Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

26 outubro 2010

A formação de um Guerreiro

Atualmente, o Guerreiro é um arquétipo ao mesmo tempo dominante e impopular porque estamos passando por uma defasagem cultural; nós precisamos de um nível mais elevado do arquétipo. O Guerreiro de alto nível exige que lutemos por algo que esteja além dos nossos próprios e mesquinhos interesses, que afirmemos o idealismo básico do arquétipo em suas formas mais puras e elevadas, e que lutemos por coisas realmente importantes - o que, na nossa geração, pode significar a sobrevivência das espécies. Ele também exige que lutemos tendo em vista uma preocupação social mais ampla; nesta geração, isto pode tomar necessária uma redefinição da identidade, de modo que passemos a ver como pertencentes ao nosso "time" não apenas a nossa própria organização ou país, mas todas as pessoas de todos os lugares. Neste contexto, o inimigo não é mais uma pessoa, um grupo ou um país, mas sim a ignorância, a pobreza, a ganância e a falta de visão!

Todavia, nenhum de nós já parte desse nível. Nós começamos aprendendo os rudimentos da arte de defender nossos interesses e de utilizar os meios necessários para obter o que queremos...

Enquanto não estabelecermos limites claramente definidos, acreditaremos, corretamente ou não, que estamos sendo mantidos prisioneiros por alguém ou por alguma coisa. Quando as pessoas estão começando a afirmar suas próprias identidades no mundo, elas frequentemente podem pensar que, se fizerem isso, todos irão atacá-las ou abandoná-las. Como o Guerreiro que há dentro de nós muitas vezes começa a expressar suas próprias verdades atacando as verdades dos outros, nós realmente provocamos o ataque e o abandono. Somente mais tarde reconhecemos que foi o nosso próprio ataque - e não o nosso poder - que deu origem a essas reações inamistosas.

Embora isto seja duplamente problemático para as mulheres às quais foi ensinado que mulheres poderosas são vistas como uma ameaça pelos homens, as pessoas de ambos os sexos recebem de uma forma ou de outra esta mensagem: '' Não desafie a autoridade "; " Não entorne o caldo''. Quando finalmente chega o momento em que conseguimos falar de forma aberta e franca, nossas vozes autênticas terão sido abafadas durante tanto tempo que nossas primeiras afirmações saem na forma de guinchos ou de gritos. As mulheres frequentemente tem o seu primeiro contato com o seu Guerreiro interior quando estão a serviço do seu Caridoso, lutando pelo interesse de outros; somente mais tarde elas aprendem a lutar também por si mesmas.

O Guerreiro nascente tem duas defesas principais: o segredo e a retirada estratégica. O segredo é uma espécie de camuflagem. Estamos mais protegidos contra um possível ataque quando não podemos ser vistos. As pessoas que poderiam atacar os nossos novos interesses, ideias ou o senso do nosso próprio Self não conseguem fazê-lo porque nada sabem a nosso respeito. Os bons Guerreiros sabem que nunca devemos entrar numa batalha antes de estarmos preparados para o combate. Isto muitas vezes significa que não devemos levantar questões que possam provocar um conflito com outras pessoas antes de estarmos suficientemente seguros no nosso relacionamento a ponto de sabermos que vale a pena correr o risco de uma separação e até estarmos adequadamente protegidos caso a batalha venha mesmo a ocorrer.

