Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

23 março 2012

A difícil arte de vivenciar o deserto


Por que é tão difícil a vivência da experiência do deserto? Porque no deserto, estamos sós, desprotegidos física e psicologicamente. Não temos onde nos segurar, onde nos apoiar, onde buscar por abrigo e proteção. Não há como buscar por identificação e isso, para o ego, que vive em busca de segurança psicológica, é um sentimento mortal. É por isso que muitos não conseguem atravessar esse paradoxal período fecundo e, num momento de desespero, recorrem a atitudes potencialmente trágicas. Isso ocorre porque estas pessoas se identificam com o desesperante clamor do ego que pensam ser. Em vista disso, a experiência da vivência do deserto serve tanto como um portal para a sanidade do Ser, como para o limbo da psicopatia do não-ser. 

Na vivência do deserto é que toda estrutura do ego, trabalhosamente construída por anos, tem suas bases implodidas, colocando ao chão toda forma de identificação. Para o ego, de fato, este é um período de profundo terror e confusão. Não se trata aqui da demolição de uma laje específica, mas sim, da demolição completa de sua estrutura, de modo que nada de sua estrutura possa ser reaproveitado. 

No deserto, a crença não serve para nada; no deserto, o simples fato de acreditar na água, não traz o saciar da sede, não traz o seu frescor. No deserto, a experiência passada do frescor da água, também não traz o saciar da sede. No deserto, a projeção da idéia da água, também não sacia a sede. Crença, experiência, projeções de nada servem quando nos encontramos assolados pelo deserto. 

No deserto, a crença na possibilidade de uma mente silenciosa, de uma mente em que o pensamento cessa, de que vale? No deserto, o que vale é a vivência, a observação, o testemunhar daquilo que se apresenta, passo a passo, momento a momento, ainda que de forma vacilante. No deserto, a coisa fica difícil porque ali, já não há para onde fugir, já não há onde se pisar com segurança; o deserto é ego-enfrentamento, é a solidão que dessolidifica, apontando sempre, para a original construção, onde enfim, conhecemos o Grande Arquiteto Construtor.  


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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!