Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

14 julho 2010

Televisão - a disfarçada doença da modernidade




Acordei pensando numa reação que tive ontem a noite, impulsionada pela força hipnótica do marketing televisivo. Para me explicar melhor, tenho que me reportar a uma atitude que tive há uns 15 dias. Depois de ter sofrido por quase 10 dias com o descaso do péssimo atendimento da central de relacionamento Net, decidi cancelá-la. Se você ainda não passou pela terrível experiência de tentar cancelar um serviço de assinatura desse tipo, ou mesmo uma revista, um celular ou cartão de crédito, considere-se uma pessoa afortunada... Bem, depois de passada a guerrilha, por meio de um e-mail me foi confirmando o cancelamento da minha assinatura (o que não garante nada, porque é comum a continuidade do envio de indevidas faturas, que acabam gerando boas horas de atrito por telefone, uma vez que essas empresas, maliciosamente não dispõe de um balcão apropriado para cancelamento de serviços, devidamente protocolados). Talvez, você que já tenha vivenciado situação semelhante, possa estar se perguntando: mas e os nº de protocolo que eles pedem para que anotemos? Note bem, cada atendente nunca sabe a respeito do protocolo anterior... É comum ouvirmos aquela frase impessoal: "Um minuto, senhor, enquanto encontro sua ficha"... Se fosse um minuto, tudo bem! Mas o comum mesmo é você ficar quase 5 minutos aguardando um despreparado atendente de uma empresa - que em seu site se diz ser uma empresa moderna, ágil e alerta -, encontrar sua ficha, o que acho um tremendo absurdo. Se pelo menos essas empresas colocassem a disposição do cliente, uma linha de telefone gratuita, talvez a espera não se tornasse tão irritante.

Mas voltemos à minha reação. Já são 15 dias de suplicio sanguinário da TV aberta (cujo sinal é um lixo). Garanto-lhe que, para melhorar o sinal, já não tento colocar "Bombril" na ponta da antena!... No inicial período noturno, sempre o mesmo pacote para nos programar de forma medíocre; entre eles, novelas revezando a miscigenação, sanguinários jornais policiais com seus enfáticos apresentadores, programas de conflitos familiares, programas evangélicos que irritam até os que possuem uma mínima gota de sensatez, ou então, na melhor das hipóteses, num país onde boa parte não consegue nem um litro de leite, programas de "refinados provadores de vinho" e de "culinária francesa". Não vou nem perder tempo em citar aqueles programas repletos de "esticados sorrisos socialiticos" (esses são de uma pobreza de espírito...). O pior são os minuciosos detalhes do escolhido "débil mental do momento" (isso leva pelo menos uns 15 dias até encontrarem uma pauta mais sanguinária). Não duvido, pelo andamento da qualidade do bom senso destas "empresas de comunicação", que muito em breve, seremos interrompidos com aquela musiquinha chata, enquanto nos distraímos da entediante novela da nossa rotina com a rotineira novela global, para que um aprendiz de repórter jornalístico, venha nos informar, por exemplo, que o matador Goleiro X, passou mal durante a tarde devido a um "repentino" excesso de flatulências...

Minha reação se deu quando, em meio aos chuviscos da minha TV, surgiu uma colorida propaganda de uma TV de assinatura, anunciando 102 canais por "apenas" R$69,00. Detalhe: eles não informam que mais da metade dos canais são só de áudio; você só fica sabendo disso, depois que cai na mesma ladainha de uma ligação automática. A principio, alimentado pelo meu tédio, quase que tomei uma irracional reação emotiva. Mas aí, fui tomado por um lampejo de lucidez, ao perceber o quanto que estamos condicionados por esse maldito aparelho de "teleilusão". Pude perceber como essa cotidiana hipnose televisiva, nos torna mecânicos, programados a tal ponto de aceitar irrefletidamente como necessárias, coisas pra lá de desnecessárias e talvez, o pior de tudo: como nos rouba a criatividade, o intimo contato com aqueles que nos são mais próximos (pelo menos fisicamente), bem como o contato com a negligenciada natureza.

Ok! Talvez, eu esteja fazendo alardes desnecessários, no melhor estilo Datena. Sendo assim, lanço aqui um desafio: tente convidar sua esposa para uma volta - a pé - pelo quarteirão, bem no horário de sua novela preferida. Ou então sua adolescente filha, que em seu quarto, diante de um daqueles apresentadores da MTV, ansiosamente aguarda pela menina do cabelo vermelho que apresentará seu mais recente vídeo-clip... Se for mais ousado, convide a família toda para escutar uma história "sua" na "já" conhecida praça mais próxima de casa...

A realidade que não queremos ver é que estamos perdendo nossa original e importantíssima capacidade de imaginar, de criar, de improvisar e de nos congregar. Em lugar de potencializar nossos próprios talentos, com barras de chocolate das lojas Americanas, assistimos os rasos candidatos à ídolos. Estamos perdendo nossa imaginação criativa e nos tornando - com a ajuda de um marketing diabólico -, meros autômatos reagentes. Não existem mais brincadeiras criativas entre pais e filhos, pois sempre há entre eles algum aparelho defensor contra verdadeira intimidade: o controle remoto da tv, o mouse, o I-pod, ou outro imbecil e inanimado aparelho que tudo pode.

Tudo isso por que fomos o suficientemente programados, - com a nossa própria autorização -, por meio de sons e imagens coloridas, a acreditar que qualquer coisa criada e proposta por nós seja incapaz de produzir uma boa distração. Nos hipnotizaram com a informação de que está tudo pronto e enlatado agora, bastando apenas a celebração do débito em seu cartão. Aliás, estas últimas, as empresas de cartão de crédito, para mim são as grandes campeãs das mensagens que incentivam nosso mecânico modo de viver, afinal, como uma delas mesmo afirma: estão sempre do seu lado (mas isso é assunto para outro texto).

Quer saber: que se dane nossa habilidade de pensar e de agir espontaneamente. Afinal de contas, com vários pontos de TV pela casa, uma boa programação paga, um cartão de crédito nas mãos, com a colheita feliz em seu computador pessoal e seus vídeo games com seus previsíveis resultados de etapas programadas, você pode fazer algo bem menos criativo do que celebrar a estupidez de quem postou esta opinião.

Só que tem uma coisa que a TV e a Credicard não aVISA: exercitar seu poder de pensar, sempre do seu jeito (e não conforme o deles) pode tornar sua vida pra lá de melhor. Enquanto isso, feito "guerreiros" bebendo algo que "desça redondo": celebremos a estupidez humana!

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!