Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

14 outubro 2010

Seja um idiota - parte dois

Recebi hoje por e-mail, um texto intitulado "Seja um idiota", cujo remetente não sabia se o mesmo era da autoria de Jabor ou do Aleixo. Como não me interessa o carteiro, mas sim o conteúdo da mensagem, debrucei-me sobre ela...

Depois de refletir sobre a mesma e sobre o que tenho visto nos últimos dias, tive quase que uma vedântica iluminação: o grande lance é ser um idiota!... É não pensar em nada, não questionar nada!...

É ser adepto do sistema de crença que mais ganha adeptos nos tempos atuais: a "felizdiotice" (afinal, questionar com seriedade sempre resulta em ostracismo).

O autor de tal mensagem está coberto de razão: nada mesmo de ser visceral; o lance é ser superficial, quanto mais, melhor! É disfarçar que a vida não é um caos, que seus relacionamentos são maravilhosos e nutritivos (se estiver difícil, entediante demais, apele para Felizac ou Hipocritil! E mande a seriedade para a p... que o p...)

Ele é que está certo: para ter sucesso nesta vida, o lance é entregar tudo para Deus, é aceitar que tudo é a vontade de Deus, e continuar sendo sempre um idiota marionete!

O mais inteligente, além de rir dos próprios defeitos, é também rir das vídeos cacetadas, das piadinhas do Faustão, do pânico na Tv, da praça é nossa, da quantidade de votos dados ao Tiririca... É acompanhar a Fazenda na TV e no Orkut, é esperar com ansiedade pelo próximo Big Brother...

De fato, milhares de casamentos acabam não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice e mediocridade (talvez o ponto de saturação seja expressa nas constantes brigas pelo controle do controle remoto e pela escolha do alienante programa preferido).

O autor tem toda razão: o lance é tratar seu amor como seu melhor amigo, e pronto. Não esquente se na hora da cama, ao invés de sexo, seu amor preferir falar sobre seu emprego, discutir política ou o pedido de demissão do técnico do Corinthians. Nada de sensatez! O lance é continuar sempre tropeçando e disfarçando com coleções de hahahahahahahaha!...

O mais coerente é sempre estar preocupado em como preencher as horas livres de um fim de semana, para não ter que ver com seriedade a constante crise conjugal ou familiar (há tempos, prá lá das cercanias da falência)... Para isso, não interessa o preço da entrada, a dificuldade de achar vagas no estacionamento e muito menos o tamanho da fila: o que importa é ir sempre ao cinema, de preferência, no dia de estréia! Esperar pelo DVD genérico é coisa pra gente séria...

Só as pessoas "comuns" é que ficam perdidas quando acabam os problemas... Os idiotas, por sempre os terem de sobra, não reclamam: são adeptos da conformose! Com ela, não há como se desesperar... Pollyana que o diga!

O lance é brincar, sempre se contentar nos almoços de domingo, com os mesmos assuntos da infância, com as mesmas lembranças dos filmes, desenhos e brinquedos, afinal, como disse o autor, tudo que é mais difícil é mais gostoso...

O lance é ser mesmo idiota. É querer sempre buscar por situações desse tipo. Você não quer? Para sua felizdiotice espero que sim, afinal... a realidade já é dura; pior ainda se não for idiota! Fingir estar tudo bem é legal. Entendeu?

Esqueça o que você observou "ser um adulto"... O conformismo com o alto preço da comida, da gasolina, dos pedágios ou da casa própria... Isso não é nada diante do inconformismo com a derrota da seleção ou do timão... A constante necessidade de falar besteira sempre com ares de intelectualismo, a imaturidade disfarçada com a ajuda de algum convencionado sistema de crença.

Um adulto pode e deve (sempre) contar piadas repetidas, disputar quem ri mais alto, quem fala mais ao mesmo tempo em que lambe a tampa do iogurte comprado em dia de promoção.

Ser adulto é não perder nunca o prestígio e o poder dentro da empresa - mesmo que a custa dos prazeres da vida - para um idiota, esse é o único "não" realmente aceitável. Pode ter certeza: isso não é teoria!

Estou convicto: o lance é ser idiota. Esquecer essa mania de ver e sentir as coisas como elas realmente são... Olhar tudo "as passageiras"... É acordar de manhã e decidir entre duas coisas: questionar o que vejo e transmitir isso adiante ou sorrir como se nada estivesse acontecendo... O bom mesmo é fingir não ter problema na cabeça, manter um sorriso falso na boca e paz no coração baseado em consumo de shopping a prestação!

O lance mesmo é acreditar num idiota Deus solucionador de problemas, nada de "experienciar Deus em seriedade"... Como diz o autor do texto, um idiota de verdade se contenta apenas com o gosto de um cafezinho!

Ao final do texto cheguei a conclusão de que a vida de um idiota é uma constante peça de teatro, repleta de máscaras e atos que não permitem o "luxo de ensaios filosóficos". Por isso, o lance é se conformar com uma vida de aparências, cantar e dançar aquilo que mídia toca e sempre acreditar nos meios de comunicação, caso contrário... eles chegam na porrada te abafando atrás das cortinas.

Quer saber? Sério mesmo é o homem que banca ser idiota na frente do idiota que banca ser sério...
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Se estiver interessado nessa formação, segue dicas literárias:





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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!