Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

26 outubro 2010

O Chamamento para a Busca: Ultrapassando o Limiar


Embora o chamamento para a busca possa ocorrer em qualquer idade, ele se manifesta de forma mais nítida no final da adolescência e no início da idade adulta. Esta é a fase da exploração - exploração de novas terras, de novas idéias, de novas experiências - a fase de aprender coisas a respeito do mundo. É a época de viajar, de estudar, de experimentar coisas novas.

Um jovem que no início da vida tenha recebido suficiente apoio para alcançar um saudável desenvolvimento do Ego poderá responder a esse chamamento com entusiasmo, alegria e disposição. Em virtude do entusiasmo despertado pela perspectiva da nova aventura, a alegria pode ser tão grande a ponto de quase eclipsar o medo do futuro e a relutância do indivíduo em abandonar o útero - Mamãe, Papai, a escola. A nova aventura pode ser um curso universitário, um emprego, um casamento, o serviço militar, viagens ou praticamente qualquer coisa que ofereça a oportunidade de se fazer algo realmente novo, algo que a pessoa tenha escolhido por si mesma.


Numa fase posterior de sua vida, você talvez olhe para trás e diga: "Eu só me casei (ou me alistei no exército, ou fui para a universidade) para sair de casa." Qualquer que tenha sido a razão, porém, ela serve como um ponto de partida para a grande aventura de viver a sua própria vida. Embora, ironicamente, as escolhas talvez não tenham sido as ideais, do ponto de vista do Ego foram elas que abriram o caminho para o desenvolvimento da Alma.

O jovem explorador, cujo desenvolvimento do Ego é incompleto, talvez careça da coragem ou da autoconfiança necessárias para empreender uma grande aventura com tanta tranquilidade e boa vontade. A experiência talvez seja repleta de medo, e o primeiro passo à frente poderia assemelhar-se mais a uma volta em torno do quarteirão do que a uma viagem ao redor do mundo. Alguns de nós iniciam a jornada porque, tal como Dorothy, no Mágico de Oz, nós nos sentimos Órfãos e queremos conhecer um grande mago para que ele nos ajude a encontrar um lar.

O impulso de vagar pelo mundo ataca tão vigorosamente as pessoas durante a meia-idade como na fase de transição para a idade adulta. Como jovens adultos, nós procuramos a nossa verdadeira vocação profissional, o amor verdadeiro, um lugar do qual gostemos o bastante para nele nos fixarmos e uma fílosofia de vida que possa nos dar força. Na meia-idade, todas estas questões voltam novamente à superfície (como pode ter acontecido muitas vezes antes). Se somos casados, nós nos perguntamos: "Esta é a pessoa junto de quem quero passar o resto da minha vida?" O emprego ou carreira que antes nos parecia satisfatório pode subitamente parecer pouco compensador, e nós consideramos a possibilidade de trocar de emprego ou de fazer alguma modificação na nossa carreira.

Nós reavaliamos nossas realizações à luz das aspirações da nossa juventude. O fato de nossas ambições anteriores terem ou não se realizado é de fundamental importância para redefinir nossas ambições no contexto da nossa mortalidade. A espiritualidade torna-se mais importante, e nossas posições filosóficas precisam ser reavaliadas depois de reconhecermos que a mortalidade é uma questão não apenas filosófica mas também pessoal.

Para muitas pessoas de meia-idade e um número bastante significativo de jovens, a jornada tem de se conciliar com responsabilidades conflitantes - filhos, empregos, pagamento de hipotecas, necessidade de cuidar dos pais. Empreender uma aventura parece ser uma coisa impossível. Você quer voltar a estudar mas tem de trabalhar para mandar os filhos para a universidade. Você quer velejar pelos sete mares mas precisa pagar a hipoteca.

