Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

26 março 2012

Carta resposta para um amigo no deserto


Estimado amigo "X": Paz e bem!

Antes de mais nada, é preciso sempre ter em mente que tudo, mas tudo mesmo, é só por agora, que tudo, mas tudo mesmo, também passará!

Você está atravessando o seu grande deserto e agora, se encontra muito próximo do que é conhecido como "A noite escura da alma" ou, como diziam os antigos padres do deserto, a vivência do "demônio do meio dia"... Este é o demônio da meia vida, o demônio que fica num Portal e que tenta impedir sua entrada numa nova maneira de ser e estar na vida de relação. Por mais duro que pareça ser o seu momento, aqui, é preciso ter isso em mente e seguir viagem, feito solitário peregrino. É nesse deserto que toda forma de dependência emocional nos é apresentada, onde nos deparamos com essa tendência neurótica de querer agradar à todos, de ser bem quisto, de receber a condicionada — e quase sempre interesseira — aprovação de todos. É nesse momento que vamos descobrir se queremos de fato seguir nosso coração ou continuar aceitando que os outros controlem as batidas e direção do mesmo. É nesse momento de deserto que somos testados para ver se vamos dar o amor a nós mesmos ou se vamos continuar insanamente esperando amor daqueles que não fazem a menor idéia do que seja a realidade do amor. É no deserto que vamos aprender a nos pegar no colo, a nos proteger de modo saudável, a não fugir de nós mesmos, a nos aceitar, a nos amar para, depois, pelo conhecimento direto do Amor, distribuir amor sem a velha doença de esperar em troca. Neste momento de deserto, o olhar e a espera com relação ao comportamento do outro, em nada pode nos ajudar. É como numa UTI, onde toda atenção deve estar sobre nós mesmos, sobre nossos pensamentos, sentimentos e emoções, observando tudo, sem se permitir qualquer forma de irrefletida e compulsiva reação. É nesse momento deserto que os adultos são distinguidos dos adolescentes. O preço de entrada, de fato, é bastante doloroso e é por isso que a grande maioria da humanidade, nunca escolhe pelo caminho no qual este deserto se apresenta; não é atoa que vemos tantos adultos, adulterados e adulterantes. É neste deserto que percebemos que não somos nada daquilo que vemos, sentimos ou experienciamos, que na realidade, nossa natureza é essa consciência que a tudo vê, sente e experimenta. Neste deserto, não podemos trair o que nos pede o coração e é preciso ser absurdamente forte para resistir as falas obsessivas e desconexas criadas pela imatura mente tagarela. Caro, estimado e corajoso amigo: eu lhe incentivo para ficar com você, abraçar você, honrar você, ouvir você, mas não o "você" que você pensa ser, mas sim o verdadeiro você que é esse que vê toda essa insanidade, seja interna como externa.

Tenha em mente que, num mundo que é todo ego, em que todos estão doentes, todo aquele que se aproxima da saúde mental e emocional, será sempre mal visto em seu tempo. Sempre foi assim e parece que sempre será. Neste doloroso período de deserto, precisamos ligar o "fodômetro" quanto ao que os outros possam pensar ou dizer sobre nós. Fique com você, ouvindo o melhor de você, essa parte de você que escolhe pela saúde, pelo amor, pela felicidade, pela liberdade, que escolhe pelo discernimento que aponta para a amorosidade. Se preciso for, se assim a vida lhe apresentar, que fique só, no ostracismo, mas, de modo algum, opte pelo auto-abandono, de forma alguma opte pelo velho modo de ser e estar no mundo. Lembre-se que o coro dos contentes, de modo algum, sabe o que é amor e liberdade. Deixe que esse velho modo de ser e estar no mundo caia feito folha seca de outono; não é preciso fazer nada, é só continuar ai, sentado, testemunhando... Sei que a mente vai pedir sempre por ação, que vai lhe comparar com o modo de vida dos outros ao seu redor, mas tenha em mente que, todos aqueles que vivem na mente, que desconhecem seu ritmo próprio, logicamente vão lhe incentivar — e por momentos obrigar — a tomar qualquer tipo de ação, mesmo que irrefletida... O mundo não suporta homens silenciosos, homens que se permitem o questionamento e a meditação... Todos temem um homem senhor de seus pensamentos e emoções...  É no deserto que deixamos de ser "Maria vai com as outras", que deixamos de ser "gado marcado", massa de manobra, ou, como no filme Matrix, uma simples "pilha descartável" à serviço da manutenção de um sistema profundamente desumano. 

Meu querido e estimado amigo e irmão: nadamos muito até aqui; não se permita, morrer na praia. Como dizia Osho: "Deixe que o velho homem morra"... Deixe que um novo homem, ressuscitado pela ação direta do Amor, traga seu perfume ao mundo. Você, agora, é um botão de flor, prestes a se abrir ao mundo. O mundo, mais do que nunca, necessita de seu diferenciado perfume. Daqui deste lado, de coração, honro sua coragem e seu empenho na busca da descoberta da sua mensagem, única e intransferível, cuja grande massa de "homens cópias", de forma inconsciente, ansiosamente, espera. 

Em vista disso é que lhe incentivo: Força e avante! No sagrado exercício da paciência, siga seu coração! E lembre-se: isso também passará!

Seu sempre amigo e irmão, 

Nelson Jonas

Gostou? Então compartilhe!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Postagens populares

Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!