Acordei bem cedo com muitas questões em minha mente, entre elas:
Existe alguma realidade que esteja por detrás da aparência dos acontecimentos cotidianos?
Qual é o apelo mais apaixonado do meu ser?
O que aspiro com todos os poros do meu ser?
Qual é o propósito da minha vida no qual me entrego com apaixonada constância e firmeza?
Qual a verdadeira natureza do meu ser?
Qual é o exato objetivo da minha existência?
Qual é o meu lugar neste espaço tempo?
(...)
Não são questões fáceis e tão pouco agradáveis para se iniciar mais um dia...
Sinto que, a menos que exista uma base de ordem interna entre pensamento, sentimento, emoções e instintos, torna-se impossível o alcance da necessária qualidade interna capaz de olhar para estas perguntas com profunda seriedade e dedicação. Sem certa ordem em nossa natureza psíquica, torna-se impossível o alcance das respostas para estas questões, as quais são tão necessárias para a potencialização de uma vida dotada de verdadeiro significado e propósito. Quando se quer extrair o metal puro de uma substância bruta, a mesma tem que ser submetida á várias etapas de processos químicos, afim de que todas as suas impurezas se destaquem e possam ser retiradas e fundidas.
Tenho constatado muitas pessoas chegarem neste momento da busca e acabando por recair em seus velhos e disfuncionais padrões de comportamentos dependentes compulsivos, por ainda não estarem aptos, por não terem ainda alcançado o ponto de saturação com as mais variadas formas de ilusão propagadas pelo consciente coletivo. Não tenho como afirmar o que as fez optarem pelo retorno aos seus insanos comportamentos passados; talvez tenham queimado etapas tão necessárias deste processo. Algo parecido com a lagarta querer alcançar a potencialização do seu estado de borboleta, sem se quer ter passado pelo período de assimilação e purificação da crisálida. Percebo que sem que ocorra um processo inicial de reformulação psíquica, onde todos os conceitos e sistemas de crenças são minuciosa e destemidamente questionados, a tendência ao movimento de retorno é muito grande...
Acho que essas pessoas recaem porque ainda não sabem como fazer uso da melhor maneira possível de suas faculdades mentais, como por exemplo, o discernimento, tão necessário para a compreensão do verdadeiro e do falso, do Real e do irreal. Creio que é por isso que se deixam arrastar pelo que é ilusório, trocando o que há de melhor por aquilo que julgam ser bom. De fato, o bom é o grande inimigo do melhor. Enquanto essas pessoas estiverem se identificando com o ilusório, não haverá a menor possibilidade de adentrarem em níveis de consciência mais sutis.
Sutileza... Essa me parece ser uma importante palavra. Sem a capacidade de percepção das sutilezas ilusórias da mente, essas recaídas haverão de estarem sempre presentes. Estas pessoas serão vitimas constantes do que costumo chamar de um "estado de principiante crônico". Enquanto abrigarem em si a ilusão de que relacionamentos, drogas, plantas de poder, magias e simpatias, sistemas de crenças entre outras tantas coisas possam ser necessárias para o despertar da verdadeira expressão do seu ser, continuarão sendo vitimas de seus pensamentos e, como resultado, suas vidas não terão qualidade. Isso não se trata de intelectualismo barato, mas sim, de um fato que pode ser constatado por todo aquele que ainda não tiver sua sensibilidade asfixiada.
Sinto que enquanto a pessoa não alcançar aquele ponto de dor, aquele ponto de saturação psíquica, que caracteriza o limiar que separa os adolescentes dos adultos psíquicos, - olha que estamos cercados somente de adultos físicos - não haverá a mínima possibilidade de perceber que sua mente pode ser usada tanto para a continuidade de seus conflitos, como para a potencialização do despertar da inteligência. Para mim, sem dúvida alguma, a dor é a pedra de toque do desenvolvimento consciencial e de um modo de vida orientado por uma inteligência amorosa e criativa.
Outro questionamento meu que tem sido comum nos últimos dias é quanto essa insana tendência humana de se conformar com aquilo que é tido como "normal" pelo consciente coletivo. Não vejo sentido algum em se ajustar a essa máquina impiedosa de ambição, competição, exploração e destruição mutua, que é a sociedade capitalista.
Qual é o sentido de uma vida de servidão empresarial, pautada na mecanicidade de ações mesméricas? Qual o sentido disso?... Conseguir um pouco de respeitabilidade, um ou dois bons carros na garagem de uma casa própria, onde se possa relaxar ao mesmo tempo em que se deixa crescer a barriga juntamente com a arrogância e altivez?... Qual o sentido dessa servidão empresarial que rouba-nos a maior parte dos dias de nossa existência?
Qual o sentido de se ajustar a essa máquina impiedosa que é a sociedade, se o ajustamento a ela paulatinamente destrói a nossa sensibilidade, nossa integridade física e psíquica?
Qual é o sentido de manter relações com seus prazos de validade vencidos, relacionamentos onde se encontra somente distanciamento emocional, conflito, intriga, confusão, cuja continuidade é sustentada somente pela respeitabilidade social ou pela comodidade de ambos os envolvidos?
Tudo isso para conquistarmos umas migalhas daquilo que achamos ser segurança e respeitabilidade?
É em função disso que dedicamos nosso tempo e energia?
É em função disso que negamos o conhecimento de um modo de vida onde se possa experimentar a vida de forma integral?
Qual o sentido de se conformar em levar a vida, direcionada por padrões estabelecidos por terceiros, sendo que, muitos deles nem mais estão vivos ?... (se é que algum dia estiveram)...
Estas são perguntas que em mim não silenciam.