Logo pela manhã, enquanto desfrutava de um pão integral com fatias de queijo-branco, profundas e significativas fichas se fizeram manifestas. Quando cheguei pela primeira vez num grupo de Doze Passos, vim a acreditar que a natureza exata do sofrimento que me ocorria, estava em minhas emoções descontroladas. Tempos mais tarde, comecei a acreditar que o sofrimento vivido posteriormente estava na minha personalidade dependente de relacionamento. Quando, de forma prematura, em conjunto com outros companheiros tentamos iniciar um grupo de "pensadores compulsivos", achávamos que o pensamento era a natureza exata de nosso sofrimento. Hoje, com a ajuda dos textos de Ramana Maharshi, tenho que a natureza real de toda forma de conflito humano está na na consequente e ilusória identificação mental-corporal gerada pela AUSÊNCIA do sentimento de que somos o SER, de que somos essa ILIMITADA CONSCIÊNCIA. O pensamento tem sua natureza aí, fora isso, não há pensamento. O pensamento chega através da identificação com a enorme rede de condicionamentos; em vista disso, então, o passo inicial em um grupo de pessoas que se vêem prisioneira do fluxo mental, é a identificação do fluxo de pensamentos e a total impotência diante de seu controle, uma vez que, o controlador é o controlado. Como não temos a consciência visceral, holística, — não resultante de investigação intelectual —, de que somos o SER, acabamos acreditando que somos o corpo, que somos o conteúdo da mente, o conteúdo dos sentimentos, emoções, desejos e compulsões. Identificados com isso, não percebemos, não constatamos que há uma Consciência que se faz consciente do movimento, do fluxo de tudo isso que erroneamente julgamos ser. Essa falta de consciência dessa CONSCIÊNCIA que se faz consciente de todas ocorrências mentais e psicossomáticas é que dá vida à toda forma de manifestação reativa compulsiva. Na instalação dessa percepção da consciência que testemunha, SEM ESFORÇO, cessa toda forma de identificação reativa compulsiva. Quanto mais se aproxima a consciência da realidade única do SER, mais nos tornamos conscientes da ilusão de toda forma de desejo que não aponte para o desejo da total consciência do SER que somos; essa consciência torna secundário qualquer outro desejo. Somente quando, pela vivência direta do EU SOU, a qual ocorre através do cessar do constante fluxo de atividade mental é que podemos transmitir de forma altamente contagiante a mensagem impessoal à todo aquele que ainda sofre devido a ilusória identificação com a imagem auto-criada de si mesmo, imagem esta que dá vida ao que convencionou-se chamar de ego. Sem essa vivência direta do EU SOU, aquele que necessita dessa mensagem, não a sente como verdadeira, mas sim, como mais uma expressão egóica gerada por alguém que ainda se vê vitimado pela ação do auto-engano. Essa vivência direta do EU SOU é precedida pela prática da meditação que nos leva ao gradual ego-esquecimento e ao desenvolvimento do poder intuitivo que nasce com a manifestação do Coração Sutil, a qual coloca em perfeita unidade, mente e coração, em consequência, nos libertando de toda forma de dualidade. É através da prática da meditação, da ativa passividade que ocorre o ego-esquecimento, o qual cria o ambiente interno necessário para que ocorra o contato consciente com a CONSCIÊNCIA que somos.
Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.
08 março 2012
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Escolho meus amigos pela pupila
Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
Oscar Wilde