Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

24 março 2012

São Thomé das Letras: a cidade da sincronicidade

Gostaria de compartilhar um pouco da experiência de sincronicidade que me levou a conhecer e me apaixonar pela cidade de São Thomé das Letras. Antes, acho interessante trazer uma definição sobre a palavra "Sincronicidade". Segundo os arquivos do site Wikipédia, Sincronicidade é um conceito desenvolvido por Carl Gustav Jung para definir acontecimentos que se relacionam não por relação causal e sim por relação de significado. Desta forma, é necessário que consideremos os eventos sincronísticos não a relacionado com o princípio da causalidade, mas por terem um significado igual ou semelhante. A sincronicidade é também referida por Jung de "coincidência significativa"... Em termos simples, sincronicidade é a experiência de ocorrerem dois (ou mais) eventos que coincidem de uma maneira que seja significativa para a pessoa (ou pessoas) que vivenciaram essa "coincidência significativa", onde esse significado sugere um padrão subjacente. A sincronicidade difere da coincidência, pois não implica somente na aleatoriedade das circunstâncias, mas sim num padrão subjacente ou dinâmico que é expresso através de eventos ou relações significativos... Acredita-se que a sincronicidade é reveladora e necessita de uma compreensão, e essa compreensão poderia surgir espontaneamente, sem nenhum raciocínio lógico. A esse tipo de compreensão instantânea Jung dava o nome de "insight".

Pois bem! Uma vez exposta uma breve explanação a respeito do significado da palavra sincronicidade, gostaria de compartilhar algumas das experiências que tive e que se mostraram profundamente significativas e indicativas durante a longa jornada de autoconhecimento que teve seu início aos meus 24 anos de idade, após minha "depressão iniciática". A que mais me tocou se refere ao sincronismo que acabou por me levar a conhecer São Thomé das Letras, a qual tem se mostrado, para mim,  um energético terreno de transcendência consciencial, um "Grande Portal para o Ser". 

Lembro-me que estava num período de profunda turbulência causada pelo questionamento de valores, comportamentos e tendências. A realidade se mostrava profundamente obscurecida de significado e me sentia mais perdido do que barata em dia de mudança. Naquele período, eu mantinha juntamente com meu irmão, uma pequena agência de criação, arte e publicidade, voltada para o segmento de moda, em específico, o Surfwear. Eu passava o dia todo criando e acompanhando o desenvolvimento de estampas para camisetas de conceituadas marcas do mercado de surf. Em meio a criação — a qual era muito aceita pelo mercado —, eu era sempre tomado por um sentimento de profunda insatisfação. Não conseguia ver sentido em passar minha vida criando apenas mais uma imagem para um produto de consumo, rapidamente descartável. Aquilo, apesar de encher o meu bolso, esvaziava o pouco que ainda mantinha em meu coração. Num fim de tarde de sexta-feira, quando já não havia mais nenhum funcionário no estúdio, enquanto desligava os computadores, em meio à uma profunda angústia, lembrei-me da fala de uma jovem após o término de uma palestra que eu havia feito numa cidade serrana do estado do "Espírito Santo", palestra que versava sobre o tema "A Neurose da Família Disfuncional". Nunca antes tinha visto essa moça e ela, muito sutilmente, se aproximou me perguntou:

— Você poderia me permitir uma sugestão? — Consenti com um sorriso

— Olha só: não sei por que meu coração pediu para que eu lhe dissesse isso... Quando você estiver preparado, vá conhecer a cidade de São Thomé das Letras... Sinto que você tem tudo a ver com ela.

— Não a conheço, aliás, nunca sequer ouvi falar de sua existência. Mas por que você acha que devo conhecê-la? 

— Como disse, não sei lhe explicar, mas foi o que meu coração pediu para lhe dizer. 