A retirada estratégica é uma medida sensata. Quando se depara com uma força nitidamente superior, o Guerreiro recua e ganha tempo para aumentar a sua própria força. Quer se trate de crianças que começam a assumir uma posição diferente daquela de seus pais, quer se trate de adolescentes tentando divergir dos outros membros de seu grupo, ou de adultos que discordam de seus amigos, colegas ou colaboradores, se a reação dos outros for demasiado negativa ou hostil, eles frequentemente irão se retrair por um período bastante longo a fim de cuidarem de seus ferimentos, sararem e se fortalecerem. Em alguns casos, o dano é tão grande que eles nunca mais tentarão afirmar-se novamente.
Na maioria dos casos, porém, os Guerreiros se retiram e reconsideram sua estratégia. Talvez eles fiquem alertas e aprendam novas habilidades. Algumas crianças, por exemplo, sabem que precisam deixar os seus pais mas esperam a hora certa, procurando ajuda quando e onde quer que possam obtê-la, até conseguirem o diploma do segundo grau. Algumas pessoas permanecem em empregos horríveis até se formarem numa escola noturna. Outros praticam caratê ou jogos de estratégia, como o xadrez, e depois fazem outra tentativa. Embora muitas vezes as pessoas se recriminem pelo tempo em que permanecem em ambientes acanhados, elas o fazem até estarem bastante fortes psicologicamente para poderem lutar por si mesmas.

Os Guerreiros espertos tentam controlar o campo de batalha e só entram em combate quando estão suficientemente preparados para ter uma boa chance de alcançar a vitória. E uma atitude sensata procurar ganhar tempo para realizar o treinamento básico e traçar um plano de combate. Durante essa fase de preparação, nós aprendemos a desenvolver a autodisciplina e - uma característica do Guerreiro de primeira linha - a controlar nossos impulsos e sentimentos. Todavia, mais cedo ou mais tarde temos de lutar, e isso exige coragem.

Algumas pessoas começam a lutar praticamente desde o momento em que nascem. Elas lutam com seus irmãos, pais, amigos e professores e, ao fazê-lo, aperfeiçoam suas habilidades. Com o tempo, elas talvez aprendam que não se deve lutar contra tudo mas, sim, ter a sabedoria e a coragem de saber quando e onde lutar.

Mais cedo ou mais tarde, porém, os bons Guerreiros aprendem que, para realmente agir sobre o ambiente de uma maneira que acabe lhes proporcionando aquilo que desejam, eles precisam saber o que querem e estar dispostos a lutar por isso. Talvez a coisa mais importante que a pessoa aprende no treinamento para tornar-se mais afirmativo seja ter um claro sentimento do que deseja realizar e, em seguida, de uma maneira clara e respeitosa, dizer aos outros aquilo que quer.

Nem sempre é necessário expressar a nossa verdade. Muitas vezes nós não precisamos contar nada a ninguém. Tudo o que temos de fazer é definir claramente aquilo que queremos, agir com base nesse conhecimento e não perder essa meta de vista, não importando o que os outros possam pensar; outra possibilidade, se estivermos mais fortalecidos, é levar em conta os conselhos e preocupações das outras pessoas e ajustar apropriadamente a nossa estratégia (mas sem modificar os nossos objetivos).

Algumas pessoas perderam pouquíssimas batalhas. Esses "privilegiados"' - que foram encorajados e elogiados nas primeiras ocasiões em que defenderam opiniões, maneiras de agir ou pontos de vista diferentes daqueles dos outros membros do grupo - irão sentir-se fortalecidos e estimulados a tentar isso outras vezes. Se essas pessoas nunca encontram resistência, porém, podem tornar-se arrogantes, impondo seus pontos de vista sobre as outras sem se importarem com o impacto que isso possa produzir sobre elas. Se algum dia chegam a sofrer uma derrota, elas se sentem arrasadas e todo o seu sentimento a respeito do próprio Self é colocado em dúvida.

Se a afirmação dos desejos do indivíduo não implica nenhum custo, é muito improvável que ele venha a ser capaz de fazer a distinção entre as exigências decorrentes do estabelecimento de sua identidade e os caprichos narcisistas. Ironicamente, o indivíduo arrogante, cujo lema é "Eu consigo tudo o que quero", é psicologicamente tão carente quanto uma pessoa que é demasiado medrosa para se erguer e se afirmar. Nenhum deles consegue saber quem realmente é. O preço cobrado pela individualidade motiva cada um de nós a questionar os nossos caprichos e desejos a fim de descobrirmos quais são realmente importantes.


Carol S. Pearson - O Despertar do Herói Interior

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!