Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

07 agosto 2011

O Trovejar do Silêncio


..........Depois de tantos anos de conflitos, complexos e buscas, vivo um momento impar. É um momento inusitado, algo totalmente diferente do que imaginei durante meus 47 anos de idade. É um estado de bem-estar, de leveza, que não tem nenhuma relação com a ideia de seriedade que eu mantinha. É um estado de leveza e compreensão imediata, que traz em si alegria e comédia que não é euforia. É um estado de sóbria embriagues, se é que posso assim chamar. Tudo é muito cômico, mas um cômico inocente e não o antigo cômico jocoso que desfazia de tudo e de todos. Tudo parece motivo de celebrar e há uma vontade muito grande de "passar isso adiante", de ser de alguma forma, um mecanismo potencializador deste estado de bem-aventurança, porque isto é como uma grande aventura.
..........Não é algo da mente, mas é algo que envolve por completo a mente de forma qualitativa. A mente já não é o centro, ela participa como servil testemunha que só "enxerga" e age quando esse estado de ser lhe solicita. É como se ela visse o mundo através de um reflexo daquela região de onde parte este estado de presença: bem no centro do peito, no chacra do coração. Há um estado de presença amorosa, uma “ternura” muito forte ali. A mente vê a realidade não mais com seus olhos condicionados, mas pelo espelhamento do ser, algo muito parecido com uma máquina fotográfica. A mente não mais “reflete”, não “pensa”, mas tão somente observa o que o espelho do ser captura na região do diafragma. Quando olho para o passado vejo quanto “negativo” perdido, “quanto filme queimado”, quanto desperdício quando o filme da vida não é emulsionado no quarto escuro do Ser que somos. Não há nada digno de exposição quando a mente se vê separada desse estado de presença. Quando não existe essa separação entre a mente e o ser, as coisas que pareciam complexas se apresentam de forma tão clara e não há esforço nas situações que se apresentam. O que há é um estado de presença, que vê o corpo participando, não de forma automática como antes, mas, num estado de consciência e responsabilidade amorosa de ação. Essa responsabilidade é amorosa, leve, suave e traz em si uma energia completamente diferente daquela que vinha da errônea identificação de responsabilidade. Não há aquele estado “pesado” no qual essa palavra estava associada. Não se trata disso: há uma leveza, há uma facilidade, um "modo operantis" totalmente diverso, nada que possa ser comparado com o modo anterior de existir sem vida. É como se fosse um eterno cinema, refletindo as situações da vida enquanto você, relaxado, desfruta da pipoca.
..........Talvez, você possa estar se perguntando: qual foi o fator determinante para essa súbita e qualitativa ocorrência? Creio que não possa ser qualificado com um determinado momento, um determinado fator, um determinado agente. Vejo que ela é o resultado de toda uma vida. Todas as situações vividas até então, mesmo antes da minha existência, através da vida de outros homens — que é a mesma vida aqui — potencializaram esta ocorrência benfazeja. No entanto, podemos dizer que “a gota d’água” que ocasionou este “derrame de percepção”, deu-se no “silêncio da percepção relâmpago” da ação interna da minha resistência a nova experiência vinda através do outro. Foi um verdadeiro “trovejar do silêncio”, um trovejar mais rápido que a luz, que abalou toda a minha antiga estrutura. Quando vi a resistência ao novo, quando a vi de forma integral, holística, algo como se a visse acontecendo não com os olhos, mas com cada célula de meu corpo, a resistência, caiu por terra. Não a resistência aquela experiência do momento, que se dava através da fala do outro, mas todo condicionado e intrincado processo de resistência, de não-aceitação ao que é. Foi como se o mecanismo, a "desqualidade" chamada resistência, fosse completamente retirada de dentro de mim. Algo como se fosse o botão de uma máquina, que até então, funcionava por si mesmo, de forma autônoma, sem a necessidade de um operador, de acordo com determinados sinais enviados pelo ambiente. Agora, os sinais continuam, mas, cadê o botão? Cadê o mecanismo? Só por agora, ele se foi, sem qualquer ação de minha parte, ele se foi através da observação sem escolhas. Agora, todas aquelas antigas situações onde a resistência se apresentava, ficam passando em minha mente, como um filme, o que faz com que eu ria muito... Que coisa ridícula, pobre, medíocre esse estado de viver onde se reage automaticamente, de forma totalmente inconsciente, ao menor impulso externo. Ver isso claramente é infinitamente mais rico que qualquer prêmio criado pelo intelecto humano, é uma "megasena cósmica".