"A autopiedade é uma forma de autodescoberta, de auto-revelação; ela revela os meus anseios para mim mesmo." (James Hillman)
O chamamento varia de pessoa para pessoa. O chamamento sempre se destina a atuar num nível mais elevado ou mais profundo, visando encontrar um modo de viver que seja mais significativo e profundo, e descobrir quem você realmente é quando se despe do papel social criado conjuntamente por você e pelo seu ambiente.
Frequentemente, a busca se inicia porque a vida nos parece limitada ou vazia e, assim, sentimos a necessidade de fazer alguma coisa. Nós experimentamos o chamamento na forma de um sentimento de alienação ou de limitação no nosso ambiente atual. Para o Explorador, a questão é de conformismo versus individualidade; o ambiente em que vivemos nos parece acanhado demais. Todavia, o nosso desejo de agradar, de nos ajustarmos, de satisfazer as exigências da nossa família, de um grupo de amigos, do trabalho ou da escola ainda é demasiado forte. A maioria de nós sabe que o rompimento das regras tácitas causam as maiores represálias.

No início, nós nos ajustamos para satisfazer os companheiros e as pessoas que ocupam posições de poder, e depois continuamos a fazer isso para garantir o nosso sucesso financeiro, o nosso status, e para agradar a família e os amigos. O conformismo, entretanto, acaba criando uma tensão entre quem realmente somos por dentro e o comportamento que se espera de nós. Esse tensão é absolutamente necessária para o desenvolvimento. O "ajustamento" é definido pelas maneiras através das quais as pessoas se assemelham; a individualidade é definida pelas maneiras através das quais elas diferem umas das outras. Assim, é a nossa própria singularidade - o nosso Self- que não se adapta completamente ao meio.

Começamos nossa jornada com uma experimentação um tanto errática, tentando diversas coisas diferentes. Aparentemente, continuamos sendo conformistas, pois somos os únicos a saber que temos uma fonte de individualidade que os outros não vêem. Ou, alternativamente, nós somos Rebeldes, definidos quase que exclusivamente com base na nossa oposição ao status quo. Em geral, isto significa que a unica forma de conservar um senso individual do Self é procurar continuamente afirmá-lo e torna-lo visível. Como quer que seja, somos na verdade controlados pelos nossos ambientes.

Quantos de nós já tiveram este pensamento: "Se eu tivesse dito o que realmente pensei, se eu tivesse feito o que realmente queria fazer, eu perderia o meu emprego/minha família/meus amigos?" O Explorador em potencial anseia por algo mais do que lhe proporcionam o emprego, a família e os amigos, mas acredita que, para isso, o indivíduo tem de abrir mão dessas coisas - e, ao menos temporariamente, de certa forma ele tem razão, Para nos abrirmos e nos desenvolvermos temos de abandonar o mundo e as experiências que conhecemos. Embora isto não signifique a impossibilidade de continuarmos ligados a essas comunidades e, muito menos, a necessidade de abandoná-las fisicamente, isto de fato implica estabelecer algum distanciamento emocional para podermos seguir o nosso próprio caminho e pensar de forma independente.


Muitos de nós nunca sentem que preferimos partir. O nosso Explorador é motivado mais intensamente por um sentimento de alienação. É possível que o nosso cônjuge ou amante nos tenha abandonado, que tenhamos sido demitidos ou que comecemos a questionar uma instituição e nos tenham dito para entrar na linha ou cair fora, ou que estivéssemos envolvidos num relacionamento tão abusivo ou viciante que sentimos necessidade de acabar com ele para nos salvar. Nesses casos, nós talvez nos sintamos especialmente perdidos e despreparados para a jornada.

Muitas vezes nós começamos descobrindo não aquilo que queremos mas sim o que não queremos. De fato, às vezes entramos numa fase em que estabelecemos um compromisso radical com as nossas próprias almas. Nesses períodos, a partida e o afastamento podem ser a tônica de nossas vidas. Nós penetramos em cada nova situação ansiosos por verificar se esta é a experiência, a pessoa ou o emprego que irá nos satisfazer. Cada situação que deixa de nos satisfazer é deixada para trás (psicologicamente, pelo menos) e mais uma vez ganhamos novamente a estrada.
Carol S. Pearson - O Despertar do Herói Interior

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!