Slave Puppet, por NJRO.
"A partir do momento em que as necessidades fictícias ganham dos desejos naturais,
a natureza da natureza é transformada" - Daniel Roche
Vivemos a época da exaltação ao consumo inconsciente, que tem por aval a desculpa da importância da geração de empregos (para a formação de novos consumidores, é claro!). Todo investimento direcionado para essa área é visto como um estado de graça, uma benção dos novos tempos. Os Shoppings Centers assumiram o papel dos templos sagrados, onde, após a liturgia das compras, dá-se a barulhenta eucaristia, a Santa Ceia Fastfood. O empreendedorismo investe bilhões de dólares na expansão da "religião do nosso tempo". Na mídia, cada vez mais vê-se a pregação pelo aumento do padrão de consumo da classe média, uma manipulação velada para a garantia de vida eterna ao reinado do consumo inconsciente. Em vista disso, aos ansiosos excluídos, só resta rezar...
Oração do Crédito Nosso
Crédito nosso que estais no SPC,
santificado seja o Vosso Dote,
venha a nós o Vosso reino de consumo,
seja feita a Vossa vontade,
Dita na terra em comerciais.
O modismo de cada dia nos dai hoje;
perdoai-nos os atrasos de nossas faturas,
De um modo maior com que perdoamos
o atraso no dia de nossos pagamentos,
e não nos deixeis cair na tentação de sermos conscientes,
mas livrai-nos desse mal.
Pois vosso é o reino e a glória do consumo,
Hoje e sempre!
Amém.
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Oração da Ave Vitrine
Ave Vitrine,
cheia de graça,
o Marketing é convosco,
bendita sois Vós entre as mulheres,
bendito é o produto em Vossa estante,
que a nós seduz.
Santa Vitrine, nova Casa de Deus,
Esperai por nós os consumidores,
de agora até a hora da nossa morte.
Amém.
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Oração do Credo Capital
Creio no Capital, todo poderoso,
criador do inferno na terra
e no Consumismo seu único filho, Nosso Senhor
que foi concebido pelo poder dos Empreendedores.
Nasceu da Virgem matéria prima
Cresceu como produto industrializado
Foi manipulado, imposto e exacerbado
Entregue na mansão dos vivos-mortos
Perdendo a graça após o terceiro dia.
Seu valor subiu aos céus
Protegido pelo todo poderoso SPC e Serasa
Os quais há de vir a julgar os consumidores ativos e descartados.
Creio nas ações de marketing,
Através da Santa Mídia Diabólica
Na comunhão dos empreendedores
Pela remissão da consciência
Pela ressurreição do desejo
De uma vida de consumo eterno
Amém.
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Prece Discáritas
Capital, nosso Pai,
Que sois todo Poder e Desigualdade,
Dai o crédito à ficha que passa pela aprovação,
Dai o cartão internacional por telefone, com facilidade;
Ponde no coração do homem a gastança e a consumose!
Capital,
Dai ao consumidor a estrela VIP,
Ao assíduo a premiação,
Ao consciente o ostracismo.
Capital,
Dai o arrependimento ao inadimplente,
Do espírito afaste a verdade,
Da criança afaste o guia consciente!
Capital, meu Senhor,
Que a Vossa Desigualdade
Se estenda sobre tudo o que criastes.
Crédito fácil, Senhor,
Para aquele que ainda vos não conhece,
E que por sonhar com isso, iludidamente sofre.
Que a Vossa Insensibilidade
Permita aos espíritos cobradores
Derramarem em ligações telefônicas,
A perda da paz, da fé e da esperança.
Capital!
Um raio, uma faísca do Vosso rancor consumista
pode destruir a Terra;
deixai-nos comprar necessidades desnecessárias infinitas,
e todas as ansiedades dissiparão,
todas as dores se acalmarão.
E um só coração,
um só pensamento consumista subirá até Vós,
como um grito de reconhecimento e de louvor.
Como Moisés sobre a montanha,
No Shopping Vos esperamos com carteiras e braços abertos,
oh Poder!,
oh Desigualdade!,
oh Beleza Produzida!,
oh Perfeição Plastificada!,
e queremos a preço da morte
merecer a Vossa Financeira Pena de Vida.
Capital,
Dai-nos a força para ajudar o que chamam progresso,
Afim de ascendermos até Vós;
Dai-nos a mediocridade pura,
Dai-nos a fé na falta de razão;
Dai-nos a falta de simplicidade
Que fará de nossas almas o espelho
Onde se refletirá a Vossa Primitiva e Insana Imagem.
Assim Seja.
Abençoada seja a sofisticação do supérfluo e o distanciamento do essencial!
Nelson Jonas