Jabor, sobre o filme "A Suprema Felicidade":
"O tema me escolheu"
Após um jejum de quase 20 anos, o jornalista e diretor Arnaldo Jabor volta às telas com o longa "A Suprema Felicidade". Veja entrevista
125 min. Paulo é um menino que vive no Rio de Janeiro da década de 50. Enquanto acompanhamos as aventuras do rapaz, conhecemos os típicos personagens cariocas da época.
Assista o trailer:
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Jabor não é José Padilha, mas também põe sua tropa de choque na rua. Mariana Lima é a mãe, uma bela mulher que tudo sacrificou por amor e, ao longo dos anos 1940/50, vira uma dona de casa amargurada, que se interroga do que foi feito de tanto amor que o marido e ela sentiam um pelo outro. Atriz de sólida formação teatral - é casada com Enrique Diaz -, Mariana já era fã de Jabor, o autor de cinema, mesmo que, nas últimas décadas (quase 20 anos!), ele fosse um cineasta de palavras. Ela conta como se preparou - "Vi muitos filmes da época, esculpi a personagem com o pessoal dos figurinos e da maquiagem, mas fundamentalmente vi e revi um filme que se revelou muito útil - Foi apenas um sonho*, de Sam Mendes, com Leonardo DiCaprio e Kate Winslet, sobre os problemas de um casal."
O elenco de A Suprema Felicidade participa de uma rodada de entrevistas num hotel dos Jardins. Só Marco Nanini, entre os protagonistas, não está presente. Ele faz o avô, personagem chave na trajetória de Paulinho. Nanini está preso no Rio, gravando A Grande Família. Mas ele talvez seja a alma do filme de Jabor.
Na entrevista que deu ao Estado há pouco mais de um mês, quando A Suprema Felicidade abriu o Festival do Rio, o diretor disse que seu filme é pessoal, inspirado em eventos e figuras de sua família, mas não é necessariamente autobiográfico. A Suprema Felicidade tem sido comparado a Amarcord, de Federico Fellini, mas Jabor é o primeiro a reconhecer que Fellini ‘se lembra’ e o filme dele é um pouco o que gostaria de se lembrar. O autor italiano reconstitui sua infância em Rimini, na Itália sob o fascismo. O arco de A Suprema Felicidade é mais completo, mesmo que o filme seja, talvez, mais fragmentado. É o que faz sua beleza particular, e também coloca o espectador na situação de reconstituir no inconsciente a integralidade dessa experiência humana e artística.
As cenas se sucedem. Menino, Paulinho apanha do colega. Adolescente, ele vai reagir e derrubá-lo com um soco, mas enquanto o amigo, que o ama secretamente, se alegra por essa reviravolta do jogo, Paulinho chora pelo que não quer ser - medíocre como seu pobre pai. As ilusões perdidas, a vida reencontrada. Foi maravilhoso para Jaime Matarazzo entrar nessa aventura. Filho de Jayme Monjardim, neto de Maísa, a grande, ele sempre quis fazer cinema, mas sonhava com a autoria, a direção. Ser ator não estava nos seus planos, e aí veio o papel na minissérie sobre a avó, a novela das 6 (Escrito nas Estrelas) e o filme de Jabor. Hoje, ele se sente ator e comemora o contrato de quatro anos que acaba de assinar com a Globo.
"Foram muito importantes para mim as cenas com o Nanini. O personagem lembra meu avô, tem alguma coisa dele, a força vital. E o Nanini foi muito generoso. Trocava comigo sua imensa experiência. Depois de passar pelo teste de contracenar com ele, com a Mariana, com o Dan (Stulbach) posso dizer que, agora, sim, já me sinto ator."
Não dá para não pensar pelo menos no título de um filme francês cult, La Mama et la Putain, de Jean Eustache. A p... e a mãe. Mariana é a mãe, bela, classuda. Ela brinca. "Isso aqui é uma personagem que uso em meus dias de falar com jornalistas. No cotidiano, sou muito mais esculachada. Tenho duas filhas, vivo correndo de um lado para outro, de tênis, como qualquer mãe moderna." A do filme é massacrada no próprio ambiente familiar. "Não é só um retrato de época, ainda existem muitas mulheres assim. Casadas e infelizes."
Tammy faz a patricinha da novela das 8, Passione. A pergunta que não quer calar - quem matou Paulo na trama de Silvio de Abreu? Poderia ser a filha, que interpreta? "Poderia ser qualquer um, mas confesso que ia ficar muito surpresa se fosse a Lorena." Tammy não é a patricinha nem a p..., que faz o gênero ‘virgem no bordel’. Ele fez muita pesquisa para viver a personagem. Conheceu prostitutas que dão duro para sustentar a família e que fazem porque gostam. Foi difícil dublar Marilyn Monroe e interpretar ao mesmo tempo. "Mas valeu", diz.