Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

12 julho 2007

A cegueira do automatismo

Bem em frente da nossa casa, há um pequeno coqueiro e ao seu lado uma enorme mangueira, onde todas as manhãs, várias maritacas nos brindam com suas algazarras.

Meu vizinho estacionou seu carro do outro lado da rua, bem em frente às referidas árvores. Deteve-se ali por vários minutos, analisando vários papéis que retirava de uma pasta plástica. A seguir, desceu do carro, fechou-lhe a porta e atravessou a avenida às pressas. Quando já ia abrindo o portão de sua casa, sem ao menos me brindar com um bom dia, detive-o por um breve instante. Segurei-o pelo braço direito e pedi para que ficasse de costas para a avenida e que me respondesse quais as duas árvores que se encontram do outro lado, bem em frente a sua casa. Ele timidamente me respondeu:

- Sinceramente? Não sei!

- Há quantos anos você mora nesta casa?

- Desde que nasci: 36 anos... Sei o que você deve estar pensando, mas sabe como é a correria da gente... Não dá para observar nada.

- Sei sim... Tenha um bom dia por dentro e por fora! – Respondi-lhe dando um breve sorriso e um leve tapa nas costas.

Quem sabe observar a essência dos fatos do cotidiano acaba vendo mais longe. É preciso não se conformar com a normalidade do ver, mas sim, buscar pela excelência do olhar. Ver e olhar são práticas totalmente distintas. Percebo que de certo modo, todos estão doentes do olhar. Nossa superficialidade faz com que olhemos a vida somente superficialmente e é justamente isso que nos impede de saborear o âmago de tudo e sem esse saborear, o tudo, perde o seu sentido. Sem a cura do nosso olhar, torna-se impossível descobrir o motivo pelo qual sentimos ter nascido. É preciso rasgar o véu que encobre os olhos do Ser que nos faz ser. Descondicionados nascemos e, pela cura do olhar, descondicionados nos tornamos.


 

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!