Arte: Sinfronio |
Como pode o ser humano ver algo profundamente real, profundamente verdadeiro, se insiste e persiste na insana atitude de ver a vida através das escuras e espessas lentes de seus condicionamentos e tendências? Como pode ele ver a beleza natural da vida, com agilidade, leveza e em seu ritmo natural se insiste em se arrastar pelas passarelas da vida, — escondendo de si e de todos —, por detrás de suas pesadas e descartáveis máscaras, fantasias e posses alegóricas a sua real natureza? Enquanto não acontece a aurora da quarta-feira de cinzas de seu eufórico carnavalesco ego, enquanto não chega seu meio-dia — esse precioso e rápido momento em que não existe ação da sombra — não há como ter início a retomada da Realidade do Ser, retomada esta que liberta o ser humano da disritmia do milenar samba enredo do "carna vale", que é a representação máxima do vale de sombras de uma existência ritmada pelos cacoetes da ilusória identificação na expressão corpo-mente. Enquanto ele não vive a luz da quarta-feira de cinzas de seu ilusório ego, não tem como sua vida ser algo diferente do que o desgastante, eufórico e cotidiano samba de suor, lágrimas e confusão que nada tem da autêntica felicidade, liberdade e realidade.