Uma vez dito isso, nos despedimos e nunca mais encontrei essa moça novamente. Ainda havia um dos computadores ligados e decidi fazer uma pesquisa na internet para saber um pouco a respeito da cidade. Na época, não haviam muitos sites e os poucos que haviam, traziam apenas alguns números de telefones e algumas fotos. Lembro-me que, uma das fotos que me chamou muito a atenção, foi  a de um adesivo que trazia a seguinte frase: "São Thomé das Letras: o homem sobre as pedras". Aquela frase causou um certo impacto, foi como uma confirmação de um chamado. No entanto, como estava ainda fragilizado pelos sintomas da recém superada depressão, vendo a quantidade de quilômetros a ser percorrida, o medo e o comodismo me fizeram ser displicente com tal chamado. Achei melhor ficar em São Paulo e na manhã do dia seguinte, como já era de costume, ir para alguma livraria em busca de algum livro que me tocasse o coração. No dia seguinte, minutos antes de abrir as portas de um grande shopping da zona norte de São Paulo, estacionei o carro, numa vaga, bem ao lado de um "Voyage" cinza metálico. Haviam muitas vagas pois o estacionamento ainda estava vazio. Enquanto acompanhava o fechamento do vidro da janela da porta esquerda do carro, na janela traseira do Voyage, como uma intimação para a viagem, lá estava o mesmo adesivo visto no dia anterior. Isso me deixou completamente perplexo. Olhei em volta, para as tantas vagas vazias e me perguntei: "Por que fui parar justamente ali, ao lado daquela mensagem?" Juntamente com a pergunta, novamente surgiu o impulso para seguir viagem, mas, novamente, o medo me impulsionou a me manter na ilusória segurança do conhecido. Lembro-me que passei o dia nesse shopping, protegido na segurança da livraria à espera da reunião de um dos grupos anônimos da qual fazia parte, a ter seu início às 18:30 horas na região sul de São Paulo. Movido pela ansiedade, cheguei no local com uns 15 minutos de antecedência. A sala da reunião ficava bem na entrada do salão da Igreja, onde no momento, ocorria a celebração de uma missa. Todos haviam acabado de se sentar e o padre começava o sermão do dia. Decidi sentar e ver se dele, podia aproveitar algo e, para minha surpresa, quais foram as primeiras falas de seu sermão?...

— "Pedro, tu és pedra e sobre esta pedra edificarei a minha igreja."

Imediatamente após esta frase chegar aos meus ouvidos e coração, nem dei tempo para ação contrária da mente. Levantei-me e fui direto para casa, arrumar as malas, confirmar o itinerário e um local para me hospedar. Consegui pousada numa comunidade local chamada "Harmonia" — o nome trazia bem a essência daquilo que eu mais ansiava. Na manhã seguinte, por volta das cinco da manhã, segui viagem rumo à um dos grandes momentos de minha vida, onde vivi experiências místicas que as palavras não conseguem traduzir. Durante a viagem, a mente não parou um só instante de tentar instalar o sentimento de desistência... "Isso é loucura! É melhor você voltar! E se bater a depressão? O que você vai fazer sem sua rede de apoio?"... Essas eram algumas das conflituosas falas que surgiam em minha mente e que, através de um forte impulso do coração, consegui à elas não dar ouvidos. Mesmo vacilante, segui caminho... 

Quando, pela primeira vez na estrada, ainda longe, pude ver o branco causado pela mineração em suas lindas serras, uma forte emoção tocou meu coração, a qual instalou o tranquilizador sentimento de que estava no caminho certo. Parei o carro e tomado por uma indescritível alegria, chorei.

Logo que estacionei o carro ao lado da igreja, fui abordado por dois policiais que me deram as boas vindas com uma geral no meu carro. Enquanto eles revistavam o carro, eu revistava o local. Do outro lado da praça, uma loja com o nome "Harmonia". Depois da blitz, já na loja, conversando com a atendente, para minha surpresa, outra poderosa sincronicidade: ela havia trabalhado num centro de tratamento para dependentes químicos no qual já havia por duas vezes realizado palestras sobre "A vergonha tóxico e o processo compulsivo". Depois de viajar mais de 500 Km, depois dos guardas, a primeira pessoa com quem conversei, ter alguma relação com meu passado, foi um forte sinal de que tudo aquilo não era apenas uma simples viagem. 

Permaneci por sete dias na Comunidade Harmonia, num retiro de silêncio, a base de uma alimentação lacto-vegetariana. A maior parte do dia, se não estava na Comunidade, passava a base de frutas e água, acompanhado do livro  "Cuidar do Ser", escrito por Jean-Yves Leloup, em algum canto das montanhas de pedra. Foi minha primeira experiência de deserto consciente, a qual me brindou com insights estruturantes que apontaram um novo rumo e sentido para minha Vida. Desde então, sempre que posso, volto para esta cidade, que em sua simplicidade, trouxe novo sentido para meu coração. Foi nela que percebi que, para ver com clareza é preciso boa dose de maluco beleza.  

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!