..........Levou muito tempo para perceber uma triste realidade operante: as pessoas não são culpadas por viverem num constante estado mediano. Na realidade, a palavra que eu gostaria de me referir para retratar o estado de ser em que a grande maioria vive, é a palavra “mediocridade”. Mas, como sei que a grande maioria recebe esta palavra de forma bastante agressiva, vou ficar com a palavra “mediano”. Não há nada de errado em fazer uso da palavra “mediocridade” para me referir ao estado de ser e estar na vida de relação em que a grande maioria, a massa se permite estar. Mediocridade, significa um estado entre o bom e o mau, e é preciso ter sempre em mente e coração que o bom sempre se fez inimigo do melhor. Viver na mediocridade, significa se permitir um modo de vida medíocre, ou seja um modo de vida mediano, sempre igual ao da média, ordinário, sofrível, vulgar — não o vulgar de obscenidade (se bem que em muitos casos é bem isso que ocorre) —, um estado de ser que não permite a expressão do real talento pessoal, somente aquilo que tem pouco valor e que por isso, tem pouco merecimento. O estado de mediocridade é o estado que nos mantém interiormente insuficientes, mesmo que exteriormente, — apesar da pessoa medíocre não sentir assim —, se faça presente tudo o que materialmente se faz necessário para um modo digno de se estar na vida.
..........Como dizia, as pessoas não são culpadas pelo presente estado de mediocridade de suas mentes, por não se verem vitimas da contagiosa mediocridade humana. Todos fomos “adestrados” desde a mais tenra idade para ver na mediocridade, um fator de sucesso. Não é preciso ser um sociólogo para constatar a veracidade desta afirmação: o que é medíocre é que faz sucesso! O que é medíocre é o que dá ibope! O que é medíocre é o que gera voto... A maioria nunca conheceu ou desfrutou de outro estado de ser. Nunca se viu em contato constante, nunca foi excessivamente exposto a ambientes diametralmente opostos ao estado de contagiosa mediocridade. Quase sempre, o ambiente em que se encontravam estava repleto de imitação, repleto de veneração ao que é tradicionalmente estabelecido, sempre permeado por conversas paltadas na trivialidade dos acontecimentos, em conversas que nunca apontavam e que nunca apontam para o que há de mais essencial: a descoberta de sua real natureza. Em vista disso, como poderia ser diferente? Como poderia ser diferente, se desde a nossa infância, somos educados por educadores completamente deseducados sobre si mesmos? Como poderia ser diferente, se em nossa educação, nunca fomos incentivados a fazer perguntas fundamentais, a questionar sempre, a querer ver por si mesmo, ao contrário, sempre forçados, amestrados, adestrados a aceitar o prato pronto de certezas incertas?
..........Definitivamente, as pessoas não são culpadas por isso, não são culpadas por se manterem medíocres. Elas não têm escolha, nunca tiveram. Enquanto seu Ser não se satura da excessiva e contagiosa carga de mediocridade, enquanto seu ser real não dá através da experiência do absurdo, o ar de sua graça, não há como conhecer outra possibilidade, não há como conhecer outra realidade possível.
..........Diz um grande amigo meu, que as pessoas, quando nesse estado de mediocridade, não precisam de modo algum de serem por nós atacadas, uma vez que elas mesmas estão sempre a se auto-atacarem, estão sempre auto-boicotando suas possibilidades de real bem-estar. Essas pessoas, merecem de nossa parte, carinho e proteção, acolhimento e proteção de si mesmas. Não é preciso querer modificá-las, muito menos se trata de querer “aceitá-las”. Trata-se tão somente de estar ao lado destas pessoas, sempre conectado a este estado de Presença, este estado de Presença que sabe muito melhor do que nosso limitado conhecimento, nosso limitado achismo, — fruto de nosso intelecto —, o que poderia ou não ser melhor para essas pessoas. Aliás, viver nessa forma de achismo é um grande sinal da presença de, em nós, um estado medíocre de ser. Quando vivemos presos nesses achismos do que é ou não é melhor para o outro, do que é ou não melhor para o mundo, trata-se do sujo falando do mal vestido. Se podemos fazer algo de realmente significativo para estas pessoas, esse algo se apresenta no trabalho pessoal de se manter em constante contato consciente com este divino, amoroso e caloroso estado de Presença. Ficar nesta calorosa Presença, e permitir que esta Presença, Seja, que Ela atue em sua forma preferida: o silêncio do anonimato. Estas pessoas não precisam de barulho; de barulho, suas mentes já estão cheias. Elas precisam da saneadora, da curativa ação do silêncio do Ser, elas precisam de um mergulho no Ser. Se elas não podem criar o ambiente necessário para que, através do silêncio, esta Presença, Seja e atue, podemos, quando com elas, fazer a nossa parte.
..........Definitivamente, as pessoas não tem culpa alguma de estarem até o último fio de cabelo, permeadas por tal contagiosa mediocridade coletiva. Elas não são culpadas: são apenas, co-responsáveis. Elas não precisam de mais rótulos e julgamentos. Elas precisam de amor... E para isso, eu sou responsável!
..........Nelson Jonas R. de Oliveira