..........Não posso ainda afirmar, mas, meu sentimento, minha percepção neste agora é de que não há mais mecanismo de defesa psicológica. Não há essa necessidade de estar "armado" nas situações que se apresentam, de ter que estar sempre com a razão, de ter que dar sempre a última palavra... Não há a antiga tensão, a antiga ansiedade que me fazia buscar por todos os lados, sempre causando expectativas e suas posteriores frustrações. Há uma abertura, sem expectativas, diante do que se apresenta a cada minuto... É como estar “ligado” ao enredo de um bom filme, o filme que sempre esteve aí e que meu intelecto, com seus julgamentos, nunca me permitiu assistir e desfrutar com propriedade. Há tão somente um sentimento de que tudo será diferente, fresco e com novas possibilidades infinitas de bem-estar. Se é que se pode traduzir em palavras, é mais ou menos isso que estou vivenciando, além de um profundo derrame de percepção criativa. O mais louco, é que a criatividade vem sem ser convidada pela ação do intelecto. Você está lá, desfrutando da ternura interna, na região central do peito e “a coisa” vem... Prontinha, entregue sem o mínimo esforço... É um “eureka celeste”. E o melhor de tudo é que, só por agora, não sinto a menor necessidade de qualquer informação de fora. Há uma confiança que é só olhar para dentro e esperar pelo reflexo da resposta.
..........Veja, é tudo muito novo e não sinto como um processo encerrado, definitivo. Sinto que é algo está ocorrendo, através de uma mutação silenciosa; ela é inegável. Se eu for tentar colocar adjetivos, qualidades ao que estou sentindo, passaria o resto do dia diante desta máquina. O dia está lindo demais para isso e minha esposa me espera para um passeio. No entanto, posso lhe afirmar que se me tirassem tudo e só ficasse esta clareza mental, já estaria tudo certo!... Só o fato de poder ficar diante de pessoas e situações nas quais era impossível antes, isso já é um grande presente, uma grande dádiva. Poder ver o outro de forma nova, totalmente destituída de imagens sem que isso cause qualquer tipo de resistência, ou cobrança — mesmo percebendo o quanto que o outro está dominado pelas imagens que carrega de mim... — é uma grande dádiva! Só por agora, as coisas são como são e pronto! Esse é o sentimento: está tudo certo! Não há porque se preocupar. É o sentimento de que posso devolver o mundo e as pessoas aos cuidados dessa consciência que me deu consciência da doentia resistência ao que é. Não cabe mais querer modificar o mundo; não sou responsável por concertá-lo, posso tão somente limpar o lixo de toda identificação que eu trazia como sendo a minha pessoa. Isso é demais!... Sobrou o mundo para poder desfrutá-lo do modo como ele é. Testemunhar o mundo da forma que é... Isso é muito grande, as palavras não alcançam esta realidade. Que mais eu poderia necessitar? Com certeza, a maior desgraça humana é fechar os olhos, quando de seu último sopro, sem ter a mínima consciência do que seja isso que agora transmito a você, sem a mínima consciência deste Sopro que nos habita. Que transitório sucesso pode ser comparado com isso?...
..........Agora me ocorreu um exemplo para isso: O que pode ser melhor do que um "reset" na mente, apagando todas as experiências, as imagens, todas as crenças, toda dualidade que foi instalada nestes anos como sendo “certo ou errado”, “você devia e não devia”, os "assim pode assim não pode"... Um reset que traz consigo o certificado de que você é livre para, pela primeira vez, ver a vida destituída de qualquer achismo, de qualquer imposição, de qualquer doação psicológica de terceiros para orientar seu modo de estar na vida de relação. Que sucesso pode proporcionar tamanha liberdade? O que posso querer a mais que isso?... Todas as antigas autoridades psicológicas passam a ser vistas como bonecos de engodo. Não há mais como se estabelecer um comportamento de servilismo inconsciente. É possível "dar a César o que é de César" sem me corromper. O maior sucesso é poder ficar com isto que se apresenta, que você pode dizer que é Deus, ou o nome que achar mais interessante. Para mim, nomes não fazem mais sentido. Não sou minha Certidão de Nascimento, não sou meu R.G., não sou meu título Eleitoral. Sou o que sou através deste Sopro de ternura que agora se manifesta. Manter acesa esta chama é o meu maior desafio,  e também o maior sucesso de uma vida.

Nelson Jonas R. de Oliveira

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!