Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

09 novembro 2007

Paraplégicos mentais em recuperação

- Bom dia, Pessoa!

- Bom dia, JR!

- Diga-me desse lado do oceano que nos separa fisicamente – muitos aqui são mais distantes com certeza -, quais as suas novas descobertas sobre o Ser que lhe faz ser?

- Não são muito boas... É provável que eu morra sem Ser.

- Pesada essa constatação! Explique-se melhor.

- Durante anos, eu cultivei o intelecto a fim de alcançar este preciso lugar de consciência em que me encontro. Este intelecto me possibilitou saber qual o caminho da Verdade, que eu tanto procurei: o caminho da Verdade Factual. Mas, este mesmo intelecto tomou minha liberdade e fez de mim prisioneiro de mim mesmo. Sei qual o meu caminho, mas não consigo caminhar.

- Tenho visto, através do contato com várias pessoas, principalmente pela Internet, em vários grupos de discussão, que existe uma grande tendência humana de se deixar prender nas grossas amarras da rede do intelecto.

- É como se o intelecto tivesse sido, desde o meu nascimento, a muleta ou a bengala de apoio às minhas frágeis e débeis pernas da mente. Minhas pernas se encontram tão acostumadas a essa muleta, a essa bengala, que eu caio para o lado se fico sem ela. A Auto-Observação é muito difícil para mim - minhas pernas da mente se encontram por demais atrofiadas... Durante 26 anos eu não as usei desacompanhadas de muletas, e agora, se tento andar sem muletas, eu caio e sofro dores ainda maiores do que aquelas que eu sofro andando apoiado.

- Parafraseando Tolstoi, "o intelecto não representa mais do que uma nova forma de escravidão, a escravidão impessoal que substitui a antiga escravidão pessoal".

- O Intelecto é o mais forte dos condicionamentos: ele se confunde e se mascara de Identidade a fim de impedir que a nossa real identidade se vire contra ele - ele tem um mecanismo muito forte de auto-proteção. Eu diria mesmo que é uma fortaleza quase impenetrável.

- A meu ver, tudo que o intelecto nos oferece para beber é um copo d´água salgada, com o propósito de nos deixar ainda mais sedentos e continuar no controle de nossa existência sem vida.

- E esta é a razão pela qual eu cheguei junto à porta de entrada do caminho da Verdade Factual, mas não consigo entrar nem fazer caminho. Me encontro de mãos e pés amarrados pelo Intelecto - o mesmo que me proporcionou a chegada a este lugar. É irônica e perversa esta realidade.

- Pessoa, será que existe mesmo um caminho para a Verdade?... Caminhante, o caminho se faz ao caminhar... Já dizia teu conterrâneo!

- É provável que eu morra sem Ser. E eu vivo triste e angustiado com essa probabilidade e essa forte possibilidade.

- Sinceramente, não creio nisso. Creio sim ser provável que você deixe este planeta formado muito mais por água, chamado Terra, sem ser aquilo que seu intelecto diz que você deveria ser. Estamos sendo, cada um no seu processo, cada um no seu compasso. Sabe, há muitos anos atrás, um senhor, alcoólatra em recuperação, em sua simplicidade, disse-me uma frase que inicialmente foi apenas um verbo, mas, que no passar dos dias acabou virando carne e habitando dentro de mim: Se algum dia você quiser se comparar com algo, se compare apenas com o dia de hoje, quando você entrou por esta porta deste grupo de autoconhecimento. Se ao final da observação você perceber que o seu estado é pior do que este dia, então, muito há no que refletir. Caso contrário, adiante irmão!

- Eu devia ser como toda a gente: viver despreocupado e inconsciente do Ser. Afinal, que é a morte para quem é/vive morto? Ou, talvez, eu devesse reaprender a andar, como os paraplégicos que recuperam a possibilidade de locomoção. É isso que eu sou? Um paraplégico em recuperação?...

- Ao ouvir seus sentimentos de agora, surge em minha mente à seguinte questão: será que a lagarta, na solidão e aperto de sua crisálida também se ressente como você o faz agora, ansiando conformar-se por uma vida pautada na horizontalidade dos instintos degenerados pela ação do egoísmo capitalista?... Há que se aprender a ver lucro onde o nosso intelecto só consegue ver prejuízo... Avante irmãozinho! Um colorido Infinito de múltiplas possibilidades no mundo da verticalidade do Ser, pacientemente nos aguarda, mesmo que vacilantes e ainda apoiados em algumas muletas.

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!