Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

11 julho 2007

Nervosura matinal

Eram 08h50min quando despertei com as lambidas do meu pequeno cão. Bastaram alguns poucos minutos para que o movimento dos desconexos pensamentos entrasse em ação. Durante o banho, percebi que os pensamentos passam semelhantes a quantidade e rapidez das gotas d'água que caem pelo chuveiro. O dia está nublado e a temperatura requer uma leve blusa de linho.

Aquela tão conhecida sensação de vacuidade manifestou-se logo cedo. Pode-se estar sentado, com o corpo totalmente imóvel, mas, internamente, a sensação é a de que todos os nervos do corpo estão estralando. É como nas palavras infantis do pequeno filho de um amigo meu: "uma nervosura".

Nesses momentos, olho para os lados e parece que nada satisfaz, e essa percepção, dá mais vida ao movimento conflituoso da mente. A mente não para! Os pensamentos jorram por todos os lados, pulam de situação para situação, todas, egocentradas. Pensamentos de doença, perda, dor, morte, busca de poder, prestigio e prazer. São julgamentos, criticas, avaliações e comparações (esse é dos piores). Eles não dão trégua nem um segundo sequer. Pensamentos inúteis, sem conteúdo nutritivo, pura perda de energia. São repletos de cenas de situações passadas, conflitos vividos, ensaios de palavras e ações que não foram expressas em seu devido tempo, projeções de diálogos e ações futuras sem o menor embasamento racional. Sinto que o pensamento tem vida própria e ressinto-me pela impotência diante do surgimento dos mesmos.

A mente pede constantemente por alguma atividade externa como forma de distração. Para ela, estar parado significa "perca de tempo". Alguns chamam isso de "manter a mente ocupada". Eu já chamo isso de "fuga de si mesmo". Em situações de outrora, muito antes de estar consciente do governo do pensamento sobre a minha vida, o que é que eu fazia? Tratava de arrumar uma justificativa para mudar de lugar os móveis de casa ou do escritório, uma reviravolta total que demandava tempo, energia e concentração em atividades totalmente desnecessárias. Puro desperdício de energia...

Hoje, sento, observo e escrevo o que vi através da observação. Procuro manter um contato consciente com a qualidade da minha natureza interna. Isso não é nada fácil, pois a inquietude e a insatisfação costumam a atrapalhar. Elas pedem por distração, mesmo que seja somente sentando-me diante da loja para observar o movimento dos automóveis e dos pedestres... Mas ela não se contenta com isso: pede pelos cafés na padaria, o sorvete de palito (desses vendidos em carrinho), ou então, fica na expectativa de alguém que chegue para uma boa prosa (de preferência, isenta de superficialidade, pois assim, o tédio é menos estressante). Afinal de contas, de conversas superficiais e não nutritivas, já bastam os monólogos e diálogos da minha própria mente.

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!