Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

17 junho 2015

A Verdade não admite blefes

Hoje é muito claro que, no que diz respeito ao conhecimento de si mesmo, ficar somente dos domínios do intelecto, é o que significa a essência de uma das falas de Jesus, quando este se referia a “construir a sua casa em cima da areia”... no primeiro vento... Tudo se vai pelo chão... Tudo! Porque não tem base concreta, pois a única dimensão concreta é a base do coração. No que diz respeito ao conhecimento de si mesmo, a base não é o intelecto, pois este, na primeira contrariedade reage com choro, autopiedade e profundos e destemperados ataques de raiva.
É por isso que não cansamos de insistir que, sem a rendição quanto a impotência diante da enorme potência energética e profundamente contraditória do pensamento psicológico condicionado, sem que ocorra aquele sentimento que busca tão somente pela estabilidade emocional, pela necessidade de paz... Enquanto o propósito primordial que nos anima não ter como principal foco o encontro da paz interior, não há a possibilidade de manifestar qualquer outra coisa além da confusão interna, a qual produz o caos externo, que já se encontra por hora estabelecido, nesse mundo construído pela mente adquirida. Não há mínima possibilidade do surgimento de algo novo genuinamente original; o que pode surgir é o endurecimento daquilo que convencionamos chamar de “observador ácido”. E o endurecimento do observador ácido acaba tendo como desfecho, dolorosas e por vezes irreparáveis fragmentações, loucura ou a morte prematura.
Então é de fato uma grande benção quando nos ocorrem essas dolorosas intervenções por parte da inteligência da Grande Vida, a qual nos desperta do pesado estado de sono formado por incontáveis camadas de sonho atrás de sonho. E é justamente nestas dolorosas intervenções que tomamos, a duras penas, a consciência de que no tocante a solução de nossos mais profundos conflitos, o intelecto se mostra totalmente impotente. Seria algo como, em meio de um incêndio de grandes proporções, recorrer ao incendiário para o apagar do mesmo. A chama ácida do intelecto só pode ser combatida com a calorosa e amorosa chama da dimensão do coração.
Agora, se realmente tiver ocorrido a rendição diante da potência energética do pensamento condicionado; se tiver realmente percebido a total impotência diante do fluxo do pensamento, diante desse acúmulo de vozes e imagens desconexas e contraditórias, que ficam no fundo da mente roubando a energia vital do ser que somos; se tiver realmente ocorrido isso, sem que tomemos parte ativa nisso, abre-se para nós uma nova dimensão — a qual sempre esteve ai, mas devido aos condicionamentos, nunca antes foi percebida —, e que resgata para nós, mediante um trabalho de prontificação, as genuínas qualidades criativas e integrativas da Realidade Única que somos.
É só nesse momento que passamos a ter o desejo redirecionado para a Fonte de todo desejo, a qual nos é revelada pela maturação do processo de conhecimento de si mesmo. Só aí é que nos deparamos com Algo muito além da limitada arena do pensamento, do intelecto. Caso contrário, continua o insano desfile de achismos, quase sempre originados de influências externas, os quais, com coloridas imagens nos prometem por felicidade e completude, mas que, na primeira curva da estrada do real, nos apresentam seus dolorosos, solitários e carregados tons de cinza.
Portanto, é preciso muita seriedade e certa maturidade para ir fundo na busca de resposta única capaz de colocar um ponto final na pergunta: “Por que sofremos?” Se formos realmente sérios e dedicarmos a energia necessária para fazer frente a essa pergunta, em seu devido tempo nos depararemos com a seguinte resposta: “Sofremos por causa das consequências do abuso de nossas vontades e desejos, os quais sempre trazem consigo reações inconscientes e inconsequentes. E, quando bate a consciência quanto as consequências de nossos ataques de inconsciência é que nos vemos completamente desiquilibrados emocionalmente, sem saber o que fazer com o triste e complexo resultado delas. E o pior de tudo é que, com a mente em tal estado de confusão, saímos por esse mundo a fora, derramando-nos nos primeiros ouvidos que dão atenção as nossas lamúrias, para depois de certo tempo percebermos que mais uma vez fomos enganados, explorados e carregados de embotamentos que só aumenta nosso estado de confusão. É a duras penas que percebemos que a nossa falta de maturidade e sua consequente falta de autonomia psíquica-emocional, torna-nos presas fáceis de sagazes sorrisos disfarçados de espiritualidade e religiosidade, os quais trazem escondidos embaixo das mangas, escusos interesses egoístas.
Então, uma das principais etapas do autoconhecimento está na reorientação de nossos desejos, para o desejo único de saber se é possível encontrar por paz, a mesma paz que se encontrava no brilho de nosso olhar e no cheiro de nossa pele, antes que tivéssemos nosso espírito condicionado pelo mundo das palavras, imagens, crenças e conceitos, os quais deram margem a mais variada forma de desejos sagazmente condicionados por terceiros, estes, quase sempre por nós desconhecidos.
A essência do autoconhecimento aponta para o objetivo primordial da busca da verdade; para a busca da verdade de nossa única realidade... Isso é a única coisa necessária... Isso é o peixe grande a que devemos nos agarrar... Essa é a preciosa pérola que se encontra nas inexploradas águas do ser que somos... O autoconhecimento não é egocrático, portanto, não visa a consecução de nossos desejos autocentrados... Ele só nos promete pela Verdade além do espaço tempo, mais nada... Mais nada... Não adianta ficar com a carta da sua expectativa debaixo de uma das mangas, pois certamente, sua carta nunca estará no baralho da Verdade. A Verdade nunca será democrática com os desejos da mente adquirida que foi herdada de nossos pais, parentes e amigos ou da própria experiência adquirida durante longos anos de infortúnios provenientes da enorme coleção de achismos e de incertas certezas emprestadas. Se quisermos insistir nisso é melhor nos prepararmos para a continuidade de uma vida de incontáveis sofrimentos e ilusões e, o pior de tudo, é que nessa triste escolha, certamente causaremos os mesmos sofrimentos e ilusões a todo aquele que entrar em contato conosco estando em semelhante estado de sonambulismo.


Outsider

Gostou? Então compartilhe!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Postagens populares

Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!