Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

12 junho 2015

A importância do questionamento das crenças

Ficamos muito na superfície das palavras; ficamos muito no preconceito coletivo da palavra que, por sua vez, também é um sistema de crença, visto que a mesma palavra, em idiomas diferentes, apresentam diferentes simbolismos. Quando a mente escuta a palavra “crença”, imediatamente, para a grande maioria de nós, ela nos remete aquelas passagens infelizes que tivemos com algum sistema de crença organizada que, por muitos anos de inconsciência, acreditamos se tratar de religião.
Achar que sistema de crença é religião, é também um sistema de crença. Religião é aquele impulso interno que nos é único, pessoal, que não pode ser organizado, que não pode ser transferido e que nos impulsiona a buscar pela verdade e realidade das coisas manifestas e não manifestas. É uma vivência direta que não pode ser verbalizada, que não pode ser rotulada, que não pode ser organizada, visto que não se refere a dimensão da limitação das palavras e conceitos. A religião vive sem a necessidade de sistemas de crença, mas os sistemas de crença não podem existir sem a observação de uma vivência religiosa de alguém.
É preciso aprofundar muito mais nessa questão da palavra “crença”, porque é muito fácil de se abandonar um determinado sistema de crença organizada; basta abrir um pouquinho só que seja os olhos da dimensão do coração, para se deparar com os enormes absurdos e contradições que sempre fazem parte dos alicerces do sistema de crença organizada, principalmente se você não se limitar a ser apenas um assíduo frequentador. Se ousar ir mais a fundo e conhecer os bastidores da crença, das duas uma, ou se ajusta no esquema contraditório, ou então, dela se afasta. A própria crença organizada já é absurda e contraditória com a realidade religiosa. Por isso que afirmamos ser de extrema facilidade o abandono de um determinado sistema de crença organizada, no que diz respeito a espiritualidade.
Agora, difícil mesmo é a constatação das incontáveis crenças, que nem sequer são reconhecidas como crenças. Primeiro é preciso ficar claro ao que nos reportamos como sendo crença. Crença é tudo aquilo que temos por algo de valor, sem se dar ao trabalho do devido questionamento e reparação. Para nós, a crença é uma influência que a consciência do Real, prensa. Podemos citar alguns tipos de crença que não são vistas como crenças: nacionalismo com suas diversas simbologias (hinos, bandeira, brasão, etc.)... Cometemos genocídio por causa de um pedaço de pano ou por uma ideia; cor da pele, idioma, ter que ter uma Carteira de Trabalho assinada... Uma das crenças mais escravizantes e limitantes que existe... Ter que trabalhar oito horas por dia, durante, no mínimo, cinco dias da semana... Acreditar que o trabalho é que enobrece o homem... Quer dizer que o homem sem um trabalho, em si mesmo, não tem valor algum?... Você ter que vencer na vida, ter que ser alguém na vida... Vai vendo só se a crença não nos limita com um enorme peso sobre as nossas costas, de modo a não permitir o descobrimento do nosso estado original de liberdade humana... Outra crença clássica que endureceu-nos o coração: homem que é homem não chora!... Homem não pode ser sensível, ou seja, homem tem que aceitar toda forma de insensibilidade... O homem não pode ser íntimo e carinhoso com outro homem... Mulher é pra ser “traçada”, é pra “ser comida”... Vai vendo a deturpação de valores causada pelo condicionamento sexual que é compartilhado como crença em nossa sociedade (se não acreditar, observe nas propagandas o modo como a mulher nos é apresentada juntamente com os descartáveis produtos de consumo)... Aceitar ter que pagar por escola particular e por plano de saúde, que são crenças classistas profundamente separatistas e desumanas... Acreditar no chavão “mente vazia, oficina do Diabo”... Perceba a enorme inversão de valores contidos nessa crença social; vamos crescendo com esses chavões e acreditando ser errado ficar no ócio, estado em que dá o espaço necessário para a manifestação do insight criativo... Ter que ter pra ser; ter que trocar de carro, no mínimo de dois em dois anos... Indo um pouquinho mais fundo, acreditar que somos o corpo; nos mantermos presos na identificação corporal, a qual nos mantém escravos dos instintos deturpados pela ação engenhosa da ferramenta criadora de crenças, chamada marketing, afinal, a especialidade maior do marketing é tornar objetos e situações não necessárias como psicologicamente indiscutivelmente necessárias... Ainda na questão corporal, uma das maiores crenças está na “padronização do corpo perfeito”... Ter que frequentar uma academia, pois caminhar num parque não é seguro; você tem que andar na esteira, mas não deve subir escadas... São sistemas de crença que vão virando parte do cotidiano e que se você não fizer parte, acaba correndo o risco de ser visto como problemático — o que também é outro sistema de crença... Veja o que estamos fazendo com nossos corpos em nome de ter como sagrado aquilo que nos é imposto pela mídia, através de personalidades famosas com seus brancos sorrisos de laboratório... Tudo isso são crenças que, se não questionadas, nos limitam, nos separam e se mostram como fonte de intermináveis conflitos.
