Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

27 março 2012

O essencial estado de impotência


Quando se está confuso, vivendo num constante estado de conflituosa ansiedade, devido a incapacidade de, por si mesmo, compreender tal estado de confusão, e pela compreensão da mesma, dissolvê-la, há sempre uma forte tendência de se manter numa constante busca externa de algo ou alguém que possa apresentar uma fórmula, um modelo, um método, uma pratica comportamental pela qual seja possível — sem o trabalhoso e por vezes doloroso movimento de observação do ego — ver-se livre de tal confusão. Nesse estado de confusão, quando se depara com algo "aparentemente novo", algo que soe agradável à mente, entra-se de cabeça num cego movimento de crença que, inicialmente, impede a ação da observação lógica e racional, pela qual surge a luz do discernimento que traz consigo a percepção do falso e do verdadeiro. Nesse movimento de irrefletida entrega à nova crença, momentaneamente, ocorre uma alteração na "qualidade" do ego, qualidade esta que causa a ilusão, o auto-engano referente a dissolução do ego. Nesse processo de crença, o ego, momentaneamente protegido pela ilusão, se encontra num estado narcotizado, adormecido, aparentemente sem conflito. No entanto, o ego, ainda se encontra ai, no aguardo da primeira influência de energia contrária, a qual, inevitavelmente, surgirá quando do confronto com outro ego em semelhante estado, ou em estado potencializado. 

Quando se está com sede, o mero se sentar em silêncio diante da transparência da garrafa, apenas observando seu cristalino conteúdo, sem que se remova a destacada e colorida tampa, não há como ter a sede saciada. Do mesmo modo, sem a remoção do enfeitado ego por meio da ação do discernimento, não há como saciar a sede de plenitude e bem-estar. 

Como nas histórias infantis, o homem ao longo dos anos, vive em busca de uma palavra sagrada, de um mantra capaz de libertar seu "gênio" da garrafa de seu ego. Acredita ele que, pela simples repetição de tal palavra, como num passe de mágica, de forma instantânea, sem esforço, terá sua triste realidade transformada por esse ser de inteligência superior. O homem com seus sistemas de crença tem criado os mais variados tipos de mantras, de orações, cuja finalidade é o alcance do silenciamento de sua mente e através disso, a manifestação de um estado livre de medos, ansiedades e conflitos. Os mantras, as orações, vão desde o "Shazan" e o "Abracadabra", ao "Rama Rama, Hare Hare ", o  "Nam-Myoho-Rengue-Kyo", o "Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo", o "Ho'oponopono", o "Eu Sou" e outros tantos mais. Seria preciso uma existência inteira para catalogar os diversos mantras e orações criados pelos homens. Por fim, no que diz respeito a dissolução do ego, o ineficaz resultado desses mantras e orações, de muitos já é conhecido. 

Devido a sua insegurança, vive o homem em busca de algo ou alguém que represente uma causa e, quando o pensa ter encontrado, nas mãos deste (e em seus enrustidos cofres), deposita sua energia, seu dinheiro, sua mente e coração. Tão logo torna-se ciente da recente ilusão,  passa então o homem a atacar e perseguir seu até então alvo de devoção. Esse tem sido o processo que dá vida ao movimento de "caça às bruxas", ao movimento de busca por um "bode expiatório" para justificar a própria incompetência diante da capacidade de compreensão de si mesmo, por si mesmo. 

No que diz respeito a descoberta da verdadeira natureza humana — totalmente livre das débeis tendências do ego — não existe palavra mágica, não existe pílula mágica, não existe porção mágica, não existe água benta ou chá de erva milagrosa; não existe um super-homem externo dotado de super-visão que possa libertar de forma fácil e indolor nosso estado "demasiado humano", não existe "despacho" que nos liberte de nossas conscientes e inconscientes tendências e apegos psicológicos. É preciso trabalho, seriedade, paciência e, principalmente, paixão pelo discernimento.

Enquanto existir a crença no externo, enquanto existir a ilusão de potência em algo externo, o essencial estado de impotência — sem o qual não ocorre o findar do desejo — não terá a mínima possibilidade de manifestação. É só no estado de impotência e rendição que o homem abraça a sua solidão, a qual traz consigo, as sementes de sua integridade, liberdade, Felicidade e Amor que são algumas das qualidades do demasiado humano, do Super-Homem-Novus. Se de verdade existe um Super-Homem, esse, é o homem amante da verdade, o combatente da auto-ilusão, o homem que não mais faz uso da antiga capa protetora do "eu"; o Super-Homem surge quando da compreensão de si mesmo, por Si mesmo. Sem o discernimento que chega pelo amor à verdade, de verdade, não há amor.  É só aqui que o homem deixa de acreditar em histórias, passando então — sem a preocupação de buscar por isso —, a fazer parte da história. E é só através desse movimento que sua história pode, no eterno agora, conhecer um final feliz.
nj.ro@hotmail.com

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!