Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

07 maio 2007

Relaxe homem!

Olá amigo evolutivo, paz e bem!

Antes de mais nada: muito obrigado pela honra de compartilhar comigo suas dores por individuação. Isso demonstra que ainda há vida bem aí, no mais fundo do seu ser. Isso demonstra que você não perdeu toda sua sensibilidade, o que é característico das pessoas que são "sobreviventes" de um "lar disfuncional". Pelo que você relata em seu e-mail, é bem provável que você seja mais um sobrevivente do que chamam de "incesto emocional". Passei por isso também. Sou o primeiro filho de um lar disfuncional (pai alcoólatra e mãe emocionalmente desequilibrada pelo convívio com o mesmo). Quando me perguntam pela minha formação, costumo brincar que sou o resultado de um espermatozóide alcoolizado com um óvulo codependente. Sei muito bem o que é a inversão de valores por ter que ser o ponto de apoio emocional de um adulto, desde a mais tenra idade!

Não tenho como lhe dar orientações, isso seria terrível de minha parte e aceitá-las, seria terrível por parte sua. No entanto, creio que podemos "dividir os pães e os peixes (sem espinha, por favor)", ou seja, compartilhar nossas experiências de vida, de busca e de individuação. Creio que isso é que dignifica nossa história: nossos erros e acertos podem servir de alimento para outros. O que tenho feito nestes anos é compartilhar... Isso para mim é um dos maiores significados da expressão "Cuidar do Ser".

Como você, em minha infância e adolescência, fui um tanto introvertido e acabei indo fazer Faculdade de Administração para satisfazer as necessidades emocionais de meus pais, de uma ex-noiva e sua mãe. Não preciso dizer que não fiquei lá nem um ano sequer. Sempre fui muito rebelde e creio que essa rebeldia me livrou de ter sido completamente condicionado pelas crenças dos adultos.

Esse lance da comparação, da preferências por um dos filhos, apesar de sempre ser negada por todos os pais, hoje, vejo que é um fato. Mas, vejo também, que o pior não é a comparação que fazem sobre nós, mas, a terrível e insana mania que temos de nos compararmos com aquilo que ACHAMOS que o outro É ou como VIVA. Não sabemos a realidade interior dessas pessoas e mesmo assim, nos comparamos a IMAGEM que temos de nós com a IMAGEM que temos do outro. Não vivemos com a realidade, nem a nossa e nem a do outro. É lógico que essa maneira de viver só pode nos causar imensos e desgastantes conflitos. Fomos condicionados para sermos 'NORMAIS", no entanto, custa muitos anos de nossa vida para perceber que SER NORMAL NÃO É SINAL DE SER SAUDÁVEL. É só colocar a cabeça para fora de casa para ver o que a dita normalidade tem feito do homem e do planeta. Já não tenho o menor desejo de ser normal, deixo isso para os insanos. Prefiro minha loucura...

Sabe, você se queixa por aos 29 anos de idade ainda não saber o que quer da sua vida... Qual o problema disso? Tenho 43 anos e também não sei aquilo que quero da minha vida, no entanto, JÁ SEI O QUE NÃO QUERO e, para mim, esse é um grande diferencial que me distingue dos chamados "NORMAIS". Os "normais" são todos iguais, robotizados, marionetes sociais, eles são FUNCIONÁRIOS... Meras peças de uma egocêntrica engrenagem... Vivem em sua feliz infelicidade crônica... E, para mim, são assim talvez porque a chama da sensibilidade já esteja quase que extinta. É preciso ter coragem de levantar a voz e dizer que se é um insatisfeito, um desajustado, um rebelde, alguém que olha para a sociedade e não consegue encontrar seu lugar no esquema atual que se apresenta. Só esses podem descobrir um dia sua real vocação, aquilo que dá um real sentido para a sua permanência neste planeta de água chamado Terra.

Há muitos anos venho tendo minha autonomia profissional, mas isso, não tem me proporcionado minha autonomia – usemos esta palavra apesar de não gostar dela – espiritual. Só por hoje, o sentido do meu trabalho é o de conseguir meus trocados para custear a minha já simplifica existência, no entanto, sinto que ainda não é aquilo que realmente vim fazer aqui. Meu trabalho é tedioso, mecânico, rotineiro e não coaduna com as minhas mais profundas necessidades. No entanto, o senhorio do prédio não quer saber se busco ou não pelo sentido da existência: ele quer o aluguel pago no dia. Então, vamos caminhando dando para "Cesar o que é de Cesar e para a Consciência o que é da Consciência". Só por hoje trabalho em algo que não tem nada a ver com a minha essência, ainda não tenho a sabedoria necessária para modificar esta situação, então, sem conformismo, vou aceitando-a, mas aberto para o que possa se apresentar.

