Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

16 dezembro 2010

Casa Vermelha

A busca, foto por NJRO.

Casa vermelha! De seu pequeno jardim e vinhedo exala todo o sul dos Alpes. Muitas vezes já passei por ti e fizeste tremer essa ânsia de andarilho em meu ser fazendo que se lembrasse do seu oposto. Uma vez mais brinco com as velhas melodias: ter uma pátria, uma pequena casa num verde jardim, silêncio ao redor e mais além a pequena aldeia. No quartinho a minha cama olharia para o amanhecer, a minha própria cama, para o sul olharia a minha mesa e lá eu penduraria a pequena e antiga Virgem Santa que comprara em Brescia em outra viagem.

Como o dia que fica entre a noite e o amanhecer, assim entre o sonho por uma pátria e essa ânsia de viajante, transcorre a minha vida. Talvez um dia eu chegue até o ponto quando a viagem e a distância se encontrarão em minha alma e então levarei em mim as suas imagens sem ter que realizá-las. Também talvez chegue o dia em que possuirei pátria em mim, então não mais terei que namorar casinhas vermelhas e jardins. Ter uma pátria dentro de si mesmo!

Como seria então outra a vida! Ela teria um epicentro da qual emanariam todas as forças.

Dessa forma, porém, a minha vida não possui epicentro algum, esvoaça trêmula entre diversos pólos e contrapolos. Saudade de um lar aqui, saudade de estar a caminho lá, uma ânsia por solidão e retiro aqui, ânsia por amor e comunidade lá! Já fui colecionador de livros e quadros e já me desfiz de tudo. Já cultivei o vício e a volúpia que me levou à castidade e ao ascetismo, cônscio venerei a vida como matéria o que me fez descobri-la só como uma função e poder amá-la.

Bem, mas minha função não é transformar-me, isso é a função do milagre, quem porém o procurar, tentar atrai-lo para junto de si, tentar forçá-lo, desse ele só fugirá. O meu propósito é ficar flutuando entre muitas tensões contraditórias, mas estar pronto para quando o milagre chegar a mim. Meu propósito é estar sempre insatisfeito e sofrer inquietação.

Casa vermelha dentro desse jardim verdejante! Eu já te vivi, não devo desejar viver-te de novo. Já tive pátria uma vez, já construí uma casa, medi tetos e paredes e fiz os caminhos pelo jardim. As paredes enfeitei com os meus próprios quadros. Todo homem possui esse instinto, feliz sou eu de já ter podido viver isso! Muitos dos meus desejos já se realizaram em minha vida: queria ser poeta e consegui, quis possuir uma casa e construi uma, quis ter mulher e filhos e os tive, quis falar aos homens e impressioná-los e consegui, mas cada desejo, rapidamente, transformara-se em saturação e ficar enfastiado eu nunca suportei. Compor poemas ficou para mim suspeito, a minha casa me tolhia, nenhuma meta alcançada era uma meta, todo caminho era um desvio e todo descanso despertava uma nova nostalgia.

Ainda terei que trilhar muitos desvios e muitas satisfações me decepcionarão, mas algum dia tudo terá um sentido, pois é lá onde os contrastes se apagam que está o Nirvana, dentro de mim porém ainda brilham as amadas estrelas da saudade.

Hermann Hesse
Caminhada

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!