Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

15 junho 2015

A virtualidade e o compartilhar do coração

Não é nada fácil se deparar — não por escolha própria, mas por um chamado do destino — com a necessidade de fazer frente a um novo paradigma que traz uma nova maneira de se relacionar tanto consigo mesmo, como com o mundo que nos rodeia, isso quando ainda vivenciamos um período em que nossos hormônios estão a flor da pele, quando ainda não possuímos a necessária autonomia tanto psicológica quanto financeira — o que nos deixa reféns de várias formas de dependências — e quando ainda estamos mal entrando no adulterado mundo adulto e nele ainda não ter encontrado nosso campo de ação, nosso solo sagrado.
De fato, quando ainda nesse período, não é nada fácil se deparar com um paradigma cujas bases se encontram sustentadas nos pilares formados pelo cruzamento dos preceitos espirituais dos Grupos de ajuda mútua, chamado Doze Passos e a observação contida nas percepções de homens que alcançaram o estado de prontificação para a manifestação da retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa. Entre muitos deles, podemos citar com especial gratidão, Huberto Rohden, os terapeutas do Deserto, Trigueirinho, Mestre Eckhart, Karlfield Graf Dürckheim, Osho, Joel S. Goldsmith, Paul Brunton, Krishnamurti, Eckhart Tolle, Ramana Maharshi e Nisargadatta Maharaj. Tudo isso somado a experiência compartilhada de homens e mulheres com mais de 25 anos de vivência direta de tal conteúdo, de forma repleta de propriedade.
O que acaba ocorrendo ao novato iniciante é um enorme desmoronamento da estrutura psicológica de seu velho mundo, num momento em que ele mal começou a sentir na pele as dolorosas exigências da família, sociedade e demais conhecidos (sem falar nas exigências de seus próprios condicionamentos). Não raro, muitos novatos iniciantes se veem mergulhados numa enorme onda de conflitos até então nunca antes imaginados, cujo poder de confusão nubla por completo a possibilidade de expectativas positivas, bem como a compreensão do porque daquilo que momentaneamente sacode suas protegidas e acariciadas zonas de conforto estagnante, zona essa que impede a necessária manifestação de um processo de prontificação que apontam para a maturação e manifestação da Consciência que É.
O que percebemos é que muitos desses novatos, por já terem se deparado com certa quantidade de materiais com conteúdos como os de Osho, Eckhart Tolle e Krishnamurti, torna-se para eles muito difícil a total identificação com o compartilhar dos membros dos Grupos de Doze Passos, bem como a observância de seus princípios espirituais, estes sustentados na necessidade de uma crença num Poder Superior ou Deus como cada um O conceba. Nessa fase, por natureza — talvez ainda motivados pelo ranço resultante da vivência parental — a menor ideia de submissão a alguma forma de autoridade, principalmente de fundo espiritual, se mostra repulsivamente alérgica. Se já não bastasse isso, talvez pelo novo costume formado pela revolução tecnológica, a qual nos cria a ilusão de conexão e intimidade, ainda temos que contar com a grande barreira para manter contatos presenciais constituídos do verdadeiro compartilhar de nosso íntimo. Sem estes contatos presenciais, não há como fazer uso de ferramentas tão importantes no processo de autoconhecimento como a opção do olhar nos olhos e o uso da imprescindível linguagem corporal (o corpo nos entrega de forma rápida e fácil a contradição que se encontra por trás de nossas palavras repletas de cálculo). De fato, como não é difícil se constatar, a virtualidade rouba-nos o contato do reverberar de nossa frequência energética sutil, da qual só podemos ser agraciados por ela, quando nos encontramos harmonicamente em estado de Presença. Quando estamos presencialmente unidos, torna-se mais difícil a dispersão de nossa energia, o que certamente já não ocorre quando nos vemos “conectados” por meio da virtualidade (quase sempre nos mantemos com várias janelas abertas que apontam para diversas direções, quase sempre muito distantes da enorme porta que aponta para a comunhão do coração). Por mais que tentemos manter nosso estado de Presença por meio da internet, essa forma de compartilhar se torna um tanto impessoal, porque, mesmo por vezes tendo a opção do olhar direto por meio de uma web cam, não somos expostos à misteriosa e impactante energia sutil, a qual no início nem temos ideia de sua realidade, muito menos imaginamos que possa ser real a possibilidade de uma inter-relação harmônica muito além do que os enfraquecidos sentidos conseguem captar.
Outro fato que temos percebido é que a observação e assimilação de um novo paradigma não acontece de imediato; ele sempre ocorre de forma crescente e intercalado por momentos denominados de “platôs”. Em cada momento, por hora digamos assim, uma dosagem de consciência é recebida, a qual pede por um necessário período de absorção e assimilação, até que se esteja apto para novas doses de consciência. E essas passagens para novos estados de consciência — se é que podemos dizer assim — é sempre também repleto de confusão, esta gerada pela negação exercida pela mente adquirida diante da nova informação trazida pela Consciência quanto uma forma de ilusão com sua respectiva dependência e medos infundados. A dificuldade aqui é que por mais que o iniciante seja avisado quanto a necessidade de se lançar um olhar diferenciado para o estado de confusão, este quase sempre se vê incapacitado de não se identificar com a enorme gama de pensamentos que nele sempre estiveram presentes, mas que até então não eram percebidos. A mente adquirida tem um sistema de defesa tão apurado, que ela tenta instalar a ideia de que por meio da observação do novo paradigma, esteja-se enlouquecendo, para que ocorra a identificação com suas falas geradoras de terríveis medos e que através dessa identificação reativa, ocorra o aborto do processo de prontificação para a revelação de nossa real natureza.
