Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

29 dezembro 2010

O medíocre não inventa nada

Poder Criativo, foto por NJRO.

O medíocre não inventa nada, não cria, não empurra, não rompe, não engendra; mas, em compensação, protege zelosamente a estrutura de automatismos, preconceitos e dogmas acumulados durante séculos, defendendo esse capital comum contra a cilada dos inadaptáveis. O rancor pelos criadores é compensado pela sua resistência aos destruidores. Os homens sem ideais desempenham na história humana o mesmo papel que a herança tem na evolução biológica: conservam e transmitem as variações úteis para a continuidade do grupo social. Constituem uma força destinada a contrastar o poder dissolvente dos inferiores e a conter as antecipações atrevidas dos visionários. A coesão do conjunto precisa deles, como o mosaico bizantino necessita o cimento que o sustenta. Mas - é preciso dizer - cimento não é mosaico.

Sua ação seria nula sem o esforço fecundo dos originais, que inventam o que é imitado depois pelos outros. Sem os medíocres não haveria estabilidade nas sociedades; mas, sem os superiores não seria possível conceber o progresso, pois a civilização seria inexplicável numa raça constituída por homens sem iniciativa. Evoluir é variar; somente se varia mediante a invenção. Os homens imitativos se limitam a acumular as conquistas dos originais; a utilidade do rotineiro está subordinada à existência do idealista, como a fortuna dos livreiros está na genialidade dos escritores. A "alma social" é uma empresa anônima que explora as criações das melhores "almas individuais", resumindo as experiências adquiridas e ensinadas pelos inovadores.

Estes são a minoria; mas são o fermento das maiorias vindouras. As rotinas defendidas hoje pelos medíocres são simples anotações marginais coletivas de ideais concebidos ontem pelos homens originais. O grosso do rebanho social vai ocupando, a passo de tartaruga, as posições atrevidamente conquistadas muito antes por seus sentinelas perdidos na distância; e estes já estão muito longe quando a massa acredita estar alcançando a sua retaguarda. O que ontem foi ideal contra uma rotina amanhã será rotina, por sua vez, contra outro ideal. Indefinidamente, porque a perfectibilidade é infinita.

Se os hábitos resumem a experiência passada dos povos e dos homens, dando-lhes unidade, os ideais orientam sua experiência vindoura e marcam seu provável destino. Os idealistas e os rotineiros são fatores igualmente indispensáveis, embora uns receiem os outros. Complementam-se na evolução social, ainda que se olhem tortos. Se os primeiros fazem mais pelo futuro, os segundos interpretam melhor o passado. A evolução de uma sociedade, estimulada pelo afã de perfeição e contida por tradições dificilmente removíveis, se deteria para sempre sem aquele e sofreria sobressaltos bruscos sem estas.

José Ingenieros
O Homem Medíocre

Gostou? Então compartilhe!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!