Todos esses exemplos e muito mais, são todos sistemas de crença poderosamente muito mais danosos, do que as crenças milenares oriundas dos sistemas de crença organizada. Grande parte critica a ideia de misturar dinheiro com religiosidade, no entanto, quanto dinheiro se faz necessário para dar vazão ao espírito das crenças que mobilizam a sociedade? Qual é o custo financeiro e emocional que é colocado sobre nossas costas quando aceitamos como verdadeiras as crenças debilitantes?
Essas crenças que não temos consciência como crenças é que requer urgência de observação, afinal, quanto que as mesmas não nos mantém ocupados para que a consumação e manutenção das mesmas sejam possíveis?...
Outro sistema de crença socialmente aceito: Futebol, Seleção Brasileira, Corinthians, Palmeiras, Flamengo, Galo... Quer mais crença organizada que o futebol? Então, o que me diz de todos os dias se sentar diante da televisão, ou diante de sua revista periódica ou jornal impresso e, de forma passiva, acreditar e propagar as notícias que lhe são apresentadas sem o devido questionamento e reflexão?... Acreditar nas pessoas tidas como autoridades... Acreditar no sistema do mercado financeiro, com sua Bolsa de Valores e seus vários modos de aplicação... Quantos morrem prematuramente por causa de uma queda na Bolsa ou uma forte instabilidade no mercado financeiro? Tudo isso não são crenças estabelecidas?
Outro sistema de crença que nos foi implantado desde a mais tenra idade e que judia demais do ser humano, sendo fonte de interminável ansiedade: seu nome é a coisa mais sagrada que existe!... Você tem que zelar pelo seu nome, pois, sem um nome limpo, o homem não é nada!... Ou então, “você só pode confiar nos seus familiares; não pode confiar em mais ninguém!”... Dá uma olhada no modo como essas crenças infectaram nossa realidade... Tudo isso são crenças e crenças venenosas, profundamente separatistas.
Quer mais um sistema de crença organizada venenosa?... Partido Político e a inconsequente militância política... Eu acredito em tal partido, em tal político e me afasto dos familiares que acreditam e militam por diferente partido, pois, afinal de contas, só eu sei o que é o melhor para nossa nação... Basta ver o que as últimas movimentações políticas vêm causando de separação entre amigos e familiares, sempre motivadas por uma mídia corrupta, cujos interesses escusos nunca nos são revelados. Tudo isso por quê? Por causa da crença num Partido Político, a qual também tem em seus alicerces, a absurda crença ilusória numa autoridade salvadora. É um deus também, com seu símbolo, com seus rituais, com seus hinos, suas bandeiras... O Cristianismo tem um símbolo, o Budismo tem um símbolo, o Islamismo tem um símbolo, o PT tem um símbolo, o PSDB tem um símbolo, o Comunismo tem um símbolo, o Capitalismo tem um símbolo... E tudo sistemas de crença organizada que nos prometem por felicidade, liberdade e bem-aventurança, mas que, em última análise, carecem totalmente de realidade.
Outra crença poderosa, a qual tenho certeza que muitos dos leitores se revirarão nas cadeiras, é a crença de que a chamada “depressão” é uma doença... “Depressão é doença sim! Saiu no jornal de domingo uma página inteira... Tá aqui, ó: depressão é falta de lítio no cérebro e, por isso, terei que tomar remédio controlado pelo resto da vida... Não posso deixar de ter acompanhamento médico”... Sem perceber, os que acreditam nesse sistema de crença, fazem dos consultórios e farmácias suas mesquitas, igrejas e templos. E os que acreditam nisso, correm o risco de terem suas mentes embotadas para o resto de sua existência sem vida.
Tudo isso, sem dúvida alguma, é muito mais abusivo do que os sistemas de crença organizada que boa parte de nós, abertamente, proclamamos — quase sempre de forma grosseira — a nossa condenação. Então, são tudo crenças que uma vez aceitas, quando somadas, quanto de tempo, energia e dinheiro nos fazem desperdiçar? Quanto tudo isso não acaba nos limitando? Quanto isso exige de nós? Quanto de exigências descabidas nos são impostas por causa da aceitação irrefletida desses numerosos sistemas de crença organizada? Será que realmente valem a pena? Veja bem: vale a pena? Sim! É uma pena, é uma sentença!
Quer mais, ou já chega?... E o que falar da moda?... Algum desconhecido dita que a moda agora é calça colada e todo mundo se vê forçado a trocar o guarda-roupa, porque, psicologicamente, não se banca!... Marcas, Grifes... Ter que sair de casa no final de semana, para comer uma comidinha caseira... Ter que comer carne senão você acaba doente... Não são sistemas de crença? Quanto é exigido de nós para podermos acompanhar essas exigências, essas padronizações mentais comportamentais criadas por terceiros que nem sequer conhecemos?...
Vamos parando por aqui, mas deixando o convite para que o leitor repare nos vários sistemas de crença do cotidiano, dos quais ainda porventura se encontre prisioneiro, e que depois de observadas, percebe-se que as mesmas o impede de ter uma vida de simplicidade voluntária, livre das exigências sistêmicas, de modo que a capacidade de tempo livre possa ser um dos seus maiores patrimônios. Sem tempo livre, nossa expressão de ser é sempre limitada; a possibilidade da manifestação criativa torna-se quase impossível, nos forçando assim a um modo copiado de ser, ou, em outras palavras, a um modo de vida de segunda mão.
Por hoje é só! Acredite, se quiser...


Outsider

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!