Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

29 outubro 2010

Alegria sem objeto


Em alguns momentos, a sós conosco mesmos, experimentamos uma imensa carência interior.

É a motivação-mãe que gera as demais. A necessidade de preencher esta carência, de apagar esta sede, nos leva a pensar, a agir. Sem sequer interrogá-la, fugimos de nossa insuficiência, tratamos de preenchê-la às vezes com um objeto, às vezes com um projeto, e logo, decepcionados, corremos de uma compensação à seguinte, indo de fracasso em fracasso, de sofrimento em sofrimento, de guerra em guerra.

Este é o destino do homem comum, de todos os que aceitam com resignação esta ordem de coisas que julgam inerente à condição humana.

Observemos de mais perto.

Enganados pela satisfação que nos proporcionam os objetos, chegamos a constatar que causam saciedade e, até mesmo, indiferença: nos preenchem num momento, nos levam à não carência, nos devolvem a nós mesmos e logo nos cansam; perderam sua magia evocadora. Portanto, a plenitude que experimentamos não se encontra neles, está em nós; durante um momento o objeto tem a faculdade de suscitá-la e tiramos a conclusão equivocada de que ele foi o artesão desta paz.

O erro consiste em considerar este objeto como uma condição 'sine qua non' da dita plenitude.

Durante estes períodos de alegria, esta existe em si mesma, não há nada mais. Logo, referindo-nos a essa felicidade, a superpomos a um objeto que, segundo acreditamos, foi o que a ocasionou.

Portanto, objetivamos a alegria (transformamos a alegra em um objeto).

Se constatarmos que esta perspectiva na qual nos situamos só pode dar uma felicidade efêmera, incapaz de nos proporcionar aquela paz duradoura que está dentro de nós mesmos, compreendemos, por fim, que, no momento em que alcançamos o equilíbrio, nenhum objeto o causou; a última satisfação, alegria inefável, inalterável, sem motivo, está sempre presente em nós; o que ocorre é que estava velada para nossos olhos.

De: "A Alegria sem Objeto" - Diálogos com Jean Klein

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!