrolho que pode abrir as algemas que as mantém escravas de um modo de vida sem Vida. Ao invés de escutarem de forma silenciosa, tanto a quem lhes apresenta uma maneira extraordinária de ser e estar na vida, ou mesmo suas vozes internas, através de uma mente reativa, justificam seus comportamentos de manada. São necessários apenas poucos minutos de uma conversa pautada nesta abordagem - e não no outrismo trabalhista - para que seus corpos e mentes comecem a reagir de forma negativa. Ao invés de escutarem a respeito do modo de como travar o bom combate, preferem fechar os ouvidos e os olhos e seguirem em seu nefasto isolamento de suas celas bem decoradas. Não percebem que esse tipo de comportamento, além de fazer com que percam a qualidade do precioso tempo de suas vidas, os mantém na desgastante ciranda consumista. Vivem do lema: "Consumo, logo, existo!"

Essas pessoas evitam o enfrentamento de suas histórias, evitam o enfrentamento de seu falso eu - a quem pensam ser de fato - evitam qualquer lembrança que lhes aponte quando e como se permitiram se tornar escravas das fortes redes lançadas pelo sistema que dita o presente modo de vida patético. Preferem não mexer com essas velhas feridas ao invés de expô-las a luz solar da transpessoalidade. Juntamente com outros escravos, em barulhentos bares e restaurantes preferem continuar na mórbida celebração daquilo que pensam ser vida. Elas não querem saber de voltar ao lar de origem, em busca do tesouro de sua inocência perdida. Como a grande maioria, se permitem a corrida diária em busca do ouro dos insensatos e tolos. Não esforçam sua mentes para uma escuta atenta, isenta de preconceitos, escolhas ou justificativas, através da qual possam se abrir às portas da compreensão dos mecanismos de ação bem como com a identificação com seus falsos eus. Elas buscam o isolamento ou o imenso arquivo de desculpas criado pela limitada razão.

Não percebem que ao optarem por isso evitam o bom combate com seu inimigo que navega nas águas escuras da inconsciência de si mesmo. Por causa de suas reservas, evitam matá-lo e ao assim fazerem, prolongam sua mente cativa. Elas assistem a morte de suas pessoas queridas, vitimadas por um modo de vida sem Vida, carregam seus desgastados corpos, mas nem isso é capaz de fazer com que despertem para a realidade de sua escravidão, na cela da diária mediocridade. Por mais que conquistem poder e prestigio, em si mesmas se sentem uma farsa, não merecedoras e se desgastam ainda mais ao tentar fazer com que as pessoas não percebam a realidade de seus sentimentos. Não possuem autênticas amizades, sendo que o círculo social que freqüenta sua cela bem decorada é formada por outros prisioneiros que também levam a vida de contrabando.

Até quando?... Quando se permitirão acordar para a noite escura de suas almas e cavar fundo no solo duro de suas mentes em busca do ferrolho capaz de lhes fazer livres?

Quando perceberão que nesse ferrolho escondido se encontram as chaves para suas algemas?

Até quando evitarão o exemplo da águia, que se permite um tipo de isolamento diferente, onde inicia um processo doloroso de troca de unhas, bicos e penas para que possa se tornar mais forte e alçar altos vôos?

Não, elas escutam o chamado, se mantém acordadas por breves minutos e novamente voltam para o consolo de seu sono cativo, alegando ao olharem o relógio, que ainda é cedo. O relógio toca mas elas não despertam. E assim, no dia seguinte, a contra gosto levantam de suas pesadas camas e partem em rumo ao congestionado trânsito dos acorrentados. E tudo isso pelas vozes do medo e da razão...

Qual pergunta pode facilitar um despertar?

Qual pergunta lhes incentiva o bom combate?

Qual pergunta pode lhes ajudar na lembrança de sua liberdade perdida?

Qual pergunta pode lhes incentivar as forças necessárias para a instalação do motim da rebeldia inteligente?

Qual pergunta pode lhes facultar a escolha de seus próprios horizontes?

Qual pergunta pode fazer com que percebam que todos os prisioneiros a sua volta, disfarçados de amigos, também lhes querem manter escravo?

Qual pergunta pode fazer com que percebam que estes que se dizem seus amigos, compram sua liberdade a baixo custo e com a ajuda de requintadas mentiras?

Qual pergunta poderá colocar diante de seus olhos o verdadeiro e libertador juiz interno?

Por mais quanto tempo terão que viver como escravos?

Qual pergunta pode fermentar o tão necessário, tardio e precioso ponto de saturação? 

Até quando se permitirão viver como porcos, disputando as quirelas de seus falsos amigos?

Todos os dias, elas se mostram assustadas quando outras pessoas são lançadas às profundezas do desemprego, do ostracismo ou de uma doença terminal. Mas silenciosamente e de modo covarde, evitam a percepção de que é o mesmo que lhes aguarda e ao assim fazê-lo, procrastinam o glorioso grito de "basta" pelo qual podem se ver livres. Enquanto isso, os mercadores de alma em suas caras celas bem decoradas, enriquecem às suas custas enquanto elas, se permitem a apertada escuridão, o violento e desnutrido confinamento, do que as cores da liberdade do ir e vir.

Até quando?...

Qual pergunta pode fazer uma trinca nas paredes de seu falso eu e com ela trazer a luz da visão libertadora?

Qual pergunta pode fazer com que soltem sua voz, de modo que não temam a morte em favor de sua liberdade?

Sentado a beira do lago, surgiam tais perguntas.

Nelson Jonas

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!