Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

30 maio 2007

Você aceita um café com leite?

- Fala JR! Deixe eu lhe dar um abraço! Fique tranqüilo que hoje não vim lhe trazer problemas não!

- Para com isso!

- Hoje eu só vim lhe visitar! Como estão as coisas? Vendendo bastante?

- Que nada! A coisa está feia!

- Sério JR? Mas vai melhorar! Tem que pensar assim, se não a gente desanima!

- Esse é o problema... Ter que pensar assim!... Se não fosse o pensamento, estaria tudo numa boa!... Que é isso aí no seu rosto?

- Cirurgia a laser! Tirei umas manchas que eu tinha antes, não se lembra?

- Sim! Há um ditado que diz que quando a gente não consegue mudar por dentro, acaba mudando as aparências externas!

- Mas é legal! Gostei! Já fazia um tempo que estava pensando nisso!

- É! Tudo começa na mente! Será que existe cirurgia a laser para tirar as manchas da memória?... Pois é!... Está tudo na mente!... Hoje está bem claro para mim que a mente condicionada está sempre preocupada consigo mesma, com seu próprio bem-estar, com sua própria segurança psicológica. Ela olha para os acontecimentos cotidianos e para as superficiais relações que mantém sempre de forma auto-centrada. Nunca há uma real preocupação com o outro, mas sim, uma preocupação em como as ações do outro possa afetar sua pseudo-segurança, sua zona de conforto ou sua reputação.

- Faz sentido! Ultimamente você tem batido muito nesse ponto da mente!

- Tenho visto que a mente condicionada não busca por liberdade, ela busca tão somente por conforto. Ela não consegue ver o fato de que a verdade não traz conforto, mas sim, liberdade. A mente condicionada tem medo da liberdade, tem medo de estar só, de se ver em solidão e, por isso, nunca se encontra só. Está sempre em busca de algum tipo de conforto psicológico. Não possuí a seriedade necessária para ficar só com a própria solidão, a fim de compreendê-la e digerir sua mensagem. É por isso que a mente que não é séria é uma mente medíocre, imatura, presa fácil das raízes dos medos obscuros.

- Nem me fale! Esse lance da solidão é uma das coisas que, só por hoje, eu ainda não consegui resolver. Minha carência ainda bate muito forte e apesar de tudo que você já sabe do meu antigo relacionamento, confesso que ainda vivo preso nas lembranças daquela diaba! Ou melhor, naquela que me desgraçou! Acho que é por isso que tenho dificuldades de me entregar para um novo relacionamento. Neste final de semana conheci uma mulher; ela é psicóloga e tem uma filhinha de quatro anos... Cara: apaixonei-me pela menina! Que menina graciosa! Ela é muito legal! Vê só como as coisas mudam... Logo eu que sempre tive aversão de me relacionar com pessoas com filhos... Percebo que isso não passava de um condicionamento da minha mente... O problema foi quando fui levar ela para casa... Mora do outro lado do mundo, bem do lado de onde o Judas perdeu as botas! Foi quando no caminho pensei comigo: olha só o que eu fui arrumar para a minha cabeça! Bem que ela podia morar um pouquinho mais perto! Já pensou ter que levá-la para casa e ainda ter que voltar de madrugada sozinho?...

- Está vendo só?... A mente condicionada permanece olhando a vida e seus acontecimentos, sempre preocupada com o próprio bem-estar, com a sua segurança, com o seu conforto, com a própria reputação, com a sua imagem. Por ter medo da liberdade agarra-se com unhas e dentes nas grades geradas por tudo aquilo que lhe promete conforto psicológico. Talvez, seu maior problema esteja na crença de que algo ou alguém realmente possa lhe brindar com um estado de eterna segurança psicológica.

- Sabe o que acabei fazendo ontem quando ela me ligou? Fui logo dizendo que eu sou um cara sem dinheiro... Ela ficou puta da vida comigo! Respondeu-me que ela mesma corre atrás das coisas dela e que não está em busca de um homem para custear a vida dela e de sua filha! A mulher virou macho! Você acha que eu fiz mal?

- Será que isso não foi um mecanismo de auto-boicote?... Percebo que quando a nossa mente condicionada se vê insegura, quase sempre opta pelo isolamento como forma de se ver livre dessa insegurança. Ela busca por certezas, por garantias, por prazos de validade, e por isso, permanece vitima do tempo psicológico. O hoje, o agora, não importa; o que importa é o histórico do ontem, a memória e as projeções de um futuro imaginário, sempre pautado na busca da segurança psicológica. Somente a mente insegura busca por segurança; nunca lhe ocorre a possibilidade de tentar compreender a própria insegurança.

- Compreender a própria insegurança? De que jeito? Minha mente não se aquieta um só instante! Já me peguei várias vezes fazendo as coisas no automático... O corpo está ali, mas a mente nem eu mesmo sei aonde!

- Vejo que a mente condicionada não para quieta um só instante. Para ela não existe pausa... A todo momento traz pensamentos desconexos, que roubam uma quantidade de energia descomunal. São sempre situações egocentradas que impedem a comunhão com o agora. Os pensamentos roubam o agora e acabam gerando uma espécie de letargia, uma sonolência, um amontoado de cenas irreais. É impressionante a capacidade que a mente tem de viajar constantemente em situações irreais, imaginárias e sempre auto-centradas. Para uma mente em tal estado, torna-se impossível o vivenciar de qualquer atividade com total presença. Não pode conhecer nunca o que vem a ser um estado de verdadeira entrega, o que vem a ser comunhão, o que vem a ser intimidade. Essa mente não consegue ver os acontecimentos de forma inocente, virgem, nova, uma vez que sua visão é sempre distorcida pelas lembranças das experiências passadas, armazenadas na memória, projetando-se no presente. Ela vive julgando a si mesma e também aos outros; sempre fazendo intermináveis comparações. Vive presa em si mesma, quase sempre oscilando entre complexos de superioridade e inferioridade, e, por causa disso, esta quase sempre envolvida por intrigas, seja de forma direta ou indireta.

- Isso tudo que você acabou de falar sou eu mesmo cagado e cuspido! Você acabou de fazer a radiografia da mente do capeta! – Risos - ...

- Falando sério, meu amigo: você alguma vez já parou para ver com seriedade o porquê do medo que temos de olhar para a nossa própria insegurança? Já parou para pensar se pode existir insegurança quando se vive o agora com toda a sua intensidade?... Ou a insegurança só existe quando nos relacionamos com fatos do passado morto ou com as projeções do futuro baseado nas experiências do passado? Será que uma mente saudável vive de projeções ou de comparações? Por que essa insana necessidade de garantias? Será que uma pessoa que se garante possui essa necessidade de garantias?

- Sei lá! Você aceita um café com leite? Vou até a padaria buscar um pretinho para nós, você aceita?

- Está indo mesmo buscar um café ou está fugindo de pensar no assunto? Faz o seguinte, busca lá o café e traz juntamente com ele, as respostas para estas perguntas... A propósito, o meu é bem clarinho! De escuro, já chegam os meus pensamentos!

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!