Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

10 julho 2007

Procura-se: Conversas Nutritivas

Sexta-feira. Manhã nublada e temperatura fresca. Talvez sejam indícios de que o Inverno esteja realmente chegando, apesar de que, cronologicamente, há dias já estamos nele.

Após tomar meu banho matinal, afagar o cachorro e colocar o lixo para fora, dirigi-me para a padaria a fim de tomar meu café. Parecia que todos ali haviam perdido o horário, tal era a quantidade de pessoas que aguardavam pela vez de serem atendidas. Como de praxe, todos estavam encolhidos e com a fronte bastante tensa. Pela manhã, o sorriso e a descontração parecem produtos em extinção.

- Fala JR! Perdeu o horário também?

- Pois é!

- Eu perdi a minha, mas não estou nem um pouquinho com vontade de encontrá-la!

- Sei!

- Acordei com uma vontade enorme de trabalhar, por isso, vim para cá para ver se a vontade passa!... E aí? Deu para dormir ou dormiu sem dar?...

Depois de fazer esta piada, a qual já fez várias vezes durante o ano, saltou uma longa e solitária gargalhada, deixando transparecer seu sorriso amarelado e as falhas em sua arcada dentária. Em seguida, voltou-se para um dos balconistas e exclamou:

- Fala Paraíba! Onde é que você estava ontem à tardinha? Estou com uma baita dor de cabeça de tanto ficar batendo minha cabeça atrás de você!...

Novamente, solitariamente, soltou sua gargalhada amarelada. Virou-se para mim e disse:

- Eu adoro encher o saco desse Paraíba! Toda manhã venho com uma pegadinha só para poder irritá-lo. O pior de tudo é que o cabra safado não está nem aí!

Apoiando-se com o braço direito sobre meu ombro e com a mão esquerda coçando o saco, novamente soltou uma longa gargalhada em alto som. Um senhor que estava ao meu lado, silenciosamente observava com seu olhar de reprovação.

- Passe bastante manteiga para descer mais fácil!

- Você vai querer alguma coisa? Perguntou-me o balconista, bastante encabulado.

- Por favor, para mim, um pingado e um pão de cenoura sem manteiga. Obrigado!

Enquanto aguardávamos o nosso pedido, ele correu o olhar pelo balcão, talvez em busca de outros conhecidos. No canto esquerdo da padaria, um rapaz, homossexual declarado, tomava seu café com sua amiga; ambos trabalham num salão de estética bem próximo daqui. De cabelos com luzes, espetados pela ação de um creme qualquer, brinco na orelha esquerda e piercing na sobrancelha direita, falava alto com sua dança de trejeitos.

- Oh Paraíba? Por que você não faz um corte de cabelo como o do seu alegre amiguinho ali? Vai lá e passa mais manteiga no dele! – Projetando seu corpo sobre o balcão, com a mão direita encobrindo o canto da boca, sussurrou para o balconista, que bastante sem graça respondeu:

- Para com isso! Fala sério! Meu pai só fez cabra macho nesse mundo! Nem de estética eu gosto. Estou fora!

E assim comecei mais um dia, somente observando afim de não me intoxicar com o conteúdo desta conversa nutritiva.

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!