Este blog não foi criado para quem já fechou as persianas de sua mente e cuidadosamente as fixou para que nenhum filete de luz de novas idéias penetre e perturbe sua sonolenta e estagnante zona de conforto. Este blog é para os poucos que querem entrar na terra firme da experiência direta por não verem outro caminho mais seguro a tomar.

21 julho 2007

Crise, oportunidade de crescimento

- Bom dia JR!

- Bom dia senhora!

- Lembra-se daqueles cd's com as aulas do curso do Gasparetto que eu havia lhe encomendado no inicio deste mês?

- Sim, o que tem?

- Meu filho entrou no site que você havia me recomendado e os encontrou lá. Achei um pouco caro, pois custam em média R$36,00. É possível comprar pelo site. Obrigado pela dica.

- Ora, senhora, não por isso.

- Tenho aprendido muito com o Gasparetto. Assisto ele todos os dias pela televisão. Não perco um só programa se quer. Para mim é um horário sagrado. Acho ele demais, simplesmente fantástico. Ele tem uma sabedoria incomum.

- Sei!...

- Sempre gostei de fazer terapia, mas tive que parar por que não estava mais encontrando liga entre eu e a psicóloga. Para ser franca, tinhas vezes em que eu sentia como se os nossos papéis estivessem invertidos... Era como se ela fosse a paciente e eu a psicóloga. Era como se ela estivesse fazendo sua própria terapia através da minha história pessoal.

- Quem sabe!... Mas fico feliz por você estar se encontrando através das falas e chavões psicológicos repetidos pelo Gasparetto. Acho que ele é um grande sintetizador de falas, além de possuir o poder da oratória envolvente. Só não sei se ele realmente vivencia em si mesmo tudo aquilo que ele fala, se bem que isso não vem ao caso. Há um dito de um sábio oriental que diz para beber o chá e não se preocupar com as possíveis sujeiras contidas no copo. Se o chá está lhe fazendo bem, então desfrute-o. Só faço votos para que você consiga se libertar o mais breve possível dessa seta que ele representa em seu processo de unicidade interna. Deixe essa seta o mais breve possível antes que ela vire um condicionamento que lhe impeça de chegar ao local para onde ela aponta. Só é possível chegar ao centro de você mesma sem a interferência do mapa de terceiros, uma vez que o seu caminho é único.

- Tenho uma leve consciência disso! Fique tranqüilo. Como hoje não tenho como fazer terapia, procuro fazer dos programas dele o meu horário de terapia particular.

- Você alguma vez experimentou a terapia gratuita dos grupos anônimos de auto-ajuda?

- Não é pelo fator financeiro que não estou podendo fazer terapia... É por causa do meu marido: ele é extremamente ciumento. É uma doença só. Tenho que fazer quase tudo as escondidas. Até da missa de domingo ele tem ciúmes.

- Isso deve causar uma ansiedade e tanto!

- Nem me fale!

- Você gosta de ler?

- Sim!

- Está aberta para sugestões literárias? Conheço algumas "sopas de letrinhas" que talvez possam lhe ser nutritivas...

- Diga lá!

- Sugiro que você leia um livro chamado "codependencia nunca mais". Há outro que aborda a mesma questão, intitulado "Juntos, porém, livres! – Amor sem dependência" São ótimos livros que apontam os nossos mecanismos de participação num relacionamento fechado. Mostram como muitas vezes somos os grandes mantenedores da doença do relacionamento. Por vezes, para evitar que uma crise se estabeleça, acabamos por anular nossa expressão de ação. É importante não criar uma crise desnecessária, mas talvez seja muito mais importante não impedir que uma abençoada crise se estabeleça. A palavra crise, em grego, "Krísis, Kríneim", tem como significados: julgar, examinar, selecionar. A crise é uma verdadeira benção quando é aceita e examinada com boa vontade a mensagem nela contida. Há também um ótimo livro do escritor e teólogo Leonardo Boff, intitulado "Crise: oportunidade de crescimento".

- Sei muito bem o que são as crises... Perdi minha família toda no espaço de quatro anos. Só eu sei o que passei com essas perdas, só eu sei como foi difícil sair do luto e ir a luta.

- Tenho em mente mais um livro para lhe indicar, mas receio que você me leve a mal por causa do seu título...

- Jr! Faça-me o favor... Desembucha...

- "Perdas Necessárias"...

- O título é bem forte mesmo e parece já dizer tudo...

- Não se apegue ao título; ouse conhecer seu conteúdo!

- Obrigado pelas indicações. Bem, agora eu preciso ir embora, pois ainda tenho que passar no mercado e fazer umas comprinhas básicas. Se eu demorar muito é capaz de ele vir atrás de mim, ou então, tenho que passar um final de semana inteiro vendo cara feira e neguinho "pensando alto". Você não faz idéia do quanto que isso é sufocante!

- Ok! Vá em paz e tenha um ótimo final de semana!

- Obrigado e igualmente. Por favor, transmita meu abraço para a senhora sua mãe.

- Será dado!

Por que as pessoas se permitem viver entre as grades frias de um relacionamento fechado?

Por que se mantém em relacionamentos disfuncionais e sem nutrição?

Por que não enterram os relacionamentos com prazo de validade vencido?

Por que permanecem em relacionamentos que não lhes incentivam na busca da "excelência do ser"?

Pode haver uma verdadeira relação onde existe apego, ciúme e controle? Isto é amor?

Pode uma pessoa que se permite ser vitimizada por comportamentos de controle por parte de terceiros, ter amor por si mesma? Sem amor a si mesmo, como ser possível expressar amor pelo outro? Sem o mínimo de amor por si mesmo é possível fazer escolhas sensatas para a própria vida?

E pode-se chamar de vida uma existência de conformismo a este tipo de "prisão" a qual muitos erroneamente chamam de relação?

Talvez, a fala de um grande amigo meu possa servir de resposta para alguma destas questões:

"É melhor um pouquinho de merda, do que merda nenhuma; afinal de contas, dessa merda, o cheiro já nos é conhecido"...


 


 

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Escolho meus amigos pela pupila

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. Deles não quero resposta, quero meu avesso. Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco! Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta. Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou. Pois ao vê-los loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

QUE BOM QUE VOCÊ CHEGOU! JUNTE-SE À NÓS!