Você se queixa de se sentir "paradão" por não saber o que fazer... Qual o problema? Só há problema nisso quando aceitamos as cobranças dos diversos "paradões mentais" que nos rodeiam... Eles não querem alguém que questione, alguém que não se encaixe na disfuncional fôrma social. Já descobri que por mais que se consiga fazer o que eles acham correto, sempre estarão jogando o peso das próprias e muitas vezes inconscientes insatisfações sobre nós... Parece que pessoas como nós, que buscam pela individuação são ótimos modelos de bode-expiatório para a incapacidade de se rebelar contra o modo condicionador da sociedade proveniente dessas pessoas. Resolvi isso há alguns anos atrás, quando inventei um aparelho muito prático: o "fodômetro!"... As pessoas falam, cobram, comparam e eu ligo meu aparelhinho e... Está tudo certo! Eles tem todo direito de apontarem para a minha vida e esquecerem de olhar para a própria vida. Eu é que não tenho o direito de me identificar com a insanidade do modo de vida deles. Tem muita gente sentada no banco de couro de seu carro importado... Isso é fácil de ver... O difícil é ver quantos calmantes tomam por dia bem como o valor das consultas dos seus psiquiatras e psicólogos (sem falar na romaria religiosa ou no uso de algum tipo de compulsão, que anonimamente fazem uso para aplacar a dor de uma existência sem vida). Portanto, relaxe homem! Deixem que digam, que falem, deixa isso prá lá, vem pra cá, o que é que tem se eu não estou fazendo nada e você também?...

Cara, só os que sabem que estão perdidos é que tem a grande chance de se encontrarem... Saquei isso há muitos anos e não dou a mínima bola para a torcida. Se eu cair em depressão, ninguém vêm ficar no meu lugar. E tem mais: se você for parar num sanatório, vão lá te levar um pacotinho de bolachas só no primeiro mês! E o pior de tudo: se você morrer, muitos daqueles que te cobraram um comportamento durante a sua vida, estarão em seu velório contando piadas! Então, por favor me responda: qual a inteligência de se identificar com a cobrança deles?

Também fico muito feliz por saber que você chegou numa esquina da sua vida. Sinal que você não está tão "paradão" assim! E o melhor de tudo é que você é que está seguindo a direção... Não está deixando que apontem a direção para você! Isso é ótimo! Seja lá onde isso for dar, você terá a experiência pessoal do caminho! Então, relaxe! Se perceber que o caminho não é tão bom, não esquenta: a Grande Vida sempre aponta por outras esquinas! É só estar de mente aberta!

Definitivamente, a comparação é que faz "parar+com+a+ação"... Quando a comparação acaba, a ação se manifesta e uma ação que é só sua, intransferível! Então, mais uma vez, relaxe!

Em seu e-mail você me diz que pensa em mudar de cidade para tentar mudar sua realidade... Para mim, veja bem, para mim, mesmo optando pela fuga geográfica, o "cabeção condicionado" continua com suas historinhas... A cada minuto vem com uma novinha, cujo fundo é sempre velho! O lance está sendo observar tudo isso sem recriminar, sem me identificar... Não preciso mais fugir para nenhum lugar, pois seja lá onde eu for, o "cabeção" vai comigo... Então, o melhor lugar que tenho é aqui mesmo onde a Grande Vida me plantou... Preciso aprender como florescer aqui neste terreno!

Finalizando: por que ter vergonha de expressar seus mais ricos sentimentos? Por que ter vergonha de largar a máscara social do "fódão" e ser apenas humano? Qual o problema nisso?

Meu amigo evolutivo, o que o mundo mais precisa hoje é de homens e mulheres com a capacidade de se rebelar, de sentir, de experimentar o diferente... Homens e mulheres que sofrem as dores de parto da excelência humana. Não há motivo para sentir vergonha... Isso cabe bem no modo de vida dos "normais"... A culpa, o medo e a vergonha são o que os mantém emocionalmente "paradões"... O único problema é que muitos como nós que não aceitam esse insano modo de vida, por vezes, acabam nos "paredões da sociedade" e estes, já vi que são muitos...

Faço votos que você continue firme em seu propósito de ser você mesmo. Que você opte por essa Divina Ousadia. Espero que você tenha a coragem de assumir seu lugar no palco da Grande Vida sem se conformar em ser apenas um telespectador altamente programado... Aqui, no mais fundo do meu ser existe uma grande certeza: se continuarmos fiéis a esta fala mansa e suave que se manifesta quando o "cabeção condicionado" silencia, quem estará feliz quando chegar o "The End" seremos nós e não os nossos programadores que insistem em nos manter no "comercial"!

Avante companheiro de jornada!

Um forte abraço fraterno do seu "net-amigo".

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!