Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

19 outubro 2010

Sobre a escravidão chamada trabalho

Admitimos a necessidade de arranjar dinheiro, quaisquer que sejam os meios, porque é presentemente impossível dispensá-lo, mas não a necessidade de trabalhar. Aliás, nós já não trabalhamos: fazemos umas merdas. A empresa não é um lugar onde existimos, é um lugar que atravessamos. Não somos cínicos, apenas reticentes em ser abusados. Os discursos sobre a motivação, a qualidade, o investimento pessoal, passam-nos ao lado, para grande perturbação de todos os gestores de recursos humanos. Dizem que estamos desiludidos com a empresa, que esta que esta não honrou a lealdade dos nossos pais, que os despediu de forma demasido expedita. Mentem. Para estar desiludido, é preciso ter tido esperança a dada altura. E nós nunca dela esperamos nada: vêmo-la pelo que ela é e nunca deixou de ser, um joguinho para imbecis de conforto variável. Lamentamos no entanto que os nossos pais tenham caído nesse embuste, e que pelo menos alguns tenham acreditado nisso...

O atual aparelho de produção é então, por um lado, esta gigantesca máquina de mobilização psíquica e física, de sugar a energia dos seres humanos tornados excedentários e, por outro, esta máquina de triagem que concede a sobrevivência às subjetividades conformes e deixa sucumbir todos os «indivíduos em risco», todos os que encarnam um outro emprego da vida e, dessa forma, lhe resistem. De um lado fazem viver os espectros, de outro deixam morrer os vivos. Tal é a função propriamente política do atual aparelho de produção.

Organizar-se para lá do e contra o trabalho, desertar coletivamente do regime da mobilização, manifestar a existência de uma vitalidade e de uma disciplina na própria desmobilização é um crime que uma civilização com a corda na gargante não está nem perto de nos perdoar; é, na realidade, a unica forma de lhe sobreviver...

Sabemos que o indíviduo existe tão pouco que tem de ganhar a vida, vender o seu tempo em troca de um pouco de existência social. Tempo pessoal em troca de existência social: eis o trabalho, eis o mercado.



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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!