É preciso levar em consideração que todo o nosso organismo funciona de acordo com um condicionamento adquirido; tanto a mente como os instintos funcionam de uma forma degenerada, eles perderam a características de seu gênero original. Então ocorre uma exigência holística de retroalimentação desse organismo degenerado, o que não acaba ocorrendo uma vez que a carga trazida pelo novo paradigma é diametralmente oposta a carga pela qual se encontrava viciada a antiga estrutura com a qual se estava identificado. Então é natural que se manifeste um grande choque estrutural, entre o que está condicionado e essa nova carga que traz luz onde antes só havia escuridão. E o que acaba ocorrendo de imediato é que tanto o corpo, tanto a mente como os instintos acabam se identificando com a ideia de que esse novo material que está sendo assimilado é que é venenoso. Dá-se uma espécie de efeito colateral a qual dispara a “Síndrome do Pensamento Acelerado”, com seus conhecidos sintomas torturantes.
Neste momento do processo mostra-se profundamente importante o contato presencial com pessoas que já atravessaram essas dolorosas vivências, ou mesmo que também estejam vivenciando tal estado. O compartilhar franco e aberto nos proporciona tanto a possibilidade de desabafo da tóxica energia conflitante, como a possibilidade de um retorno que aponte para o facilitar da necessária compreensão e transcendência do estado de conflito. Valer-se de uma nova rede de apoio é que possibilita a não identificação com os poderosos gritos da mente, os quais nos forçam pelo aborto de nosso processo por meio do ajustamento ao que a Consciência nos aponta como falso. É através de um honesto contato assíduo com essa valorosa rede de apoio que conseguimos fazer frente a esse estado de confusão inicial e dar sequência ao exercício de nosso rito de passagem para níveis mais profundos de autoconhecimento.
É interessante frisar que quando nos referimos ao uso de uma rede de apoio, não estamos com isso alimentando uma dependência, uma vez que, essa rede de apoio visa tão somente a sustentação diante dos primeiros passos nesse caminho de retorno para nossa real natureza; é uma rede que não foi feita para nos prender, mas antes disso, para nos puxar, nos sustentar e novamente nos jogar ao mundo, de forma totalmente livre de nossos antigos condicionamentos e ilusões. É um jogar o aprendiz de volta para si mesmo. Isso fica bem claro quando olhamos para o nosso processo: se não tivesse ocorrido o apoio por parte de algumas pessoas mais antigas no processo, se com elas não tivéssemos sido emocionalmente assíduos, com uma frequência de contato psíquico íntimo visceral, talvez seria impossível fazer frente ao estado de enorme confusão inicial. Foi com eles que pudemos obter a coragem necessária para perceber, sentir e vivenciar nossa debilitante disritmia e através dessa coragem, retomar o sopro e retomar nosso ritmo original. Foi nesse período que percebemos a duras penas que tentar superar essa confusa fase inicial de forma solitária, com a própria limitação da mente extremamente confusa, só poderia resultar na identificação com mais fontes de confusão, uma vez que, uma ferramenta não ajustada só pode produzir mais desajustados resultados. Foi mediante essa percepção da necessidade de maior aproximação presencial com pessoas mais experientes, com as quais fosse possível a prática de um “pensar alto” quanto ao próprio estado de confusão, que ousamos dar as costas para o clamor agressivo de nossos medos infundados, os quais funcionavam como pilares de sustentação da antiga estrutura da mente adquirida, e nos aventuramos num compartilhar cujo resultado foi o descobrimento de um terreno fértil e bem trabalhado para a instalação dos novos alicerces que apontavam para a construção do enorme e seguro edifício do ser que somos, onde mais tarde poderíamos abrigar com propriedade, demais corações feridos, também em processo de desmoronamento iniciático.  
Foi através dessa ousadia que descobrimos que há uma interação que vai muito além das palavras, que ocorre além do corpo físico. Fomos condicionados a pensar que somos o corpo físico, a achar que somos a nossa condicionada linha de raciocínio, que somos o nosso desempenho dissertativo, o nosso vocabulário, quando na realidade, em última análise, somos puro silêncio, silêncio este que todo aquele que esteja mais alinhado com essa energia silenciosa, com esse corpo sutil, com essa calorosa Presença... Só a presença desses que estejam mais alinhados com essa Presença, faculta com que essa Presença possa fazer seu “trabalho de base” com esses que momentaneamente, com Ela se encontram desalinhados.

Outsider

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!