O último Samurai
A analista junguiana Pearl Mindell interpretou a história do Êxodo como um mito a respeito da aceitação ao chamamento. O território psicológico do Egito é a nossa escravidão à vida que conhecemos. O Faraó é a parte de nosso ser ligada à permanência da mesma situação, e Moisés o nosso novo e heróico Self nascente. Quando, apesar de toda a argumentação e o heroísmo de Moisés, o Faraó não autoriza a partida do seu povo, Deus intercede enviando pragas para assolar o Egito. Mindell compara isso àquelas ocasiões em que as coisas vão tão mal que temos de sair de nosso entorpecimento e perceber a seriedade da nossa situação. Todavia, mesmo depois que conseguimos deixar o Egito não encontramos imediatamente o paraíso ou a Terra Prometida que procuramos. Na verdade, vagamos a esmo pelo deserto durante anos, muitas vezes desejando que ainda estivéssemos no Egito.
Durante esses anos de perambulação pelo deserto, temos sorte se algum aspecto da nossa vida permanece estável - talvez um emprego, um relacionamento, uma trilha espiritual. A existência desse elemento estável torna mais fácil a realização de todas as outras alterações requeridas pela alma.
Nessa altura, nós podemos subitamente descobrir um vazio onde antes estava o Ego, e ficamos sem saber exatamente o que desejamos fazer. A única saída nesse caso é a experimentação, tentar uma coisa e outra até que algo desperte o nosso interesse. Para um estudante, pode ser que um determinado curso inesperadamente desperte o seu entusiasmo por algum assunto; uma outra pessoa pode encontrar um amor, um emprego ou a chance de escalar uma montanha. Às vezes o senso de desorientação é tão grande que as pessoas têm dificuldade para fazer as escolhas mais simples da vida, reconhecendo que todas as suas decisões têm de ser programadas pelos outros, desde os cereais que come no café da manhã até os programas de televisão que assiste.
Podemos descobrir a imagem daquilo que estamos buscando se prestarmos atenção à nossa vida fantasiosa. As imagens estão dentro de nós. Quando estamos vagando pelo deserto, é fundamental conservar a nossa confiança na jornada e num propósito mais elevado, e saber que o maná irá cair do céu.
Os anseios do nosso coração, porém, estão relacionados a um desejo interior de saber quem somos, no nível da alma, e de sermos parte da grandeza do universo - seja através de um grande amor, de um grande trabalho, de uma experiência transcendental, de uma transformação pessoal ou, ainda, alcançando-se a sabedoria. Em idades mais avançadas, talvez comecemos a ansiar por deixar o nosso corpo - especialmente se a nossa saúde tiver começado a piorar - e experimentar algum tipo de vida que possa haver além desta.
Nunca é tarde demais para responder ao chamamento da alma e empreender uma aventura. Frequentemente, experimentamos sem sucesso muitos caminhos, alguns deles até mesmo doentios, antes de encontrar aquele que estamos procurando.
Embora às vezes interrompamos subitamente o compromisso com as nossas jornadas, na verdade é demasiado tarde para voltarmos atrás. Quando isso acontece, nós nos tornamos apenas Errantes e não Exploradores - isolados dos outros, com medo de qualquer tipo de intimidade, irracionalmente iconoclastas. Temos de ser independentes, diferentes e de continuar avançando. Nós não podemos nos comprometer nem estabelecer vínculos verdadeiros. Mesmo depois de nos casarmos, no fundo ainda continuamos à espera do nosso príncipe ou princesa. Embora possamos permanecer num emprego, no fundo nós sabemos que ele não é o nosso "verdadeiro" trabalho. De fato, toda a nossa vida parece vazia, e nós ansiamos por um paraíso ou, pelo menos, por algo melhor.
V de Vingança
Muitas pessoas nunca se comprometem realmente consigo mesmas ou com suas próprias jornadas. Somente quando nos tomamos capazes de fazê-lo é que deixamos de ser Errantes e nos transformamos em genuínos Exploradores. Quando fazemos isso, a nossa busca modifica-se e torna-se mais profunda. Subitamente, passamos a buscar a autencidade e a profundidade espiritual, e sabemos que o nosso objetivo não é apenas uma mudança de ambiente - de companheiros, de trabalho, de lugar - e sim uma mudança em nós mesmos. Às vezes essa nova busca começa a ter um caráter espiritual - quer nos sintamos à vontade ou não usando a linguagem religiosa - porque estamos procurando algo que tem um significado profundo e eterno.No nível mais elevado, o Explorador encontra a verdade que procurava. No mundo real, cada um de nós encontra alguma verdade e, desta forma, todos podemos ser Exploradores e oráculos, compartilhando nossas questões e descobertas uns com os outros.
Carol S. Pearson - O Despertar do Herói Interior